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Francês é "tarado" por Nelson Rodrigues
do enviado especial
Alain Ollivier, diretor de "Toute
Nudité Sera Châtiée" ("Toda Nudez Será Castigada"), é quase um
"tarado" por Nelson Rodrigues.
Está na sua terceira montagem. Já
fez "Valsa nº 6" e "Anjo Negro" e
compara o brasileiro aos grandes
autores da segunda metade do século: Ionesco e Samuel Beckett.
Sua "Toda Nudez" tem o grande mérito de apresentar uma leitura de Nelson Rodrigues que foi
enfraquecida no Brasil, em parte
pela personalidade do autor, em
parte pela "leitura à TV Pirata"
que se tornou corrente nos últimos anos.
Também ajudou a suprir a falta
de "teatro-teatro" brasileiro num
festival que, pretendendo mostrar
a produção sul-americana, trouxe
sete companhias argentinas contra apenas três brasileiras, todas
ligadas a uma tradição popular, e
só uma chilena.
"Toda Nudez" começa com o
suicídio de Geni, uma ex-prostituta, casada com Herculano. Geni
deixa uma fita gravada, em que
conta ao marido sua relação com
Serginho, filho do primeiro casamento de Herculano.
Seriedade
Ollivier dá ao triângulo amoroso uma leitura tensa, pouco irônica, contemporânea (os personagens usam telefones celulares),
dissociada do sotaque carioca que
"colou" em Nelson Rodrigues no
Brasil.
Os atores estão bem, mas poderiam melhorar, ganhando entrosamento, se a peça fosse ficar mais
tempo em cartaz -o que não vai
acontecer: além do curto período
na periferia de Paris, no Studio-Théâtre de Vitry, apenas a apresentação de Avignon está prevista.
"Rodrigues é bem-humorado,
mas não anedótico", disse ele,
acompanhado de Ângela Leite
Lopes, professora da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio, que
traduziu "Toda Nudez Será Castigada" e "Valsa nº 6" para o francês. Ollivier leva Nelson Rodrigues a sério, embora faça o público rir, em algumas cenas.
"Ao contrário do que pensa boa
parte da intelligentsia francesa, o
Brasil é muito mais europeu do
que se imagina", diz ele.
E é essa visão séria que Ollivier
tem de Nelson Rodrigues que o
mantém próximo de Ângela, com
quem já trabalhou nas outras
montagens. "Não é porque somos
brasileiros que entendemos melhor Nelson Rodrigues que os outros", acredita ela.
Entre os pontos sérios que Ollivier vê em Nelson Rodrigues, está
a preocupação com o corpo, "um
problema para a psicanálise moderna". Geni acredita que vai
morrer como a mulher de Herculano, vítima de um câncer no seio,
que nunca aparece de fato.
Ollivier diz que o governo brasileiro faz pouco esforço para que
os grandes autores da literatura e
do teatro brasileiros sejam reconhecidos no exterior.
"É uma responsabilidade do Estado brasileiro. Falei de Guimarães Rosa numa entrevista à televisão francesa e ninguém sabia
quem era." Na mesma entrevista,
Leite Lopes teve de responder à
pergunta inevitável: "Nelson Rodrigues é o Brasil, isso é o Brasil?".
(HCS)
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