|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Dança Lenta no Local do Crime" põe desconhecidos em situações-limite
DA REPORTAGEM LOCAL
Parcimonioso na ordem dos
produtos nas prateleiras de sua
mercearia, um ex-prisioneiro de
campo de concentração tem seu
passado virado de ponta-cabeça
quando o ambiente é alterado,
primeiro, pela presença de um jovem militante da cultura hip hop
e, depois, pela súbita chegada de
uma jovem de classe média.
Nessa encruzilhada, todos sairão do avesso e deixarão cair suas
máscaras em "Dança Lenta no
Local do Crime", drama do americano William Hanley, escrito no
início dos anos 60 e agora montado pelo diretor Luiz Valcazaras.
O espetáculo estréia hoje, para
temporadas às quartas-feiras no
Sesc Ipiranga, em São Paulo, e segue no final de semana como um
dos convidados da Mostra Oficial
do Festival de Teatro de Curitiba.
Brota uma cumplicidade ocasional entre o velho e introspectivo Glas (Antônio Galleão), que viveu na Alemanha no começo da
Segunda Guerra e carrega seus
traumas; o jovem Randall, de apelido RD (Rogério Brito), negro e
morador na periferia, boa-pinta,
inteligente e mordaz nas suas histórias de preconceitos; e, por fim,
Rosie (Regiane Alves), moça que
engravidou na primeira relação e
está decidida a abortar.
"São conflitos que levam à auto-reflexão sobre seus demônios internos", diz Galleão, 51.
Vêm à tona as ideologias, as (falsas) morais de cada um, culpas
embaralhadas e expiadas. "Nenhuma pessoa é lugar de repouso", diz Alves, 26, que vem da televisão ("Mulheres Apaixonadas",
novela da Globo).
São personagens solitários, carentes do outro, metidos em situações-limite, trágicas, criminosas. Para Brito, 31, eles constroem
como que uma relação de confiança, de afetividade, naqueles
curtos espaço e tempo em suas vidas.
"A base do texto é social, a questão do racismo, por exemplo, mas
acaba transcendendo. Na medida
em que se familiariza com cada
um deles, as referências são outras, profundamente humanas,
sem julgamentos", afirma Valcazaras, 42.
Em "Anjo Duro", monólogo sobre a vida e a obra da psiquiatra
Nise da Silviera (1905-1999, atuação de Berta Zemel), havia esse
mergulho vertical na alma humana, o que às vezes tergiversava a
realidade. Aqui, diz o diretor, os
problemas socioculturais saltam
aos olhos, mas não se perde de
vista a humanidade dos tipos em
questão.
Como treinamento de ator, há
11 anos à frente do Núcleo de Investigação Teatral, o N.I.Te., Valcazaras recorre à experiência do
contador de histórias. "Tudo o
que está no palco tem que ser
transformado em narrativa, o texto é compreendido por meio do
corpo."
(VS)
Dança Lenta no Local do Crime
Texto: William Hanley; tradução: João
Bethencourt
Direção: Luiz Valcazaras
Com: Antônio Galleão, Regiane Alves e
Rogério Brito
Onde: Sesc Ipiranga - teatro (r. Bom
Pastor, 822, tel. 0/xx/11/ 3340-2000)
Quando: estréia hoje, às 21h; sempre às
qua., às 21h
Quanto: R$ 4. Até 4/5. No Festival de
Teatro de Curitiba, dias 19, 20 e 21/3
(mais informações no site
www.festivaldeteatro.com.br)
Texto Anterior: Teatro: Walmor Chagas critica poder da imagem Próximo Texto: Classe teatral de SP protesta contra suspensão de auxílio financeiro Índice
|