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"500 ANOS DE ARTE RUSSA"
Mostra no parque Ibirapuera tem 350 obras cedidas por museu de São Petersburgo
Oca expõe visão ocidentalizada soviética
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
A mostra de arte russa é fria.
Passeamos pela Oca à temperatura de 19ēC para apreciar
um acervo mediano que propõe
uma visão ocidentalizada da produção daquele país.
As obras enviadas pelo Museu
de Arte Russa de São Petersburgo
exigem cuidados constantes de
aclimatação. Assim, na entrada
uma cortina de ar-condicionado
envolve o visitante, remetendo-o
às severas condições de vida nas
margens do Golfo da Finlândia.
Petersburgo, fundada há 300
anos pela sanguinária dinastia
Romanov, simbolizou uma ponte
do vasto império com a Europa e
o Ocidente. Mantendo essa diretriz czarista, vemos sobreviver
uma visão curatorial que tudo
mede a partir da dependência de
manifestações estrangeiras.
Ícones religiosos dos séculos 15
a 17 abrem a mostra. Em manobra
nacionalista, os últimos czares
apresentaram tais objetos religiosos como referência para a contemporaneidade na Grande Exposição de 1913.
Contudo, trata-se de uma produção internacionalizada que
misturava as antigas famílias icônicas a inovações da narrativa visual difundidas por toda Europa
após o século 11. Alguns arquétipos primitivos ainda são visíveis,
como na "Mãe de Deus Odiguitria
de Smolensk" e no "Salvador Todo Poderoso de Liadini", mas predominam soluções da região da
Itália no mesmo período.
Os modernos de então foram
atingidos pela campanha romântica dos Romanov. Chagall, Kandinsky, Malievitch e Tatlin flertaram com as imagens pseudoprimitivas. No entanto suas sínteses
originais são pouco visíveis. Ao
contrário, o segmento das vanguardas enfatiza a adesão periférica a estilos do Ocidente moderno,
tais como cubismo, expressionismo, fauvismo, futurismo e primitivismo, apropriados de segunda
mão. Excetuam-se "Quadrado
Vermelho", de Malievitch (1910),
"Contra-Relevo", de Tatlin (1914)
e "Passeio", de Chagall (1917-18).
A seção dedicada ao simbolismo comete um equívoco historiográfico, pois as obras expostas são
na maioria realistas. Do simbolismo, apenas um "Serafim de Seis
Asas", de Vrubel (1904), e o pano
de boca dito "Elisium", de Bakst
(1906), além de duas pinturas sobre vidro de Kandinsky (1918).
Novo equívoco ocorre no segmento sobre realismo socialista.
Misturam-se obras anteriores à
doutrina de Zhdanov, que inaugura o realismo socialista em
1934, com obras posteriores a ela,
como os cartazes "Mary Pickford
no Filme Dois Pretendentes", do
construtivista Stenberg, e "Stalin", do neo-acadêmico Victorov.
Três grandes quadros históricos
representam a doutrina estética
do realismo socialista propriamente dito. Retratam eventos cívicos típicos: "Notáveis do País
dos Soviets", de Iefanov (1939),
"Parada Esportiva", de Pimenov
(1939), e "Hino a Outubro", de
Guerassimov (1942).
O conjunto de arte contemporânea mantém a tendência realista que predomina nas seções anteriores, seja na obra de Makarievitch, Iankilievski ou Bulatov.
A exposição apresenta uma
Rússia que parece reproduzir à
distância modelos cujo sentido
histórico lhe escapa, qual o fantasma de Petersburgo sempre a olhar
para oeste sentado na borda do
grande império asiático.
500 Anos de Arte Russa
Onde: Oca (av. Pedro Álvares Cabral, s/
nē, portão 2, parque Ibirapuera, região
sul, SP, tel. 0/xx/11/5573-6073)
Quando: de ter. a sex., das 9h às 21h;
sáb. e dom., das 10h às 21h; até 8/9
Quanto: R$ 7 (grátis p/ menores de seis,
maiores de 60 anos e deficientes físicos,
estudantes e professores pagam meia)
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