São Paulo, quarta, 16 de abril de 1997.

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ARTES PLÁSTICAS
Grosz desnuda conflitos sociais alemães

WAGNER ARAUJO
especial para a Folha, em Londres

Uma exposição que tem atraído o público em Londres reúne imagens capturadas no dia-a-dia dos alemães entre 1912 e 1930.
"A Berlim de George Grosz", como a exibição foi intitulada, é uma grande mostra de desenhos, aquarelas e gravuras daquele que é considerado um dos mais brilhantes artistas gráficos do século.
O evento, inaugurado no dia 20 de março, fica aberto até 8 de junho na Royal Academy of Arts.
A última vez que as imagens de Grosz estiveram numa mostra pública em Londres foi há mais de 30 anos, em 1962. Mas essa não é a razão pela qual a Royal Academy tem recebido grande público diariamente.
O mérito é de Grosz, que colocou graça, espontaneidade e vida nos trabalhos, principalmente quando revela fatos sociais e políticos da capital da Alemanha no período entre guerras.
Satírico, corajoso, crítico, "voyer", George Grosz registrou o dia-a-dia e os lugares comuns (como cafés, cabarés e mercados) de pessoas comuns, assim como o comportamento incomum de políticos e militares.
Exibidos juntos, os trabalhos parecem criar uma noção de caos, colocando em posição de conflito trabalhadores e patrões, povo e políticos.
Isso reflete a percepção aguçada do mundo que o cercava, além da própria vida de Grosz, politicamente consciente e comprometido, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais desiludido com os caminhos da Alemanha.
Nos momentos de relaxamento, encontramos o artista alemão rabiscando a agitação dos cafés, as prostitutas nas ruas.
Ele fez também caricaturas de amigos e colaboradores, como a do dramaturgo, poeta e crítico Bertolt Brecht, entre os artistas e intelectuais que se aproximaram dele nos anos 20, quando ganhou fama na Alemanha e em outros países.
Uma das personalidades que viraram tema de alguns trabalhos foi Adolf Hitler.
Na exposição "A Berlim de George Grosz", estão sendo mostrados também ilustrações feitas para revistas alemãs, muitas das quais orientadas por ideais socialistas -o artista foi filiado ao Partido Comunista Alemão.
A crença no PC Alemão logo acabou, devido aos acontecimentos políticos e sociais ocorridos nos anos seguintes.
A técnica e o estilo de Grosz não se limitaram aos desenhos. Ele também trabalhou com fotomontagem, transitando entre o Cubismo, Futurismo e Dadaísmo.
Grosz é associado com Berlim mais intimamente do que qualquer outro artista moderno. Foi lá que nasceu e morreu, depois de exilar-se por mais de 25 anos nos Estados Unidos.
Seus sonhos de se tornar um ilustrador começaram na pequena cidade rural de Stolp, hoje chamada Slupsk, agregada à Polônia. O pequeno George teve acesso a muitos livros baratos de aventura, ricamente ilustrados, muitos deles retratando realidades americanas.
Essa romântica imagem da América pesou em sua decisão de deixar a Alemanha poucas semanas antes de Hitler se tornar chanceler. Além de continuar desenhando e pintando, ele também deu aulas em Nova York.
Todos os passos dados pela Alemanha parecem ter influenciado profundamente sua personalidade, e, com o passar dos anos, ele também começou a perder o amor pela América. Em 1959, voltou para Berlim.
Grosz morreu pouco tempo depois, naquele mesmo ano, aos 66 anos.

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