São Paulo, Quinta-feira, 15 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO
Que fim levou o bom e velho sexo?

SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada

"De Olhos Bem Abertos" chega às telas dos EUA com 65 segundos de sexo "maquiados" para não assustar o espectador norte-americano médio, também conhecido (e tratado) como portador de dois neurônios, debi & lóide.
A primeira pergunta: se Stanley Kubrick estivesse vivo, permitiria mesmo isso, como alardeou o estúdio Warner? (Ele não permitiu em "Laranja Mecânica", de 1971, ainda hoje um dos mais violentos filmes da história.)
Mas a verdadeira questão é: que fim levou o bom e velho sexo? Segundo escreveu Richard Corliss em artigo recente na revista "Time", sexo e violência estão tão intimamente ligados nos sermões dos puritanos gringos como Sodoma e Gomorra -mas só da boca para fora.
Na hora de influenciar a mais poderosa indústria de cinema do mundo, a liga das senhoras católicas, que é a MPAA, retalha furibunda tudo o que for nudez, transa, fuque-fuque e nheco-nheco e deixa passar incólumes assassinato, mutilação, extermínio.
Quer dizer, pode-se assistir sem problemas a Keanu Reeves matar cem pessoas de diversas maneiras no ótimo "Matrix" -o mesmo não seria verdade se ele transasse com cem mulheres (ou homens) no mesmo filme. É mole?
Não fosse por recentes e isolados europeus (o francês "Romance", o dinamarquês "Os Idiotas"), que lançaram mão de sexo explícito como forma de arte, ou o brazuca "Um Copo de Cólera", o espectador adulto estaria na mão.
Última pergunta, aquela que não quer calar: se pudesse escolher, você, caro leitor, preferiria assistir a 65 segundos de sexo filmados por um dos maiores talentos do cinema mundial ou ouvir com riqueza de detalhes como o presidente Bill Clinton usava seu charuto no Salão Oval?


Texto Anterior: Filme de Kubrick reabre debate sobre censura
Próximo Texto: Filme pode chegar ao país com 65 segundos modificados
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.