São Paulo, Sábado, 16 de Janeiro de 1999
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Grotowski


Morre aos 66 o dramaturgo, diretor e teórico polonês, criador do "teatro pobre", baseado no trabalho do ator


das agências internacionais

O dramaturgo, diretor e teórico de teatro polonês Jerzy Grotowski, que mudou a concepção e a técnica da encenação contemporânea, morreu anteontem, aos 66 anos, em sua casa em Pontedera, noroeste da Itália.
A causa da morte foi divulgada apenas como uma "grave doença", diagnosticada há alguns meses.
Nascido em Rzeszlow, em 1933, Grotowski é considerado o pai do "teatro pobre", em que a obra está baseada exclusivamente no trabalho do ator e rechaça o desenvolvimento tecnológico.
A definição surgiu a partir de um manifesto do dramaturgo, "Em Busca de um Teatro Pobre" (Civilização Brasileira, 1968), que representou uma mudança radical na produção teatral européia.
Entre suas montagens mais famosas estão "O Príncipe Encantado" e "Akropolis". Em 1970, parou de montar espetáculos, afirmando que "o automatismo o espreitava".
Ele se dizia influenciado pelos atores do grupo Reluta (em atividade na Polônia, antes da Segunda Guerra) e por Yuri Zavadski (professor de teatro em Moscou nos anos 50, colaborador de Stanislavski).
Encenou na Dinamarca, Estados Unidos, Reino Unido, Polônia e França, onde dirigiu, entre 68 e 70, a Escola Superior de Arte Dramática de Aix-en-Provence.
Desde março de 97, era titular de uma cátedra de antropologia teatral na França.
Recebeu vários títulos "honoris causa", das universidades de Paris, Chicago, Nova York e Bolonha. Seu último prêmio foi o Pégaso de Ouro -que já havia sido concedido a Mikhail Gorbachev- em maio de 1998, na Toscana.
Na Itália, mantinha o Centro per la Sperimentazione e la Ricerca Teatrale (Instituto Experimental de Investigação Teatral), em colaboração com a Universidade da Califórnia e o Centro Internacional Peter Brook. Seus cursos são baseados mais em uma ética do que em um método.
"É um instituto paracientífico, que se ocupa da arte performática, que não tem por objetivo o espectador", afirmou, sobre o centro, em 1996, durante visita ao Brasil. Ele veio ao país participar das comemorações de 50 anos do Sesc.
Seu trabalho influenciou nomes importantes do teatro brasileiro, como os diretores Gerald Thomas e Antunes Filho e os atores Denise Stocklos e Cacá Carvalho.
Para o diretor britânico Peter Brook, "Grotowski era único". "Ninguém mais no mundo, que eu saiba, desde Stanislavski, estudou a natureza do trabalho do ator, seu significado, a natureza e a ciência de seus procedimentos mentais, físicos e emocionais tão profunda e completamente como Grotowski."


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