São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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ANÁLISE

"América" prioriza aparência a conteúdo

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"América" estreou com cara de "Pantanal 2". Muita paisagem, pouca história. O excesso de apresentações didáticas de personagens e lugares, em duas fases, resultou em um capítulo morno. As primeiras aventuras em terras do México e dos Estados Unidos só devem aparecer no final da semana.
Enquanto isso, passeamos pelo Brasil. Vislumbramos maravilhosas, porém traiçoeiras, grutas no Norte. Voltamos ao visual bucólico que distinguiu "Pantanal" no início dos anos 90. Subimos o morro carioca onde Arlete Salles nos brinda com uma senhora perua bem-sucedida em Miami. Encontramos o universo tenebroso da violência no Rio de Janeiro.
Planos gerais de natureza deslumbrante se alternam com planos bem fechados de personagens envoltos em convencionais tramas românticas. Nesse jogo em que fundo e figura pouco se misturam a questão é: vale a pena tentar a sorte lá fora? Ou será mais correto insistir na ocupação sustentável da pátria amada?
"América" comemora os 40 anos da Globo, que nos anos 70 e 80 produziu uma série de novelas sobre o Brasil, que, por sua vez, ganharam as telas estrangeiras.
Hoje o quadro é outro. O volume de remessas de dinheiro dos que fazem um pé-de-meia lá fora cresce. A novela fala a milhares de imigrantes em potencial em um momento em que se discute a conveniência da reserva de mercado para a produção de conteúdo nacional.
"América" pode enveredar por caminhos pioneiros se investir nessa espécie de conquista simbólica de novas fronteiras. Entre os vários sonhos que a novela promete, realizou ao menos o da equipe brasileira que filmou as paragens míticas celebrizadas nos clássicos filmes de faroeste.
Mas pode também cair na demonização do grande irmão do norte, se investir na idéia de que o Texas é aqui, em Barretos. A ver.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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