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CINEMA
Diretor trash exibe seu filme mais recente, "Tortura Selvagem - A Grade", em que atua a filha de Joaquim Roriz
Afonso Brazza chega ao circuito comercial no DF
MARCELO BARTOLOMEI
DA FOLHA ONLINE
Depois de 20 anos de trabalho
independente com o cinema trash
em Brasília (DF), o bombeiro
Afonso Brazza, 47, ganha uma
oportunidade para mostrar seu
trabalho a um público maior, antes restrito apenas a circuitos alternativos.
Estréia nesta sexta-feira, dia 17,
em duas salas comerciais de Brasília o filme "Tortura Selvagem
-°A Grade", a mais nova produção
trash e barata do cineasta, que
traz no elenco personalidades como José Mojica Marins, o Zé do
Caixão, os músicos Rodolfo e Digão (ex e atual Raimundos, respectivamente), o deputado Ricardo Noronha (PMDB) e Liliane
Roriz, filha do governador do DF,
Joaquim Roriz (PMDB).
Brazza é conhecido do público
brasiliense por suas produções
que, de tão ruins, ficam engraçadas. Ele nunca segue um roteiro,
usa duas câmeras de 35 milímetros adquiridas com recursos próprios, dubla todas as vozes e, geralmente, vive do apoio de empresas locais e da participação
gratuita de amigos para filmar nas
ruas.
Sua chance, agora, está nas
mãos da distribuidora Polifilmes,
de São Paulo, que negociou com a
rede Cinemark a exibição de "A
Grade" em salas de Brasília, São
Paulo e Rio.
"Conheço o Brazza e vi que o filme tem um certo potencial e vai
atingir um público maior, sair de
Brasília", afirma o diretor comercial da Polifilmes, Luiz Câmara,
44, que investiu R$ 10 mil na confecção de duas cópias, de cartazes
e trailers de "A Grade", orçado em
R$ 200 mil.
De acordo com a experiência
em Brasília, o filme pode ganhar
maior projeção no país.
Com dinheiro do próprio bolso,
Brazza já fez sete filmes, todos seguindo a mesma estética, de um
bangue-bangue recheado de armas, violência, mulheres e estereótipos de mocinho e bandido.
"Trabalho com ação e pancadaria, mas sou da paz, não uso arma
e não gosto de violência", diz o
bombeiro, há 21 anos soldado da
corporação com um salário de R$
1.200, quantia com a qual sustenta
a mulher e a filha de 17 anos.
Conhecido como "Rambo do
cerrado", fã de Stallone e leitor da
Bíblia, Brazza é um "faz-tudo":
cria, filma, atua e edita.
Pouco dinheiro
Um filme como "Memórias
Póstumas", que ganhou cinco
prêmios no Festival de Gramado,
custa R$ 4,5 milhões. O dinheiro
usado por Brazza em suas produções de cinema trash são muito
inferiores. "Tortura Selvagem - A
Grade" teve apoio do Pólo de Cinema de Brasília e custou R$ 200
mil -foi o filme mais caro da história do cineasta.
Seu primeiro filme, "O Matador
de Escravos" (82), custou R$
8.000. "Com isso não se compra
nem o negativo", diz. Depois vieram ainda "Os Navarros" (84),
"Santhion Nunca Morre" (88),
"Inferno no Gama" (93), "Gringo
Não Perdoa, Mata" (95) e "No Eixo da Morte" (97/98), todos realizados com menos de R$ 100 mil.
Para estar nas produções do
bombeiro, que honra a farda em
todos os locais públicos em que
aparece para divulgar seus filmes,
não é necessário ter formação artística.
Sua mulher, Claudete Joubert,
fez pornochanchada nos anos 70 e
hoje é a estrela dos longas, cuja
maioria vai parar nas estantes das
locadoras de Brasília depois de
exibidos no cinema.
Filha de Roriz
Sua mais recente investida traz
no elenco Liliane Roriz, 35, filha
do governador do DF, Joaquim
Roriz. "Não sou atriz, mas ele me
convidou para participar. Ele é
muito humilde, carismático, e a
gente acaba aprendendo com ele,
que é uma pessoa batalhadora",
diz a socialite, que rejeita o rótulo,
trabalha como secretária-executiva de uma ONG em Brasília e
mantém um programa semanal
de variedades em uma TV a cabo
da cidade.
"Ele é discriminado ainda porque é pobre, passa dificuldades e
sobrevive com o salário de bombeiro", afirma Liliane. "Com minha participação, quero tentar
quebrar isso, pois as pessoas estão
curiosas para ver o que deu essa
história."
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