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Crítica/Filme/"As Melhores Coisas do Mundo"
Laís Bodanzky faz retrato autêntico
Na busca por naturalidade, diretora escolheu estudantes paulistanos para atuar e ajudar a criar a linguagem do filme
FLAVIA CESARINO COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A cada longa-metragem
que faz, Laís Bodanzky
supera-se na criação de
universos realistas construídos
com muita pesquisa e um envolvimento apaixonado com o
que vai tratar. Suas histórias
são totalmente paulistanas,
mas conseguem falar de dilemas universais sem o ranço didático que atormenta boa parte
do cinema brasileiro.
Desta vez, é o mundo dos
adolescentes de classe média e
seu cotidiano entre escola, rua,
baladas e a casa, ambientes nos
quais acontece tudo o que é decisivo para eles: amizades, disputas, discussões existenciais,
"bullying" na internet, ficadas,
sexo, assédio moral e, no fim,
suadas conquistas pessoais.
"As Melhores Coisas do
Mundo" conta a história de
Mano (Francisco Miguez), às
voltas com a paixão pela menina mais bonita do colégio, o irmão mais velho, músico e poeta
(Filipe Galvão, o Fiuk), amizades contraditórias, injustiças
escolares e uma separação dos
pais pouco ortodoxa, cujas vergonhosas razões não devem ficar públicas na escola. Aos poucos, Mano enfrenta uma crise
de valores, mas no final há um
processo de amadurecimento.
O drama aparece com naturalidade por obra de uma opção
consciente de incluir a participação de estudantes de classe
média, escolhidos em colégios
da cidade, para não apenas interpretarem o papel de alunos,
mas também traduzirem falas
do roteiro para o seu "dialeto".
Dessa forma, o universo adolescente fica, ao mesmo tempo,
convincente para os jovens e
compreensível para os pais. O
linguajar, as atitudes, os bilhetes, a troca de torpedos nas aulas e a conversa ensurdecedora
no intervalo, tudo respira autenticidade e responde ao desafio que é falar dos jovens sem
um olhar paternalista de adulto. Há belos momentos em que
a diversidade visual desses adolescentes invade a tela, como
quando eles deixam as classes e
viram uma multidão que sai da
escola por um grande portão.
Para o roteirista, Luiz Bolognesi, trata-se de um filme minimalista, no qual pequenas reações dos personagens nos ajudam a entender suas personalidades.
De fato, esta é a grande viagem do filme. Quando mãe e filho encontram-se na cozinha,
irmanados no cansaço e numa
certa desilusão, um ovo cai no
chão e a tensão se desfaz numa
explosão de desabafos. E Mano
reconcilia-se consigo mesmo
em sua fala final: "Não é impossível ser feliz depois que a gente
cresce, é só mais complicado".
AS MELHORES COISAS
DO MUNDO
Diretor: Laís Bodanzky
Produção: Brasil, 2010
Com: Caio Blat, Paulo Vilhena, Francisco Miguez e Gabriela Rocha
Onde: estreia hoje no Espaço Unibanco
Pompeia, Iguatemi Cinemark e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: ótimo
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