São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2001

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TEATRO

Formado em 91, Parlapatões, Patifes e Paspalhões comemora dez anos com peça, que estréia hoje para convidados

"Pantagruel" é presente de aniversário

LUCIANA PAREJA
DA REDAÇÃO

Dez anos em estado de graça, literalmente; assim pode ser definida a trajetória do grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões, que comemora seu décimo aniversário este ano. Trabalhando a comédia para abordar uma visão humanista, por meio de técnicas de circo e pesquisa de linguagem, o grupo estréia às 21h -hoje, para convidados, e amanhã, para o público em geral- "Pantagruel", resultado final do projeto homônimo sobre a obra do renascentista François Rabelais (1494-1553).
Criado em 91 por Hugo Possolo e Alexandre Roit, ambos cursando a Escola Livre de Circo, em Santo André, o grupo começou com apresentações de rua. "Eu e o Hugo conversávamos, durante o longo trajeto de volta de Santo André, e descobrimos aflições comuns. Então, por fazermos escola de circo, começamos a criar, usando técnicas como perna-de-pau e malabarismos. Estreamos na praça da República", diz Roit.
"Mas tenho uma aversão a rótulos. Não gosto de dizer que nossas peças são para criança, para adulto, de circo. Em teatro, só uma palavra interessa: comunicação. Os recursos utilizados não importam. Nossos espetáculos são diferentes um do outro, o que eles têm em comum são o processo de trabalho, o relacionamento com a platéia", define.
Raul Barreto, o terceiro integrante fixo dos Parlapatões, que entrou dois anos depois, acrescenta: "Nossas peças têm sempre um dado cômico, um traço do circo, do improviso, mas plasticamente não têm uma cara única".
Hugo Possolo finaliza: "Fazemos pesquisa em comédia. As pessoas se assustam, achando um paradoxo fazer pesquisa (tida como chata) e comédia (tida como superficial) ao mesmo tempo. Através do nosso trabalho, mostramos que é possível fazer da pesquisa algo divertido, aprofundando a temática da comédia".
"Pantagruel" chega não só para consolidar todo o processo do grupo até então, mas para unificar um projeto iniciado em 99. "Queríamos uma pesquisa que desse um olhar bem-humorado sobre o milênio, e muita gente sugeriu "Pantagruel". Peguei os seis temas que [Mikhail" Bakhtin [estudioso russo" dizia que o texto abordava: escatologia, sexo, adultério, fome, iconoclastia, religião, tempo. Convidei o Mário Viana e o Avelino Alves, e fizemos cinco textos ["Poemas Fesceninos", "Mistérios Gulosos", "Os Mané", "Um Chopes, Dois Pastel e uma Porção de Bobagem", "Água Fora da Bacia'"", conta Hugo Possolo, 39, diretor e um dos autores da peça, ao lado de Mário Viana, 41.
"Essas montagens foram a pesquisa. Ao invés de fazermos aquela picaretagem chamada work in progress, mostramos ao público a nossa pesquisa. A gente pôde experimentar a parte visual com a Luciana Bueno nos cenários e figurinos, e a parte musical com o maestro Abel Rocha, além da parte dramatúrgica", diz Possolo.
"Depois de um ano e pouco, eu e o Mário dissemos: "Agora tá na hora de a gente escrever a peça". E aproveitamos para, com a montagem, comemorar o aniversário do grupo", explica o diretor.
Pantagruel é um gigante, príncipe-herdeiro do reino de Utopia. Após a invasão de sua terra pelo exército racionalista da Sorbonne, vê-se obrigado a empreender uma viagem em busca de um modo de reaver seu país. Para isso, tem de encontrar a ilha da Quintessência e, lá, a Divina Botelha, para adquirir a fórmula da sabedoria. Mas é no percurso que ele aprende com os acontecimentos.
Como define Possolo, "hoje a alma virou produto. Com o texto, queremos recuperar o sentido da visão humana, por meio do bom humor". A montagem continua trazendo os mesmo elementos característicos do grupo -as piadas escancaradas, a liberdade de vocabulário, o improviso- e algumas engenhosidades vindas da pesquisa: música ao vivo, bonecos de espuma que perdem a cabeça, composição cenográfica com tecidos costurados e tingidos e um Pantagruel que, para ser gigante, nada mais é que um enorme boneco carregado por seu intérprete, Raul Barreto.
"No começo da peça, o boneco pesa quatro, cinco quilos, mas depois de uma hora parece um saco de cimento. Os meus 42 anos vão sentir", diz o ator.
Além da trupe, o elenco traz Claudinei Brandão (que integrou todas as montagens do projeto Pantagruel), Henrique Stroeter, Rui Minharro, Paula Arruda e Pedro Guilherme.


PANTAGRUEL - Texto: Hugo Possolo e Mário Viana. Direção: Hugo Possolo. Com: Parlapatões. Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, SP, tel. 0/xx/11/256-2281). Quando: estréia para convidados hoje, às 21h; amanhã e sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 27/1. Quanto: R$ 20. Patrocinador: Sesc-SP.


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