São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2000

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MUNDO GOURMET
Cannelle chega bafejado por ares internacionais

JOSIMAR MELO

COLUNISTA DA FOLHA

O restaurante Cannelle abre as portas bafejado por ares internacionais. Eles se manifestam na base francesa, no cardápio moderno, na apresentação sofisticada dos pratos e também, paradoxalmente, no uso de ingredientes brasileiros -já que são os franceses os que mais investem nos legumes e frutas daqui.
Mas o Cannelle tem um chef-proprietário brasileiro, Rosny Gerdes Filho, de 37 anos. Nascido em Piracicaba (SP), ele era executivo numa multinacional. Em 1998, decidiu realizar sua vocação e trocou o emprego por um curso completo de culinária na Le Cordon Bleu de Paris.
Na volta, trabalhou com Alex Atala até abrir sua casa, para a qual convidou também, como confeiteiro, o chef pâtissier americano Morgan Wilson, 27 anos, que ele conheceu na França. Ele então montou o restaurante numa casa bem adaptada, acolhedora, onde se come à meia-luz (mas não no escuro) -por enquanto só no jantar.
Entre a intenção e o gesto pode ir uma longa distância; no Cannelle ela existe, mas não tão grande. A proposta de uma cozinha moderna e inventiva é louvável, mas difícil. O interessante é que desde já o restaurante oferece pratos executados com capricho. Em muitos, o resultado é notável, em outros, ambíguo ou sofrível.
Os cremosos bolinhos de mandioca do couvert são ótimas boas-vindas. O nem de acelga e siri ao chutney de abacaxi é um mistério -por que a massa filo que envolve o gostoso recheio é tão grossa (se o bom dela é ser fina...)? O foie gras grelhado dissolve na boca, combina bem com o figo, mas não se entende com o grosso abacaxi. O cordeiro é suculento, bem escoltado pelo risoto de alho-poró e radicchio; o confit de pato merecia ter a pele crocante, e o cuscuz de laranja e frutas poderia ser mais sutil. Bem como a genoise de mandioca poderia ser mais úmida. Em compensação, a carta de vinhos não nos deixa na mão.


Cotação: $$$°Avaliação:  

Restaurante: Cannelle (r. Araçari, 266, Itaim Bibi; tel. 0/xx/11/3842-3433) Horário: de segunda a quinta, das 19h à 0h; sábado, das 19h à 1h Ambiente: com ares de casa, em agradável meia-luz Serviço: simpático, correto Cozinha: francesa contemporânea Quanto: entradas, de R$ 10 a R$ 25; pratos principais, de R$ 15 a R$ 30; sobremesas, de R$ 9 a R$ 12



$ (até R$ 22); $$ (de R$ 22,01 a R$ 42); $$$ (de R$ 42,01 a R$ 62); $$$$ (acima de R$ 62). Avaliação: excelente    ; ótimo   ; bom  ; regular (sem estrela); ruim  


BOTECO CHIQUE
Espírito Santo surpreende na rabanada
O Espírito Santo é, na verdade, um bar -mais um exemplar daqueles simpáticos botecos chiques que imitam os deliciosos botecos fuleiros do Rio de Janeiro. Mas, além de bar, ali também se pode comer, inclusive, comida baiana. Não o acarajé, que é ressecado e sem graça; mas a moqueca é honesta; e a rabanada, como sobremesa, é de uma surpreendente qualidade. Fica na rua Horácio Lafer, 634, no Itaim.

BOTECO MESMO
Onde achar rãs à meia-noite
E falando na rua Horácio Lafer e em botecos (mas agora não chiques), quem seguir pela própria rua em direção ao Itaim (e a mão de trânsito) vai se deparar, como última casa da rua, à direita, com o bar ZG (que vêm a ser as iniciais do antigo proprietário, dito Zé Gordo). Lá dentro, uma placa avisa: rãs por apenas R$ 4. A porção tem dois batráquios empanados, que, se não são um primor de cozinha, podem ser um alívio tarde da noite. Sim, em Paris as rãs são melhores, mas como encontrar um boteco para comê-las à meia-noite? São Paulo tem. E não é só o Parreirinha (que não é boteco, mas fecha ainda mais tarde).


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