São Paulo, sábado, 16 de março de 2002

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SHOW/CRÍTICA

Dinossauro Roger Waters emociona Pacaembu

MARCELO VALLETTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O show "In the Flesh", que trouxe o veterano Roger Waters, 58, de volta aos palcos após quase uma década de ausência, provou o que já era sabido: sozinho, Waters vale muito mais do que o embaraçoso Pink Floyd dos últimos 15 anos.
Fãs do supergrupo britânico, o mais expressivo entre os praticantes do controvertido rock progressivo, tiveram a chance de ouvir alguns clássicos na voz de seu compositor e intérprete legítimo.
O público brasileiro teve a sorte de encarar a turnê de Waters em estágio mais avançado. O show apresentado por aqui teve como bônus, além de uma música novíssima ("Flickering Flame", que fechou o espetáculo de três horas de duração), as projeções oficiais de antigos shows do Pink Floyd.
Ícones clássicos do grupo, como a marcha dos martelos de "The Wall", o porco voador de "Animals" e o prisma de "Dark Side of the Moon", ausentes do início da turnê, registrada em CD e DVD há cerca de dois anos, ajudaram a emocionar o público que quase lotou o Pacaembu na primeira apresentação de Waters em São Paulo, anteontem.
Menos disciplinados do que as platéias de outros países visitados pela turnê, os brasileiros deram um show à parte, com direito a "ôlas", um festival de isqueiros acesos e o forte coro acompanhado de pulos e braços erguidos nas músicas mais famosas do Pink Floyd, como "Another Brick in the Wall Part 2", "Time", "Shine on You Crazy Diamond" e "Comfortably Numb".
Acompanhado de um time de músicos afiadíssimos e com uma qualidade de som digna de uma boa sala de cinema -uma raridade nos shows de estádio no Brasil-, Waters conseguiu se soltar e entusiasmou os espectadores mesmo em músicas de sua não tão bem-sucedida carreira solo, como "Perfect Sense" e "It's a Miracle".
Entretanto, o show, cujo repertório deixa a desejar -músicas mais interessantes do Pink Floyd ficaram de fora, em detrimento dos "hits"-, não consegue se livrar do ranço saudosista. Para a platéia brasileira, formada em sua maioria por pessoas que têm idade para ser filhos ou até netos de Waters, "In the Flesh" serve apenas como um grande consolo para aqueles que já enjoaram de escutar os velhos "disco do prisma" e "disco do muro" e sonhavam em ver suas músicas ao vivo. Para a felicidade de muitos, alguns dinossauros ainda caminham pela Terra.


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