São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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"500 ANOS DE ARTE RUSSA"

Mostra no parque Ibirapuera tem 350 obras cedidas por museu de São Petersburgo

Oca expõe visão ocidentalizada soviética

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

A mostra de arte russa é fria. Passeamos pela Oca à temperatura de 19ēC para apreciar um acervo mediano que propõe uma visão ocidentalizada da produção daquele país.
As obras enviadas pelo Museu de Arte Russa de São Petersburgo exigem cuidados constantes de aclimatação. Assim, na entrada uma cortina de ar-condicionado envolve o visitante, remetendo-o às severas condições de vida nas margens do Golfo da Finlândia.
Petersburgo, fundada há 300 anos pela sanguinária dinastia Romanov, simbolizou uma ponte do vasto império com a Europa e o Ocidente. Mantendo essa diretriz czarista, vemos sobreviver uma visão curatorial que tudo mede a partir da dependência de manifestações estrangeiras.
Ícones religiosos dos séculos 15 a 17 abrem a mostra. Em manobra nacionalista, os últimos czares apresentaram tais objetos religiosos como referência para a contemporaneidade na Grande Exposição de 1913.
Contudo, trata-se de uma produção internacionalizada que misturava as antigas famílias icônicas a inovações da narrativa visual difundidas por toda Europa após o século 11. Alguns arquétipos primitivos ainda são visíveis, como na "Mãe de Deus Odiguitria de Smolensk" e no "Salvador Todo Poderoso de Liadini", mas predominam soluções da região da Itália no mesmo período.
Os modernos de então foram atingidos pela campanha romântica dos Romanov. Chagall, Kandinsky, Malievitch e Tatlin flertaram com as imagens pseudoprimitivas. No entanto suas sínteses originais são pouco visíveis. Ao contrário, o segmento das vanguardas enfatiza a adesão periférica a estilos do Ocidente moderno, tais como cubismo, expressionismo, fauvismo, futurismo e primitivismo, apropriados de segunda mão. Excetuam-se "Quadrado Vermelho", de Malievitch (1910), "Contra-Relevo", de Tatlin (1914) e "Passeio", de Chagall (1917-18).
A seção dedicada ao simbolismo comete um equívoco historiográfico, pois as obras expostas são na maioria realistas. Do simbolismo, apenas um "Serafim de Seis Asas", de Vrubel (1904), e o pano de boca dito "Elisium", de Bakst (1906), além de duas pinturas sobre vidro de Kandinsky (1918).
Novo equívoco ocorre no segmento sobre realismo socialista. Misturam-se obras anteriores à doutrina de Zhdanov, que inaugura o realismo socialista em 1934, com obras posteriores a ela, como os cartazes "Mary Pickford no Filme Dois Pretendentes", do construtivista Stenberg, e "Stalin", do neo-acadêmico Victorov.
Três grandes quadros históricos representam a doutrina estética do realismo socialista propriamente dito. Retratam eventos cívicos típicos: "Notáveis do País dos Soviets", de Iefanov (1939), "Parada Esportiva", de Pimenov (1939), e "Hino a Outubro", de Guerassimov (1942).
O conjunto de arte contemporânea mantém a tendência realista que predomina nas seções anteriores, seja na obra de Makarievitch, Iankilievski ou Bulatov.
A exposição apresenta uma Rússia que parece reproduzir à distância modelos cujo sentido histórico lhe escapa, qual o fantasma de Petersburgo sempre a olhar para oeste sentado na borda do grande império asiático.


500 Anos de Arte Russa
   
Onde: Oca (av. Pedro Álvares Cabral, s/ nē, portão 2, parque Ibirapuera, região sul, SP, tel. 0/xx/11/5573-6073)
Quando: de ter. a sex., das 9h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 21h; até 8/9
Quanto: R$ 7 (grátis p/ menores de seis, maiores de 60 anos e deficientes físicos, estudantes e professores pagam meia)



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