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Marinês enfrenta os novos
do enviado ao Rio
É caso de ver que às vezes artistas
possuem importância bem maior
que de apenas artistas. Não fosse a
iniciativa de Elba Ramalho, este
disco não existiria. E só existe porque Elba abdicou de seu ego artístico e não se avexou em tributar o
(hoje quase esquecido) manancial
central de seu trabalho. Bravo.
Anexa-se a isso valor político,
pois, se muito se ouve falar de Marinês (artistas da linhagem agreste
da MPB, hoje novamente em voga,
não cansam de render agradecimentos à precursora), muito pouco se ouve de sua música hoje em
dia. Dito isso, "50 Anos de Forró" é
CD de forró para quem gosta de
forró, produzido com todo o luxo.
Vários dos influenciados, e de
várias gerações, estão aqui. Vão de
Genival Lacerda e Antônio Barros
& Cecéu, mais ou menos contemporâneos de Marinês, aos mais ou
menos jovens Lenine e Chico César, passando por Ney Matogrosso
-que fez, em 1982, com "Por Debaixo dos Panos" (de Cecéu), todo
o sucesso que Marinês não fizera
com sua versão, de 1978.
O repertório (mais um sinal de
inteligência do projeto) equilibra
temas bem conhecidos -"Por Debaixo dos Panos", "Lamento Sertanejo" (de Dominguinhos e Gilberto Gil), "Bate Coração" (popularizada por Elba) com outros inéditos, alguns de "novos" artistas.
Do primeiro grupo, destaca-se
"Meu Cariri", clássico agreste de
Rosil Cavalcante ("só deixo meu
Cariri/ no último pau-de-arara"),
num dueto com Zé Ramalho, trovejante e messiânico como nunca.
Do segundo, aparece "Coco da
Mãe do Mar", de Lenine e Siba (do
Mestre Ambrósio), cantada com
Lenine. Sob arranjo moderníssimo
de forró tecnológico, árido e ácido,
deslizam versos engenhosos de
neoforró -"é uma roda de jamanta na banguela/ é mais ou menos
assim o meu amor por ela".
Temas como esse ou "Fulutiado", de Chico César, evidenciam
que um projeto de tal natureza,
ainda que óbvio (parece ser lei que
todo artista semi-esquecido e resgatado terá necessariamente que
engolir um disco cheio de convidados e "sucessos"), pode perfeitamente pouco ou nada guardar de
indulgente e/ou saudosista.
O breve passeio de Marinês pela
nova música nordestina (e também pela velha, mas aí é questão de
cátedra da forrozeira e de produção arretada) prova que, bem acalentada, velhice é coisa que não
existe.
(PAS)
Avaliação:
Disco: 50 Anos de Forró
Com: Marinês & Sua Gente
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média
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