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Retrospectiva percorre pesquisa de Ivens Machado sobre o concreto
ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO
"Eu acho que eu sempre me vi
como uma pessoa que fazia arte.
Hoje em dia, talvez a partir dessa
exposição, desse momento, eu
possa me dizer outra coisa: um artista que também é uma pessoa."
A autodefinição de Ivens Machado, 59, precisa a importância
que uma retrospectiva tem para
sua obra. Depois de 30 anos de
carreira e 13 sem expor em São
Paulo, o artista/pessoa volta à cidade com suas esculturas em concreto, cacos de vidro e folhas de
caderno cujas pautas se entrelaçam para, pela primeira vez, passar em revista sua produção.
"Ivens Machado - O Engenheiro
de Fábulas" pretende justamente
aproximar o público e as obras de
Ivens Machado, mais conhecidas
na Europa do que no Brasil. "Em
Milão sou conhecido na rua. No
Brasil, tenho certeza de que daqui
a três meses ninguém se lembra
de mim. Eu, como já trabalho
pouco e tenho essa inserção muito estranha dentro do circuito, a
cada exposição tenho que apresentar tudo de novo", afirma.
A responsabilidade pela distância entre sua obra e o público, no
entanto, é assumida pelo próprio
artista, que se isolou e optou pela
aparição bissexta, sem, no entanto, deixar de produzir. "A partir
do final dos anos 70, eu comecei a
me dedicar a uma percepção muito mais conectada não com o processo da arte nem com a evolução
dos trabalhos de arte nem com a
história, mas com a realidade. E
eu não só sou isolado como ajudei
as pessoas a me isolar."
Um isolamento relativo, até,
pois ele participou de cinco bienais (a primeira, em 73, e a mais
recente, em 98) e está presente em
bastantes coleções particulares,
muitas das quais cederam peças
para a exposição na Pinacoteca.
Seu isolamento aconteceu mais
em relação a uma "compartimentação" da arte. "Eu me nego a participar desse processo de inserção
no campo da arte, me nego a estar
inserido dentro de um contexto,
tanto que cada vez eu estou mais
estranho. Acho que é uma tentativa de não me inserir, de continuar
fora, de não ser impedido de fazer
o que quero."
Não à toa, dois dos principais
elementos de seus trabalhos remetem ao isolamento: o concreto,
que abre espaços amplos na paisagem urbana ou se molda em pedaços maciços na obra de Ivens; e
os cacos de vidro, que se impõem
pela iminência da dor. "O concreto se dá por causa do meu deslocamento. Peguei os elementos populares da construção e trouxe
para um outro campo. Acho que a
originalidade também é um pouco ajudada pelo material." Quanto aos cacos, Ivens afirma fazer
"um outro deslocamento, porque
meus primeiros projetos com cacos vêm exatamente do caco de
vidro no muro. Ao mesmo tempo
em que eles limitam o outro, eles
também "te" limitam, pois têm como uso inicial exatamente essa
coisa ligada ao comportamento, à
defesa, à propriedade".
É no cotidiano que Ivens busca
sua inspiração. Nas pautas das folhas de caderno, nos cacos, no aço
ou no concreto, ele traça um
mundo todo próprio. Hegel dizia
que a atividade da fantasia e a exigência da execução da técnica
constituem a inspiração. Ivens,
portanto, está cheio dela.
IVENS MACHADO - O ENGENHEIRO DE
FÁBULAS - Pinacoteca do Estado (pça.
da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/229-9844).
Quando: hoje, às 19h; de ter. a dom., das
10h às 18h. Quanto: entrada franca.
Patrocinador: Petrobras.
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