|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"300" divide opiniões e gera debate em Berlim
Baseado em HQ de Frank Miller, filme de Zack Snyder mostra batalha entre os soldados de Esparta e combatentes persas
Elenco traz participação de Rodrigo Santoro, que interpreta Xerxes, o rei da
Pérsia; para o papel, ator ficou careca e usou piercings
DA ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Recebido com simpatia pela
crítica norte-americana e com
a expectativa de um estouro de
bilheteria, a superprodução
hollywoodiana "300", de Zack
Snyder, é alvo de um acalorado
debate no Festival de Berlim.
"300" é baseado na HQ de
Frank Miller -autor também
de "Sin City"- sobre a batalha
de Termópilas, em que 300 soldados de Esparta, liderados por
seu rei, Leônidas (Gerard Butler), enfrentaram milhares de
combatentes persas.
Leônidas combatia contra os
objetivos expansionistas de
Xerxes (o brasileiro Rodrigo
Santoro), o rei da Pérsia, que se
julgava um deus.
A ação de "300" ocorre em
480 a.C. Mas, depois de ser exibido fora de competição, anteontem, o filme suscitou em
Berlim paralelos com épocas
bem mais atuais.
"Fui chamado até de nazista.
Não sabia que o filme era tão
bom assim, do tipo que muda a
vida das pessoas", diz Snyder.
Com hiperestilizadas, brutais e sangüíneas cenas de luta,
"300" tem clara admiração pelo
ímpeto beligerante dos espartanos e por seu lema de que não
há lugar para fraquezas, portanto, que estejam preparados
para a glória -na guerra.
Ao ironizar as críticas européias, Snyder procura deixar
claro que seu objetivo principal
com "300" era "fazer um filme
que fosse exatamente igual à
HQ de Miller", o que significa
se permitir brincar com a história e seus personagens.
Contudo, ele mesmo propõe
um paralelo de "300" com a
história contemporânea dos
EUA. Depois de citar que teve a
idéia de fazer o filme há sete
anos, afirma reconhecer que,
desde então, "vivemos uma
época política importante".
Dispensando-se de citar o 11
de Setembro e a consecutiva
"guerra ao terror" da administração George W. Bush, o diretor afirma que "há fortes argumentos para ver Bush em Xerxes" e diz que o filme "evidentemente assume o ponto de vista
de Esparta".
Snyder disse à Folha que escolheu Santoro para interpretar Xerxes "porque ele é um
homem bonito mas também
um grande ator, capaz de sutilezas na interpretação". O diretor queria essa habilidade de
Santoro para que ele fizesse de
Xerxes um personagem "não
necessariamente o mau do filme, o odioso, o repugnante".
Gigante
Santoro é caracterizado de
forma quase irreconhecível como Xerxes -careca, muito maquiado, com piercings no rosto
e correntes de ouro por todo o
corpo, o ator ganha artificialmente a altura de um gigante,
exigida pelo personagem. A voz
é retrabalhada digitalmente,
para soar totalmente grave.
"Zack [Snyder] dizia que,
quando Xerxes abre a boca no
filme, a sala de cinema tem de
tremer", conta Santoro. Xerxes
só abre a boca aos 50 minutos
do filme (que tem 117 minutos),
quando aparece pela primeira
vez. Antes disso, a história se
concentra na preparação dos
espartanos para a guerra.
Santoro disse que se inspirou
no ator russo Yul Brynner
(1915-85) para interpretar a
"entidade" que é Xerxes. Disse
que terminava cada dia de filmagens no Canadá "completamente exausto", mas que achou
"ótimo trabalhar com Snyder,
que tem boa energia e sabe exatamente o que quer". "300" deve estrear no Brasil em 30/3.
(SILVANA ARANTES)
Texto Anterior: Crítica: Roteiro do longa não pára em pé Próximo Texto: Aplaudido, "Casa de Alice" retrata classe média baixa Índice
|