São Paulo, Sexta-feira, 16 de Abril de 1999
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CINEMA - ESTRÉIAS
Em seu novo filme, Almodóvar volta a ser almodovariano

da Reportagem Local

Pedro Almodóvar volta a ser almodovariano, mas deixa Madri de lado em seu novo filme, que teve pré-estréia na última terça-feira e estréia hoje nos cinemas da Espanha.
"Todo Sobre Mi Madre" ("Tudo Sobre Minha Mãe"), inteiramente protagonizado por mulheres, se passa quase todo em Barcelona, na Catalunha, tendo como cenário os prédios art nouveau do arquiteto catalão Antonio Gaudí.
O retorno do diretor espanhol ao universo feminino, depois do realismo de "Carne Trêmula", seu último filme, é radical: a nova produção traz seis atrizes principais, entre elas Marisa Paredes, Penélope Cruz e Cecilia Roth. Os homens ficam reduzidos a papéis secundários, em que falam pouco ou nada.
A principal atriz, que conduz a trama, é a argentina Cecilia Roth, que volta a trabalhar com Almodóvar depois de 13 anos. Ela já atuou em quatro filmes do diretor -Roth é também a protagonista de "Labirinto de Paixões", de 82, atualmente em cartaz em São Paulo (Espaço Unibanco).
No novo filme, já definido pela crítica espanhola como "um melodrama de fazer chorar", Cecilia Roth é uma argentina que, depois de 17 anos vivendo em Madri, vai a Barcelona à procura do pai de seu filho, vítima de um acidente.
O pai é um travesti, Lola, e, apesar disso -como todos os homens do filme-, um machista que repreende a ex-mulher, Manuela, quando ela usa minissaia.
Perfeitamente encaixado no tradicional mundo "over" do diretor (pré "Carne Trêmula"), Lola não é o único travesti do filme.
Há outro, Agrado, mas interpretado por uma mulher -Antonia San Juan, descoberta por Almodóvar na noite de Madri e que já é apontada como sua nova musa.

Beato
O diretor de fotografia brasileiro Affonso Beato também já pode se considerar um "chico" Almodóvar: é o terceiro filme em que trabalha com o diretor espanhol.
"É ótimo ter filmado com ele de novo. Agora o conheço mais, traduzo suas intenções com mais facilidade, e ele as minhas", disse Beato à Folha, por telefone, de Los Angeles.
No novo filme, o fotógrafo preferiu ser "mais impressionista do que expressionista", ao contrário de "Carne Trêmula": retratou as emoções das cenas muito mais que a tragédia real do filme.
Para Affonso Beato, "Todo Sobre Mi Madre" é "o melhor dos filmes de Almodóvar. É uma tragédia, mas não é um filme triste, dá muita esperança."
O título do filme faz referência a um clássico do cinema, "All About Eve" ("Tudo Sobre Eve", que foi traduzido no Brasil para "A Malvada"), filme dirigido por Joseph Mankiewicz com Bette Davis e Anne Baxter nos papéis principais.
Davis, aliás, é uma das mulheres a quem Almodóvar dedicou sua nova obra -também à mãe, a "todas que querem ser mães", e às atrizes Gena Rowlands e Romy Schneider.
Segundo disse o diretor em entrevista coletiva à imprensa espanhola, "as mulheres são mais sábias no mundo dos afetos, permitem que o ciclo da dor seja natural, têm mais profundidade no trato, mais curiosidade, mais disponibilidade para se relacionar".
As que aparecem em seu filme são mulheres sozinhas, solteiras ou separadas. "Mulheres sós, mas donas de sua solidão", disse. Tudo isso na "balsâmica" Barcelona, como define Almodóvar.
"Todo Sobre Mi Madre", que será exibido fora de competição no próximo festival de Cannes, ainda não tem data prevista para estréia no Brasil. (CYNARA MENEZES)


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