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TV p(r)aga
Problemas da TV por assinatura, que deve crescer 15% neste ano, tendem a explodir com a venda casada de internet e telefonia; consumidor sofre com reprises e abusos
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Impulsionada pela internet
rápida, a TV paga deve crescer
mais de 15% neste ano, recorde
da década. Consequentemente,
os defeitos do serviço também
devem se espalhar como praga.
As dores de cabeça provocadas pela TV paga vão desde o
excesso de comerciais e reprises até a cobrança indevida de
serviços e o mau atendimento
prestado via telefone. A essa lista agora se adicionam os problemas gerados pela digitalização, pela venda de serviços de
telefonia e banda larga e pela
decisão do canal Fox de dublar
toda a sua programação, antes
legendada, e de aportuguesar
títulos de seriados.
Só no primeiro trimestre de
2007, segundo a PTS (empresa
que monitora o setor) o número de assinantes de TV paga subiu 4,7% -o equivalente à projeção mais otimista de crescimento do conjunto da economia do país para todo o ano. No
entanto, o total de reclamações
contra a TV paga só no Procon
de São Paulo aumentou 22%
em relação ao mesmo período
de 2006. Nos três primeiros
meses deste ano, o Procon-SP
recebeu 62 reclamações de TV
paga, oito a mais do que durante todo o ano de 2004.
Na Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações), órgão
que estabeleceu e fiscaliza metas de qualidade para o setor, as
denúncias saltaram de 491 em
janeiro de 2006 para 1.800 em
abril último, um crescimento
assombroso de 267%.
Há que se considerar ainda
que grande parte das chateações da TV paga não chega aos
órgãos de defesa do consumidor. E as mais graves vão diretamente para a Justiça.
O que mais irrita o assinante
é justamente o preço da TV paga, mostra uma pesquisa nacional feita no ano passado pelo
Ibope, sob encomenda da PTS.
Depois vêm a reprise de filmes,
séries e programas, os intervalos comerciais e as constantes
quedas de sinal das operadoras.
Goela abaixo
Esse tipo de reclamação não
chega ao Procon. "O que mais
tem gerado reclamações são os
combos [pacotes com TV, internet e telefone]. Muita gente
contrata telefone e televisão,
mas no local não há condições
técnicas para telefonia e o consumidor não consegue cancelar
a contratação. Em outros casos,
as pessoas contratam os três
serviços, resolvem cancelar um
deles e os preços voltam a ser
integrais", afirma Marcia
Christina Oliveira, técnica do
Procon-SP.
Para o advogado José Eduardo Tavolieri, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-SP, os combos são
impostos "goela abaixo" do
consumidor e caracterizam
venda casada, o que é proibido.
"A única opção para o consumidor é aceitar ou não o serviço
que está sendo ofertado e da
forma como está sendo ofertado. Dificilmente, ele consegue
contratar um serviço único, por
causa dos pacotes, mediante
preços "fantásticos". O consumidor não pode ser compelido,
por causa de um produto, a levar outro, sob pena de não ter
nenhum", diz Tavolieri.
A técnica do Procon orienta o
consumidor a ler atentamente
o contrato antes de autorizar a
instalação. "O contrato tem de
ser bilateral, mas a grande
maioria não é", diz. Outro abuso cometido pelas empresas,
segundo ela, é a cobrança de taxa por boleto bancário.
A partir da leitura de contrato, por exemplo, o consumidor
pode descobrir que seu serviço
de banda larga às vezes fica estreito porque há um limite de
downloads e uploads. Um grupo de internautas, entretanto,
acredita que a Net reduz a velocidade de sua banda larga quando detecta que o usuário faz
download de músicas e de séries, o que pode prejudicar a TV
paga. Há até um vídeo no YouTube protestando. A Net nega.
Na Anatel, a explosão de reclamações foi causada pela digitalização da Net. A operadora
deixou de fora de seu line-up
digital, que tem qualidade superior de imagem e som, os canais obrigatórios, como TV Senado e TVs comunitárias.
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