São Paulo, segunda, 16 de março de 1998

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das agências internacionais

Se o balé do Teatro Marinskii, de São Petersburgo, foi o estandarte do teatro musical do regime czarista por quase 200 anos, até o começo deste século, com suas estrelas bailarinas cobertas de esmeraldas e rubis do Cáucaso, a companhia de balé do Grande Teatro Bolshoi, de Moscou, foi, por sua vez, durante quase 80 anos, a maior bandeira cultural do poder soviético.
O governo comunista incentivou maestros e bailarinos, coreógrafos e pintores do realismo socialista, regentes e compositores neopitorescos até conseguir uma grande companhia de balé acadêmico, sob uma pauta estética que, orientada ao clássico, chegava a ser quase reacionária, mas em que o rigor técnico do balé era respeitado até o exagero.
Tudo isso apesar de certas orientações político-estéticas que conduziram o repertório da companhia por rotas onde brilhavam a foice e o martelo.
Opulência
O balé do Grande Teatro Bolshoi de Moscou conquistou merecida fama pela grandeza opulenta de suas montagens, algo relacionado à tradição da casa, e por um exercício de monumentalidade, que nos momentos de stalinismo afetou de maneira traumática e dourada as estações de metrô, saguões de teatros e as saias de tule das bailarinas.
Essas estrelas, de sapatilhas de ponta, e os astros aos saltos e piruetas, constituíam desde os tempos difíceis do pós-guerra um núcleo privilegiado dentro da sociedade civil soviética.
"Artistas do povo"
O poder e as massas soviéticas adoravam a dança clássica. Mesmo que a situação fosse difícil e em meio aos rigorosos invernos, iam assistir a magia daqueles "artistas do povo", que, afinal de contas, eram herdeiros de uma tradição única na cultura universal.
Esperança
O Bolshoi foi pouco a pouco caindo em mãos sinistras, as piores das quais foram as de Grigorovich, que, como Átila, se encarregou de eliminar a grama sob os pés de muitos virtuoses maltratados e de ignorar os trabalhos de antigos coreógrafos e o espirito da tradição.
Hoje, parece que a honestidade de Vladimir Vasiliev constitui uma luz de ressurreição para esta arte eterna que é o balé russo.



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