São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2001

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CINEMA

Diretor trash exibe seu filme mais recente, "Tortura Selvagem - A Grade", em que atua a filha de Joaquim Roriz

Afonso Brazza chega ao circuito comercial no DF

MARCELO BARTOLOMEI
DA FOLHA ONLINE

Depois de 20 anos de trabalho independente com o cinema trash em Brasília (DF), o bombeiro Afonso Brazza, 47, ganha uma oportunidade para mostrar seu trabalho a um público maior, antes restrito apenas a circuitos alternativos.
Estréia nesta sexta-feira, dia 17, em duas salas comerciais de Brasília o filme "Tortura Selvagem -°A Grade", a mais nova produção trash e barata do cineasta, que traz no elenco personalidades como José Mojica Marins, o Zé do Caixão, os músicos Rodolfo e Digão (ex e atual Raimundos, respectivamente), o deputado Ricardo Noronha (PMDB) e Liliane Roriz, filha do governador do DF, Joaquim Roriz (PMDB).
Brazza é conhecido do público brasiliense por suas produções que, de tão ruins, ficam engraçadas. Ele nunca segue um roteiro, usa duas câmeras de 35 milímetros adquiridas com recursos próprios, dubla todas as vozes e, geralmente, vive do apoio de empresas locais e da participação gratuita de amigos para filmar nas ruas.
Sua chance, agora, está nas mãos da distribuidora Polifilmes, de São Paulo, que negociou com a rede Cinemark a exibição de "A Grade" em salas de Brasília, São Paulo e Rio.
"Conheço o Brazza e vi que o filme tem um certo potencial e vai atingir um público maior, sair de Brasília", afirma o diretor comercial da Polifilmes, Luiz Câmara, 44, que investiu R$ 10 mil na confecção de duas cópias, de cartazes e trailers de "A Grade", orçado em R$ 200 mil.
De acordo com a experiência em Brasília, o filme pode ganhar maior projeção no país.
Com dinheiro do próprio bolso, Brazza já fez sete filmes, todos seguindo a mesma estética, de um bangue-bangue recheado de armas, violência, mulheres e estereótipos de mocinho e bandido. "Trabalho com ação e pancadaria, mas sou da paz, não uso arma e não gosto de violência", diz o bombeiro, há 21 anos soldado da corporação com um salário de R$ 1.200, quantia com a qual sustenta a mulher e a filha de 17 anos.
Conhecido como "Rambo do cerrado", fã de Stallone e leitor da Bíblia, Brazza é um "faz-tudo": cria, filma, atua e edita.

Pouco dinheiro
Um filme como "Memórias Póstumas", que ganhou cinco prêmios no Festival de Gramado, custa R$ 4,5 milhões. O dinheiro usado por Brazza em suas produções de cinema trash são muito inferiores. "Tortura Selvagem - A Grade" teve apoio do Pólo de Cinema de Brasília e custou R$ 200 mil -foi o filme mais caro da história do cineasta.
Seu primeiro filme, "O Matador de Escravos" (82), custou R$ 8.000. "Com isso não se compra nem o negativo", diz. Depois vieram ainda "Os Navarros" (84), "Santhion Nunca Morre" (88), "Inferno no Gama" (93), "Gringo Não Perdoa, Mata" (95) e "No Eixo da Morte" (97/98), todos realizados com menos de R$ 100 mil.
Para estar nas produções do bombeiro, que honra a farda em todos os locais públicos em que aparece para divulgar seus filmes, não é necessário ter formação artística.
Sua mulher, Claudete Joubert, fez pornochanchada nos anos 70 e hoje é a estrela dos longas, cuja maioria vai parar nas estantes das locadoras de Brasília depois de exibidos no cinema.

Filha de Roriz
Sua mais recente investida traz no elenco Liliane Roriz, 35, filha do governador do DF, Joaquim Roriz. "Não sou atriz, mas ele me convidou para participar. Ele é muito humilde, carismático, e a gente acaba aprendendo com ele, que é uma pessoa batalhadora", diz a socialite, que rejeita o rótulo, trabalha como secretária-executiva de uma ONG em Brasília e mantém um programa semanal de variedades em uma TV a cabo da cidade.
"Ele é discriminado ainda porque é pobre, passa dificuldades e sobrevive com o salário de bombeiro", afirma Liliane. "Com minha participação, quero tentar quebrar isso, pois as pessoas estão curiosas para ver o que deu essa história."



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