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"Arnaldo Antunes é loucura total"
DA REPORTAGEM LOCAL
Se é cultuado de modo informal
pela comunidade do Capão Redondo, Ferréz tem lá também
seus ídolos. O principal deles é o
poeta e músico Arnaldo Antunes,
cujos passos Ferréz seguia bem
antes de se tornar escritor conhecido. "É loucura total", sintetiza.
No apelidado "espaço Arnaldo
Antunes" de sua biblioteca, tem
lugar de destaque uma foto antiga
em que o fã abraça o ídolo. "Eu ia
ao Centro Cultural de "busão",
passava por baixo da catraca."
Mais escondida fica uma pasta
cheia de poesias e trabalhos manufaturados por Arnaldo na época de estudante. Ferréz diz que
vendeu uma motocicleta para
comprar a pasta. Diz que custou
uma fortuna, mas não revela o valor por vergonha do que os pais e
os amigos podem pensar.
Não pára por aí: um poema
concreto do ex-titã está tatuado
no braço de Ferréz, que justifica a
adoração: "O trampo desse cara
me ajudou a não pegar um revólver. Estou vivo por andar correndo atrás dessas coisas".
Sem saber da adoração, Arnaldo virou admirador do autor de
"Capão Pecado". "Ficamos amigos, ele disse que queria musicar
uma letra minha. Que inversão de
valores!", se surpreende.
Outro admirador que Ferréz
conquistou foi Chico César. "Ele
me ligou, agradeceu pelo livro,
disse que tem uma história parecida com a minha e queria me visitar", se espanta.
Visitou mesmo. E, segundo Ferréz, causou furor entre a meninada do Capão. "Os molequinhos
começaram a correr atrás dele
cantando "Mama África". Foi da
hora", afirma, expressando a sensação de pertencer a algo que acomete sua comunidade toda vez
que um Chico César ou um Ferréz
pronuncia "Capão Redondo".
"Chico me surpreendeu, esse
maluco é firmeza. Não mete marra, como muito rapper. Ele não é
da MPB, ele é nosso, é do bem",
descreve, implicitando a noção
periférica de que a MPB -o poder- está do lado do mal.
As admirações mútuas renderam frutos, que fizeram Ferréz
transpor muros que o hip hop
não costuma permitir pular. Arnaldo Antunes e Chico César participam do disco "Determinação", respectivamente em "29 de
Dezembro" e "Seu Pai".
Chico aparece cantando com
discrição. Arnaldo faz um rap
concretista produzido por Bid,
também do "lado de cá", em "29
de Dezembro" -o dia do aniversário do ídolo, e também da namorada de Ferréz.
(PAS)
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