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ARTES PLÁSTICAS
Grosz desnuda conflitos sociais alemães
WAGNER ARAUJO
especial para a Folha, em Londres
Uma exposição que tem atraído
o público em Londres reúne imagens capturadas no dia-a-dia dos
alemães entre 1912 e 1930.
"A Berlim de George Grosz",
como a exibição foi intitulada, é
uma grande mostra de desenhos,
aquarelas e gravuras daquele que é
considerado um dos mais brilhantes artistas gráficos do século.
O evento, inaugurado no dia 20
de março, fica aberto até 8 de junho na Royal Academy of Arts.
A última vez que as imagens de
Grosz estiveram numa mostra pública em Londres foi há mais de 30
anos, em 1962. Mas essa não é a razão pela qual a Royal Academy
tem recebido grande público diariamente.
O mérito é de Grosz, que colocou
graça, espontaneidade e vida nos
trabalhos, principalmente quando
revela fatos sociais e políticos da
capital da Alemanha no período
entre guerras.
Satírico, corajoso, crítico, "voyer", George Grosz registrou o
dia-a-dia e os lugares comuns (como cafés, cabarés e mercados) de
pessoas comuns, assim como o
comportamento incomum de políticos e militares.
Exibidos juntos, os trabalhos parecem criar uma noção de caos,
colocando em posição de conflito
trabalhadores e patrões, povo e
políticos.
Isso reflete a percepção aguçada
do mundo que o cercava, além da
própria vida de Grosz, politicamente consciente e comprometido, mas, ao mesmo tempo, cada
vez mais desiludido com os caminhos da Alemanha.
Nos momentos de relaxamento,
encontramos o artista alemão rabiscando a agitação dos cafés, as
prostitutas nas ruas.
Ele fez também caricaturas de
amigos e colaboradores, como a
do dramaturgo, poeta e crítico
Bertolt Brecht, entre os artistas e
intelectuais que se aproximaram
dele nos anos 20, quando ganhou
fama na Alemanha e em outros
países.
Uma das personalidades que viraram tema de alguns trabalhos foi
Adolf Hitler.
Na exposição "A Berlim de
George Grosz", estão sendo mostrados também ilustrações feitas
para revistas alemãs, muitas das
quais orientadas por ideais socialistas -o artista foi filiado ao Partido Comunista Alemão.
A crença no PC Alemão logo acabou, devido aos acontecimentos
políticos e sociais ocorridos nos
anos seguintes.
A técnica e o estilo de Grosz não
se limitaram aos desenhos. Ele
também trabalhou com fotomontagem, transitando entre o Cubismo, Futurismo e Dadaísmo.
Grosz é associado com Berlim
mais intimamente do que qualquer outro artista moderno. Foi lá
que nasceu e morreu, depois de
exilar-se por mais de 25 anos nos
Estados Unidos.
Seus sonhos de se tornar um ilustrador começaram na pequena cidade rural de Stolp, hoje chamada
Slupsk, agregada à Polônia. O pequeno George teve acesso a muitos
livros baratos de aventura, ricamente ilustrados, muitos deles retratando realidades americanas.
Essa romântica imagem da América pesou em sua decisão de deixar a Alemanha poucas semanas
antes de Hitler se tornar chanceler.
Além de continuar desenhando e
pintando, ele também deu aulas
em Nova York.
Todos os passos dados pela Alemanha parecem ter influenciado
profundamente sua personalidade, e, com o passar dos anos, ele
também começou a perder o amor
pela América. Em 1959, voltou para Berlim.
Grosz morreu pouco tempo depois, naquele mesmo ano, aos 66
anos.
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