São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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CINEMA/ESTRÉIAS

No auge, Nicole Kidman se diz insatisfeita em sua carreira e afirma que "batalha para fazer cinema"

Ela disse, ele disse

RYAN GILBEY
DO "INDEPENDENT"

Nicole Kidman, 36, nasceu no Havaí e foi criada em Sydney. Em seu segundo grande papel, em "Dias de Trovão", conheceu Tom Cruise, que se tornaria seu marido. Depois de atuar em "De Olhos Bem Fechados", o casal se divorciou, em 2001. Desde então ela foi vitoriosa em papéis aventurosos e ganhou o Oscar por seu trabalho em "As Horas", em que fez Virginia Woolf. No momento Kidman está saindo com Lenny Kravitz.
 

Pergunta - Você sente que está no auge de sua vida profissional?
Nicole Kidman -
De maneira alguma. Nunca fiquei muito satisfeita com meu trabalho, não quando o vejo na tela. Recentemente a Cinemateca Americana me deu um prêmio, e a cerimônia consistiu na exibição de uma série de clipes de meu trabalho, e todos aqueles grandes diretores estavam lá. Pensei: "Isto é horrível, eu não sei mesmo atuar". Fiquei superconstrangida. Vou fazer um filme com Sydney Pollack em março, e eu estava certa de que ele ia me demitir. Eu me voltei para ele e disse: "Sydney, vou entender perfeitamente se você não me quiser mais para o filme".
Sinto como se passasse meu tempo inteiro batalhando para continuar a fazer cinema. Fiquei sabendo que Judi Dench sente a mesma coisa em relação ao trabalho dela. Foi um alívio.

Pergunta - Você tem uma lista de cineastas com quem gostaria de trabalhar?
Kidman -
Gosto de François Ozon, mas Wong Kar Wai é basicamente Deus. Eu o adoro. Estivemos juntos há pouco e discutimos algumas idéias. É essa a coisa dele: ele trabalha em cima de idéias. Alguém me perguntou se era um risco, mas eu o vejo mais como uma bênção. Os filmes que seguem fórmulas são um risco porque você sabe que precisa passar por eles sem se deixar corromper.

Pergunta - A mulher que você representa em "Dogville" é tratada com brutalidade. Você já assistiu ao filme junto com uma platéia?
Kidman -
Em Cannes. Foi duro estar com milhares de pessoas e me ver sendo humilhada na tela.

Pergunta - Na sessão à qual eu fui, o público aplaudiu quando você se vingou.
Kidman -
É verdade? Meu Deus -fiquei com arrepios nos braços quando você me disse isso.

Pergunta - Já ouvi dizer que você se sente atraída por qualquer coisa que a assusta.
Kidman -
É verdade. Uma amiga me disse uma vez que eu danço perto demais da chama. Quer dizer que vou acabar me queimando. Se alguma coisa me assusta, ao mesmo tempo me atrai. Não falo só em termos profissionais. Já se sentiu em pé sobre um telhado e atraído para cada vez mais perto da beirada? Fico em pé lá e digo a mim mesma: "Pule!". E preciso literalmente me segurar. Ou então, quando estou esquiando ou caminhando, sempre me sinto atraída para a beira do abismo.


Tradução de Clara Allain

Tom Cruise fala sobre aproximação à cultura japonesa e como escolhe os filmes em que tem participado

PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA DE LOS ANGELES

Aos 41 anos, Tom Cruise espera conquistar sua quarta indicação para o Oscar. Para viver o protagonista de "O Último Samurai", de Edward Zwick, que estréia hoje no Brasil, o ator acumulou quase doze quilos de músculo, aprendeu a falar japonês e uma luta secular de espada.
Cruise, que interpreta no filme o oficial americano Nathan Algren, raptado por samurais e que depois os ajuda a combater o exército moderno do imperador, já conquistou uma indicação de melhor ator no Globo de Ouro. O ator falou à Folha, em Los Angeles.

Folha - De tudo o que você teve que aprender sobre a cultura dos samurais, o que mais o surpreendeu?
Tom Cruise -
O Bushido, o código que regia os samurais, que prega coisas que são particularmente muito importantes para mim e nas quais acredito piamente: a honra, a coragem e a compaixão. Foi muito triste chegar ao Japão e descobrir que a nova geração não tem idéia do que seja o Bushido.

Folha - Assim como "Matrix" ou "Kill Bill", de Quentin Tarantino, "O Último Samurai" é mais um filme hollywoodiano recente relacionado à cultura oriental. Como você vê essa influência?
Cruise -
O cinema asiático moderno definitivamente mudou a face de Hollywood. John Woo pode ser creditado por isso. A respeito dos filmes de samurai, existe algo muito "cool" e universal sobre eles. É difícil algum grande diretor hoje não ter sido influenciado pelos filmes de Akira Kurosawa. "Os Sete Samurais" é um obra prima, um filme que trata de humanismo com muita elegância.

Folha - Do ponto de vista de uma pessoa interessada em outras culturas, o que o incomoda nos EUA?
Cruise -
Não acho que seja algo que aconteça somente nos EUA, e sim universalmente, que é o aumento de números de crianças com ensino precário e dependentes de drogas terapêuticas. São 8,5 milhões delas somente em meu país. Sou praticante da igreja da Cientologia e vivo presenciando pequenos milagres de pessoas que aprendem com a técnica estudantil de L. Ron Hubbard (o criador da igreja). Sou disléxico e sei das barreiras que uma criança pode enfrentar para aprender.

Folha - Além de ator, é também produtor de "O Último Samurai". Como escolhe um projeto?
Cruise -
Tudo depende da carga emocional que um roteiro desperta. Por exemplo: sei que "Cold Mountain" vai ser um sucesso, e que Jude Law está magnífico. Mas era um projeto que me foi oferecido e que eu não me via nele, mesmo que o diretor fosse alguém do calibre de Anthony Minghella.

Folha - Você tem um relacionamento com a atriz espanhola Penélope Cruz que levanta curiosidade.
Cruise -
(risos) Penélope é uma mulher romântica como eu. Ela não se interessa por presentes caros. Ela nem usa jóias! Ela gosta de cartinhas, de sair para jantar e de caminhar na montanha.

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