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TEATRO
Formado em 91, Parlapatões, Patifes e Paspalhões comemora dez anos com peça, que estréia hoje para convidados
"Pantagruel" é presente de aniversário
LUCIANA PAREJA
DA REDAÇÃO
Dez anos em estado de graça, literalmente; assim pode ser definida a trajetória do grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões, que comemora seu décimo aniversário
este ano. Trabalhando a comédia
para abordar uma visão humanista, por meio de técnicas de circo e
pesquisa de linguagem, o grupo
estréia às 21h -hoje, para convidados, e amanhã, para o público
em geral- "Pantagruel", resultado final do projeto homônimo sobre a obra do renascentista François Rabelais (1494-1553).
Criado em 91 por Hugo Possolo
e Alexandre Roit, ambos cursando a Escola Livre de Circo, em
Santo André, o grupo começou
com apresentações de rua. "Eu e o
Hugo conversávamos, durante o
longo trajeto de volta de Santo
André, e descobrimos aflições comuns. Então, por fazermos escola
de circo, começamos a criar,
usando técnicas como perna-de-pau e malabarismos. Estreamos
na praça da República", diz Roit.
"Mas tenho uma aversão a rótulos. Não gosto de dizer que nossas
peças são para criança, para adulto, de circo. Em teatro, só uma palavra interessa: comunicação. Os
recursos utilizados não importam. Nossos espetáculos são diferentes um do outro, o que eles
têm em comum são o processo de
trabalho, o relacionamento com a
platéia", define.
Raul Barreto, o terceiro integrante fixo dos Parlapatões, que
entrou dois anos depois, acrescenta: "Nossas peças têm sempre
um dado cômico, um traço do circo, do improviso, mas plasticamente não têm uma cara única".
Hugo Possolo finaliza: "Fazemos pesquisa em comédia. As
pessoas se assustam, achando um
paradoxo fazer pesquisa (tida como chata) e comédia (tida como
superficial) ao mesmo tempo.
Através do nosso trabalho, mostramos que é possível fazer da
pesquisa algo divertido, aprofundando a temática da comédia".
"Pantagruel" chega não só para
consolidar todo o processo do
grupo até então, mas para unificar
um projeto iniciado em 99. "Queríamos uma pesquisa que desse
um olhar bem-humorado sobre o
milênio, e muita gente sugeriu
"Pantagruel". Peguei os seis temas
que [Mikhail" Bakhtin [estudioso
russo" dizia que o texto abordava:
escatologia, sexo, adultério, fome,
iconoclastia, religião, tempo.
Convidei o Mário Viana e o Avelino Alves, e fizemos cinco textos
["Poemas Fesceninos", "Mistérios
Gulosos", "Os Mané", "Um Chopes,
Dois Pastel e uma Porção de Bobagem", "Água Fora da Bacia'"",
conta Hugo Possolo, 39, diretor e
um dos autores da peça, ao lado
de Mário Viana, 41.
"Essas montagens foram a pesquisa. Ao invés de fazermos aquela picaretagem chamada work in
progress, mostramos ao público a
nossa pesquisa. A gente pôde experimentar a parte visual com a
Luciana Bueno nos cenários e figurinos, e a parte musical com o
maestro Abel Rocha, além da parte dramatúrgica", diz Possolo.
"Depois de um ano e pouco, eu
e o Mário dissemos: "Agora tá na
hora de a gente escrever a peça". E
aproveitamos para, com a montagem, comemorar o aniversário do
grupo", explica o diretor.
Pantagruel é um gigante, príncipe-herdeiro do reino de Utopia.
Após a invasão de sua terra pelo
exército racionalista da Sorbonne,
vê-se obrigado a empreender
uma viagem em busca de um modo de reaver seu país. Para isso,
tem de encontrar a ilha da Quintessência e, lá, a Divina Botelha,
para adquirir a fórmula da sabedoria. Mas é no percurso que ele
aprende com os acontecimentos.
Como define Possolo, "hoje a alma virou produto. Com o texto,
queremos recuperar o sentido da
visão humana, por meio do bom
humor". A montagem continua
trazendo os mesmo elementos característicos do grupo -as piadas
escancaradas, a liberdade de vocabulário, o improviso- e algumas engenhosidades vindas da
pesquisa: música ao vivo, bonecos
de espuma que perdem a cabeça,
composição cenográfica com tecidos costurados e tingidos e um
Pantagruel que, para ser gigante,
nada mais é que um enorme boneco carregado por seu intérprete, Raul Barreto.
"No começo da peça, o boneco
pesa quatro, cinco quilos, mas depois de uma hora parece um saco
de cimento. Os meus 42 anos vão
sentir", diz o ator.
Além da trupe, o elenco traz
Claudinei Brandão (que integrou
todas as montagens do projeto
Pantagruel), Henrique Stroeter,
Rui Minharro, Paula Arruda e Pedro Guilherme.
PANTAGRUEL - Texto: Hugo Possolo e
Mário Viana. Direção: Hugo Possolo.
Com: Parlapatões. Onde: Sesc Anchieta
(r. Dr. Vila Nova, 245, SP, tel. 0/xx/11/256-2281). Quando: estréia para
convidados hoje, às 21h; amanhã e sáb.,
às 21h; dom., às 20h. Até 27/1. Quanto:
R$ 20. Patrocinador: Sesc-SP.
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