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TEATRO
Violência atual direcionou nova montagem de "Ópera do Malandro", que estréia amanhã no teatro Carlos Gomes
"O malandro clássico se retirou", diz diretor
DO ENVIADO AO RIO
Se na década de 70, quando a
peça foi montada pela primeira
vez, o malandro clássico era um
ser recentemente extinto, hoje ele
pertence a passado remoto.
Em vez de estar nas ruas e nos
becos controlando o contrabando
e o movimento dos bordéis, "os
criminosos ordenam assassinatos
de dentro de presídios de segurança máxima. São eles que mandam na cidade, pelo menos no
Rio de Janeiro", afirma o diretor
de texto da peça Charles Möeller.
"Hoje, o proletário chegou ao
poder, ainda que vestindo Armani. Por isso, minha peça não fala
mais sobre o lúmpen, as prostitutas, mas sim de outro tipo de exercício do poder. O malandro clássico se retirou, e o Max Overseas, o
malandro da minha peça, morre
em cena com três tiros no peito."
Apesar da notável ausência,
Chico Buarque está obviamente
presente nos detalhes. Detalhes
que são o todo, na verdade: música e texto que traçam um painel
social forte, envolvente. Como é
lidar com esse universo de maneira a cativar o público durante
duas horas e 50 minutos?
Para Möeller, o peso da presença-ausência do autor de "Homenagem ao Malandro", "Geni e o
Zepelim", "Pedaço" de Mim", "O
Meu Amor", "Terezinha" e "Folhetim" (todas na peça) tem uma
vantagem e uma desvantagem.
"A vantagem é que o público vai
cantar junto. A desvantagem é
que todo mundo sabe um pouco,
mas vai ver pela primeira vez texto e músicas num só conjunto."
Como afirma Botelho, 38, "o
maior desafio é mesmo convencer o espectador de que aquela
Geni, sua velha conhecida de tanto ouvir tocar no rádio "atira bosta
na Geni", é parte de um contexto,
tem um entorno dramático. A
gente está lidando com músicas
que ganharam vida depois da primeira montagem, fora do palco."
De qualquer maneira, a ênfase é
mesmo no canto. "Não se trata de
uma peça com atores que cantam,
mas sim com 20 atores que também são cantores", diz Botelho.
De fato, dos casais principais, o
mais jovem tem Soraya Ravenle
(que já viveu Dolores Duran e
Carmem Miranda no palco) e
Alexandre Schumacher, escolhido numa seleção específica para
cantores, e o mais velho traz a
cantora Lucinha Lins e o veterano
Mauro Mendonça, este exibindo
convincentes dotes vocais. Outra
atriz, Alessandra Maestrini já está
sendo considerada revelação nesta área.
(LUIZ CAVERSAN)
"ÓPERA DO MALANDRO" - de: Chico
Buarque de Hollanda. Teatro Carlos
Gomes (pça. Tiradentes, s/nš, Centro, Rio,
tel. 0/xx/21/2232-8701). Qui. e sex. às
19h, sáb. às 21h e dom. às 18h. Estréia
amanhã. Ingressos R$ 15 e R$ 7,50.
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