São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2011

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Mostra no MAM destrincha anos de formação de Candido Portinari

Artista flertou com vários estilos e dialogou com pintores como Modigliani, Manet e Picasso

Retratos mostram como ele experimenta estilos enquanto estudos para murais ilustram sua potência expressionista

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Na figura de sua mulher, Candido Portinari tentou todos os estilos. Experimentou alongar o pescoço, como fazia Modigliani, flertou com a estética metafísica de De Chirico e Picasso no começo da carreira, tornando o rosto em esfinge pétrea, e com o cromatismo preciso de Manet.
Maria aparece nos retratos do pintor, que morreu intoxicado pelas tintas aos 58 anos, em 1962, traduzida a todos os gostos. Serviu de cobaia ao teste das técnicas, que levaria depois ao expressionismo que celebrizou o artista.
De certa forma, as várias versões da mesma mulher dispostas numa parede da sala maior do Museu de Arte Moderna são uma síntese da mostra que começa hoje, tentativa de destrinchar os anos de formação de Portinari.
"Resolvi concentrar em Maria a versatilidade no retrato", resume a curadora, Annateresa Fabris, à Folha.
"Ele tinha primeiro uma concepção próxima do [romântico] Ingres, depois passa a compor o quadro a partir de manchas cromáticas, e não de linhas, tentando captar a psicologia do modelo."
Mais do que um modelo único, Portinari voltou da Europa, onde passou dois anos, disposto a encontrar uma síntese para o Brasil, que encarna com toda a força nas paisagens e cenas prosaicas de sua Brodowski natal.
Uma sala da mostra destaca essas cenas como o ponto em que Portinari passa a flertar com o expressionismo, dissociando as figuras de seus contornos e exacerbando as cores. É também o momento em que nascem seus motivos mais recorrentes.

FRÁGEIS E PODEROSOS
Em "Sapateiro de Brodowski", tela de 1941, ele dá um salto rumo à estética de seus murais que exaltam o negro, o lavrador e os mineradores. "Há uma espécie de dissociação", analisa Fabris. "Ele junta esse tratamento mais frágil do pescoço com esses braços poderosos."
É de olho nesse poder, aliás, que críticos como Mário de Andrade identificaram em "Colonos Carregando Café", de 1935, a relação do artista com o muralismo de pegada social de Diego Rivera.
Mas Portinari, mesmo tendo observado de perto o gestual dos trabalhadores nas minas de Ouro Preto e Mariana para compor os painéis do Ministério da Educação e Saúde, no Rio, não se restringiu à noção de força física.
Seu maior trunfo, algo que aparece depois na igreja São Franciso de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, continuou sendo a força cromática e o traçado sintético de suas figuras. Até hoje, o altar da igrejinha é visto como seu "apogeu expressionista".

CANDIDO PORTINARI

QUANDO de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 11/9
ONDE MAM (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5085-1300)
QUANTO R$ 5,50


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