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CRÍTICA
Dorfman nivela algozes e vítimas
da Redação
Uma mulher alemã, noiva de um
refugiado, chega a Paris, entra
num quarto de hotel, o telefone toca. É o início de uma conversa de
nove horas com um estranho. Ele,
também um refugiado alemão,
tenta convencê-la de que está em
perigo e de que ela é -apesar de
nunca terem se encontrado antes- a mulher de seus sonhos.
"Konfidenz" é construído por
meio de diálogos que confrontam
os poderes de persuasão e a credibilidade dos personagens.
Ela é Bárbara, tem 20 anos, está
apaixonada e quer saber onde está
o noivo, Martin. Ele, Leo, ajuda refugiados que buscam abrigo do nazismo na França.
O fato de que o diálogo se trava
entre dois alemães que fogem do
regime de Hitler só fica claro no
meio do livro. Isso porque Dorfman reforça que o local onde nasceram não é importante. "Konfidenz" quer mostrar como se comportam no dia-a-dia as pessoas
que vivem regimes opressores, independente do tempo e do espaço.
E confessa, na narrativa "desejava
avidamente que Leo e Bárbara fossem latino-americanos".
O diálogo incessante que conduz
a trama tem um ritmo homogêneo,
deixando obscuro o verdadeiro clímax -o momento em que os protagonistas transam-, que acaba
sendo narrado apenas como uma
lembrança de um deles.
A todo o momento é possível
perceber que as personagens se
utilizam dos artifícios do regime
para combatê-lo: a dissimulação, a
persuasão, a mentira que conforta
e justifica. O referencial e os limites
do que é verdade e do que é discurso ficam cada vez mais nebulosos.
Dorfman deixa claro que o narrador de "Konfidenz" só enxerga o
que Leo vê. Fazendo-se passar por
um observador simultâneo dos fatos, muitas vezes se confunde com
as contradições, nebulosidade e
confusão pelas quais passa a mente
de Leo, o que provoca lacunas e incoerências na sua narrativa.
A relação entre confidência e
clandestinidade e como os homens
vivem nesse cenário determina as
atitudes dos personagens, que sussurram, conversam por imagens
fotográficas e cartas cifradas. Espionam e são espionados.
Existe um segundo observador,
além do narrador-Dorfman, que
permeia a história. Sua figura é
misteriosa e só se justifica por (e
para) quebrar a dicotomia de bandidos e mocinhos, mostrando que,
numa situação de opressão, algozes e vítimas confundem-se. (SC)
Livro: Konfidenz
Autor: Ariel Dorfman
Lançamento: Record
Quanto: a definir
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