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THE KILLS
Dupla roqueira cria ambiente que celebra universo da pop art
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem esperava ver um
show de rock na apresentação do Kills, no primeiro dia do
Campari Rock, foi ao lugar errado. Não que não houvesse boa
música por ali, mas esta servia como um acessório. A questão toda
tinha mais a ver com os filmes de
Andy Warhol (1928-87).
No palco, apenas duas figuras
esguias e magras em preto-e-branco que imitam os personagens urbanos e algo decadentes
das produções em preto-e-branco
do ícone pop. Ela, VV, uma mistura entre a postura largada de
Patti Smith e o glamour de PJ
Harvey, descabela-se, simula dramaticidade, grita. Ele, Hotel, olha
fixamente para um ponto à frente,
como se houvesse uma câmera,
dança uma versão roqueira e lateral para o "moonwalk", o passo
celebrizado por Michael Jackson,
e finge espasmos. Faz de conta
que sua guitarra é uma espingarda e finge tiros, concessão à obviedade roqueira para uma banda
que tem matança no nome. Em "I
Hate the Way You Love", a dupla
canta frente à frente, imitando
uma paranóica discussão de relação. Há quem veja muita encenação para pouca música. Ao contrário, ao vivo, o Kills dá sentido a
músicas que, em estúdio, carecem
de tensão.
Em princípio e durante a maior
parte do show, a platéia também
não se comporta como uma audiência de rock. Permanece impassível, como se fosse a cena
clássica de "Depois Daquele Beijo", de Antonioni. Indiferença?
Não, a questão era imitar a postura da banda e ser blasé. Foi o momento mais cheio da noite.
Nesse circo minimalista, em que
apenas guitarra e bateria pré-gravada acompanham os vocais, o
Kills encenou a paixão por Warhol -e tudo o que ele representa.
Na Fábrica da Lapa, que tentou
ser a Factory (o estúdio do artista), a pop art, no seu sentido mais
superficial e absorvido entre os
modernos de São Paulo (diga-se
postura "cool"), teve o Kills como
catalisador. (BRUNO YUTAKA SAITO)
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