São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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"Dança Lenta no Local do Crime" põe desconhecidos em situações-limite

DA REPORTAGEM LOCAL

Parcimonioso na ordem dos produtos nas prateleiras de sua mercearia, um ex-prisioneiro de campo de concentração tem seu passado virado de ponta-cabeça quando o ambiente é alterado, primeiro, pela presença de um jovem militante da cultura hip hop e, depois, pela súbita chegada de uma jovem de classe média.
Nessa encruzilhada, todos sairão do avesso e deixarão cair suas máscaras em "Dança Lenta no Local do Crime", drama do americano William Hanley, escrito no início dos anos 60 e agora montado pelo diretor Luiz Valcazaras.
O espetáculo estréia hoje, para temporadas às quartas-feiras no Sesc Ipiranga, em São Paulo, e segue no final de semana como um dos convidados da Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba.
Brota uma cumplicidade ocasional entre o velho e introspectivo Glas (Antônio Galleão), que viveu na Alemanha no começo da Segunda Guerra e carrega seus traumas; o jovem Randall, de apelido RD (Rogério Brito), negro e morador na periferia, boa-pinta, inteligente e mordaz nas suas histórias de preconceitos; e, por fim, Rosie (Regiane Alves), moça que engravidou na primeira relação e está decidida a abortar.
"São conflitos que levam à auto-reflexão sobre seus demônios internos", diz Galleão, 51.
Vêm à tona as ideologias, as (falsas) morais de cada um, culpas embaralhadas e expiadas. "Nenhuma pessoa é lugar de repouso", diz Alves, 26, que vem da televisão ("Mulheres Apaixonadas", novela da Globo).
São personagens solitários, carentes do outro, metidos em situações-limite, trágicas, criminosas. Para Brito, 31, eles constroem como que uma relação de confiança, de afetividade, naqueles curtos espaço e tempo em suas vidas.
"A base do texto é social, a questão do racismo, por exemplo, mas acaba transcendendo. Na medida em que se familiariza com cada um deles, as referências são outras, profundamente humanas, sem julgamentos", afirma Valcazaras, 42.
Em "Anjo Duro", monólogo sobre a vida e a obra da psiquiatra Nise da Silviera (1905-1999, atuação de Berta Zemel), havia esse mergulho vertical na alma humana, o que às vezes tergiversava a realidade. Aqui, diz o diretor, os problemas socioculturais saltam aos olhos, mas não se perde de vista a humanidade dos tipos em questão.
Como treinamento de ator, há 11 anos à frente do Núcleo de Investigação Teatral, o N.I.Te., Valcazaras recorre à experiência do contador de histórias. "Tudo o que está no palco tem que ser transformado em narrativa, o texto é compreendido por meio do corpo." (VS)


Dança Lenta no Local do Crime
Texto:
William Hanley; tradução: João Bethencourt
Direção: Luiz Valcazaras
Com: Antônio Galleão, Regiane Alves e Rogério Brito
Onde: Sesc Ipiranga - teatro (r. Bom Pastor, 822, tel. 0/xx/11/ 3340-2000)
Quando: estréia hoje, às 21h; sempre às qua., às 21h
Quanto: R$ 4. Até 4/5. No Festival de Teatro de Curitiba, dias 19, 20 e 21/3 (mais informações no site www.festivaldeteatro.com.br)


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