São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2010

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Crítica/Filme/"As Melhores Coisas do Mundo"

Laís Bodanzky faz retrato autêntico

Na busca por naturalidade, diretora escolheu estudantes paulistanos para atuar e ajudar a criar a linguagem do filme

FLAVIA CESARINO COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A cada longa-metragem que faz, Laís Bodanzky supera-se na criação de universos realistas construídos com muita pesquisa e um envolvimento apaixonado com o que vai tratar. Suas histórias são totalmente paulistanas, mas conseguem falar de dilemas universais sem o ranço didático que atormenta boa parte do cinema brasileiro.
Desta vez, é o mundo dos adolescentes de classe média e seu cotidiano entre escola, rua, baladas e a casa, ambientes nos quais acontece tudo o que é decisivo para eles: amizades, disputas, discussões existenciais, "bullying" na internet, ficadas, sexo, assédio moral e, no fim, suadas conquistas pessoais.
"As Melhores Coisas do Mundo" conta a história de Mano (Francisco Miguez), às voltas com a paixão pela menina mais bonita do colégio, o irmão mais velho, músico e poeta (Filipe Galvão, o Fiuk), amizades contraditórias, injustiças escolares e uma separação dos pais pouco ortodoxa, cujas vergonhosas razões não devem ficar públicas na escola. Aos poucos, Mano enfrenta uma crise de valores, mas no final há um processo de amadurecimento.
O drama aparece com naturalidade por obra de uma opção consciente de incluir a participação de estudantes de classe média, escolhidos em colégios da cidade, para não apenas interpretarem o papel de alunos, mas também traduzirem falas do roteiro para o seu "dialeto".
Dessa forma, o universo adolescente fica, ao mesmo tempo, convincente para os jovens e compreensível para os pais. O linguajar, as atitudes, os bilhetes, a troca de torpedos nas aulas e a conversa ensurdecedora no intervalo, tudo respira autenticidade e responde ao desafio que é falar dos jovens sem um olhar paternalista de adulto. Há belos momentos em que a diversidade visual desses adolescentes invade a tela, como quando eles deixam as classes e viram uma multidão que sai da escola por um grande portão.
Para o roteirista, Luiz Bolognesi, trata-se de um filme minimalista, no qual pequenas reações dos personagens nos ajudam a entender suas personalidades. De fato, esta é a grande viagem do filme. Quando mãe e filho encontram-se na cozinha, irmanados no cansaço e numa certa desilusão, um ovo cai no chão e a tensão se desfaz numa explosão de desabafos. E Mano reconcilia-se consigo mesmo em sua fala final: "Não é impossível ser feliz depois que a gente cresce, é só mais complicado".


AS MELHORES COISAS DO MUNDO

Diretor: Laís Bodanzky
Produção: Brasil, 2010
Com: Caio Blat, Paulo Vilhena, Francisco Miguez e Gabriela Rocha
Onde: estreia hoje no Espaço Unibanco Pompeia, Iguatemi Cinemark e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: ótimo




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