|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Dreamgirls - Em Busca de um Sonho"
Bill Condon tenta dar lustre histórico e sociocultural ao seu bom musical
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Talento não tem limite
de peso, demonstra
Jennifer Hudson ao
roubar a cena (diversas cenas, a
rigor) em "Dreamgirls - Em
Busca de um Sonho". Beyoncé
Knowles pode ser mais esguia e
sensual, mas a voz do povo, manifestada com freqüência em
duas ou três ovações durante as
sessões do filme nos EUA, já
decretou que é da gordinha que
todos por lá gostam mais.
Revelada por uma eliminação supostamente injusta no
programa "American Idol" em
2004, Hudson tornou-se a escolha perfeita, estilo "a arte
imita a vida", para o papel da
cantora que, embora versátil e
vibrante, é substituída como líder de um grupo de soul por
uma voz de menor força em um
corpo de maior apelo. Eis uma
candidata a estrela em sintonia
com seu tempo, o dos "reality
shows" e dos 15 minutos de fama que proporcionam a "pessoas comuns".
O diretor e roteirista Bill
Condon escreveu também
"Chicago" (dirigido por Rob
Marshall), mas as semelhanças
entre esses dois musicais bem-sucedidos com o público norte-americano (cerca de US$ 170
milhões de bilheteria no primeiro caso; quase US$ 100 milhões, e ainda crescendo, com
"Dreamgirls") quase terminariam aí, não fossem ambos baseados em espetáculos populares (e paradigmáticos) na
Broadway.
Enquanto "Chicago" vive do
movimento e da coreografia,
inspirada no trabalho original
de Bob Fosse, e também de
uma picardia politicamente incorreta, "Dreamgirls" representa a vertente do gênero que
se sustenta nas canções, nas interpretações, no carisma de
palco de alguns atores e no
bom-mocismo de suas, argh,
"mensagens". Não por acaso, a
adaptação mantém a estrutura
teatral em forma de números,
que beneficiam não só Hudson
mas também Eddie Murphy
em sua versão James Brown.
Cultura negra
A ambição, no entanto, vai
mais adiante: ao se concentrar
em um grupo fictício que se espelha na trajetória de The Supremes (com a personagem de
Knowles no lugar de Diana
Ross), "Dreamgirls" recria a inserção negra na cultura pop dos
EUA e sua assimilação pelo público branco durante os últimos 50 anos.
É uma leitura luxuosa, no
sentido carnavalesco, de um
movimento histórico que incluiu sangue (os conflitos pela
igualdade de direitos civis, os
assassinatos de Martin Luther
King e Malcolm X) e que ainda
se manifesta hoje em episódios
de tensão racial.
Buscar esse lustre, o de drama de época com reverberações socioculturais, não o promove a nada muito
mais nobre
do que ser um bom musical sobre uma moça destinada a comer o pão que o ex-empresário
e ex-amante (Jamie Foxx)
amassou - e a dar a volta por
cima.
DREAMGIRLS - EM BUSCA DE UM SONHO
Direção: Bill Condon
Produção: EUA, 2006
Com: Jamie Foxx, Beyoncé Knowles, Eddie Murphy e Jennifer Hudson
Quando: estréia hoje nos cines Iguatemi Cinemark, Frei Caneca e circuito
Texto Anterior: Crítica/"A Turma da Mônica em uma Aventura no Tempo": Animação valoriza humor antenado das tirinhas e resolve fôlego curto das tramas Próximo Texto: Vilão de "Turistas" diz que polêmica é "equivocada" Índice
|