São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2005

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THE KILLS

Dupla roqueira cria ambiente que celebra universo da pop art

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem esperava ver um show de rock na apresentação do Kills, no primeiro dia do Campari Rock, foi ao lugar errado. Não que não houvesse boa música por ali, mas esta servia como um acessório. A questão toda tinha mais a ver com os filmes de Andy Warhol (1928-87).
No palco, apenas duas figuras esguias e magras em preto-e-branco que imitam os personagens urbanos e algo decadentes das produções em preto-e-branco do ícone pop. Ela, VV, uma mistura entre a postura largada de Patti Smith e o glamour de PJ Harvey, descabela-se, simula dramaticidade, grita. Ele, Hotel, olha fixamente para um ponto à frente, como se houvesse uma câmera, dança uma versão roqueira e lateral para o "moonwalk", o passo celebrizado por Michael Jackson, e finge espasmos. Faz de conta que sua guitarra é uma espingarda e finge tiros, concessão à obviedade roqueira para uma banda que tem matança no nome. Em "I Hate the Way You Love", a dupla canta frente à frente, imitando uma paranóica discussão de relação. Há quem veja muita encenação para pouca música. Ao contrário, ao vivo, o Kills dá sentido a músicas que, em estúdio, carecem de tensão.
Em princípio e durante a maior parte do show, a platéia também não se comporta como uma audiência de rock. Permanece impassível, como se fosse a cena clássica de "Depois Daquele Beijo", de Antonioni. Indiferença? Não, a questão era imitar a postura da banda e ser blasé. Foi o momento mais cheio da noite.
Nesse circo minimalista, em que apenas guitarra e bateria pré-gravada acompanham os vocais, o Kills encenou a paixão por Warhol -e tudo o que ele representa. Na Fábrica da Lapa, que tentou ser a Factory (o estúdio do artista), a pop art, no seu sentido mais superficial e absorvido entre os modernos de São Paulo (diga-se postura "cool"), teve o Kills como catalisador. (BRUNO YUTAKA SAITO)


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