São Paulo, Quinta-feira, 15 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO
Artista cantou ciranda na primeira apresentação do espetáculo "Pernambuco" no Festival de Avignon
Nóbrega tira franceses para dançar

France Presse - 12.jul.99
Antonio Nóbrega e Rosane Almeida no espetáculo "Pernambuco", apresentado em Avignon


HAROLDO CERAVOLO SEREZA
enviado especial a Avignon

Na primeira apresentação de Antonio Nóbrega em Avignon, anteontem à noite, o brasileiro tirou os franceses para dançar.
Após se despedir do público, Nóbrega, ainda sob aplausos, voltou ao palco e iniciou uma ciranda. Alguns espectadores, que já deixavam a platéia, se surpreenderam, pararam, mas acabaram, na sua maioria, voltando.
Nóbrega, então, desceu do palco, foi ao espaço que fica entre ele e a platéia e cantou uma ciranda em homenagem a Iemanjá.
"Foi um desafio de um dos diretores de Avignon. Ele me disse: "Você pode tudo, menos tirar um francês para dançar". Consegui", afirmou ele ontem.
Nóbrega passou a convidar os franceses a participar da dança, e a roda foi crescendo, até que mais de 50 pessoas a integrassem. A brincadeira que encerrou o espetáculo durou cerca de dez minutos. Nóbrega mudou várias vezes o ritmo da música, tocando em ritmo de frevo e de marchinha de Carnaval.
"É alegre e quente. Pena que terminou, ficaria aqui muito mais tempo", disse Céline Petelet, 32, suada, encostada no palco, quando os artistas já haviam deixado o palco definitivamente.
O show aconteceu na Carrière de Boulbon, uma antiga pedreira. O lugar fica a 17 km do centro de Avignon. As encostas do morro que ficavam atrás do palco foram utilizadas na iluminação do espetáculo. Uma Lua, ladeada por estrelas, foi ali projetada.
Nóbrega faz um total de 12 apresentações de "Pernambouc" (nome em francês) na Carrière, neste festival de Avignon. A última acontece no dia 26 de julho. "Até lá, o show tem muito a melhorar, especialmente no meu francês", brincou ele.
Foram pouco mais de duas horas de um show "didático", excessivamente, em vários momentos. Nóbrega, em francês, começou dizendo que "Pernambuco era o nome de um dos Estados brasileiros mais reconhecidos por sua cultura popular".
Em seguida, buscou explicar as origens das músicas que cantava e das histórias que contava, tocava ou dançava. Combinou com a platéia que ela podia, tossindo, pedir que ele parasse com as explicações. Na vez em que isso aconteceu, no entanto, pediu para continuar e continuou.
O ponto máximo desse didatismo aconteceu quando o compositor contou a origem do frevo.
A dança tem origem em Pernambuco a partir dos desafios de capoeira, "arte marcial brasileira por excelência", explicou. Nóbrega, acompanhado de uma fanfarra, jogou capoeira e depois dançou frevo, para ilustrar as semelhanças entre os movimentos.
"Pernambouc" foi uma encomenda do Festival de Avignon, para integrar o ciclo "Ao Sul da América", dedicado a Argentina, Brasil e Chile.
No dia 18, a Companhia Circo Branco estréia no festival seu "Auto da Paixão", apresentado em São Paulo há cinco anos.
O grupo paulista "Caixa de Imagens" completa o time de representantes brasileiros, apresentando miniespetáculos individuais de cerca de três minutos, com bonecos. Suas minipeças são um sucesso entre os franceses.


Texto Anterior: Curtas poderão ser vistos em São Paulo
Próximo Texto: Artista não se considera "popular"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.