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CINEMA - ESTRÉIAS
Em seu novo filme, Almodóvar volta a ser almodovariano
da Reportagem Local
Pedro Almodóvar volta a ser almodovariano, mas deixa Madri de
lado em seu novo filme, que teve
pré-estréia na última terça-feira e
estréia hoje nos cinemas da Espanha.
"Todo Sobre Mi Madre" ("Tudo
Sobre Minha Mãe"), inteiramente
protagonizado por mulheres, se
passa quase todo em Barcelona, na
Catalunha, tendo como cenário os
prédios art nouveau do arquiteto
catalão Antonio Gaudí.
O retorno do diretor espanhol ao
universo feminino, depois do realismo de "Carne Trêmula", seu último filme, é radical: a nova produção traz seis atrizes principais, entre elas Marisa Paredes, Penélope
Cruz e Cecilia Roth. Os homens ficam reduzidos a papéis secundários, em que falam pouco ou nada.
A principal atriz, que conduz a
trama, é a argentina Cecilia Roth,
que volta a trabalhar com Almodóvar depois de 13 anos. Ela já atuou
em quatro filmes do diretor
-Roth é também a protagonista
de "Labirinto de Paixões", de 82,
atualmente em cartaz em São Paulo (Espaço Unibanco).
No novo filme, já definido pela
crítica espanhola como "um melodrama de fazer chorar", Cecilia
Roth é uma argentina que, depois
de 17 anos vivendo em Madri, vai a
Barcelona à procura do pai de seu
filho, vítima de um acidente.
O pai é um travesti, Lola, e, apesar disso -como todos os homens
do filme-, um machista que repreende a ex-mulher, Manuela,
quando ela usa minissaia.
Perfeitamente encaixado no tradicional mundo "over" do diretor
(pré "Carne Trêmula"), Lola não é
o único travesti do filme.
Há outro, Agrado, mas interpretado por uma mulher -Antonia
San Juan, descoberta por Almodóvar na noite de Madri e que já é
apontada como sua nova musa.
Beato
O diretor de fotografia brasileiro
Affonso Beato também já pode se
considerar um "chico" Almodóvar: é o terceiro filme em que trabalha com o diretor espanhol.
"É ótimo ter filmado com ele de
novo. Agora o conheço mais, traduzo suas intenções com mais facilidade, e ele as minhas", disse Beato à Folha, por telefone, de Los Angeles.
No novo filme, o fotógrafo preferiu ser "mais impressionista do
que expressionista", ao contrário
de "Carne Trêmula": retratou as
emoções das cenas muito mais que
a tragédia real do filme.
Para Affonso Beato, "Todo Sobre
Mi Madre" é "o melhor dos filmes
de Almodóvar. É uma tragédia,
mas não é um filme triste, dá muita
esperança."
O título do filme faz referência a
um clássico do cinema, "All About
Eve" ("Tudo Sobre Eve", que foi
traduzido no Brasil para "A Malvada"), filme dirigido por Joseph
Mankiewicz com Bette Davis e Anne Baxter nos papéis principais.
Davis, aliás, é uma das mulheres
a quem Almodóvar dedicou sua
nova obra -também à mãe, a "todas que querem ser mães", e às
atrizes Gena Rowlands e Romy
Schneider.
Segundo disse o diretor em entrevista coletiva à imprensa espanhola, "as mulheres são mais sábias no mundo dos afetos, permitem que o ciclo da dor seja natural,
têm mais profundidade no trato,
mais curiosidade, mais disponibilidade para se relacionar".
As que aparecem em seu filme
são mulheres sozinhas, solteiras ou
separadas. "Mulheres sós, mas donas de sua solidão", disse. Tudo isso na "balsâmica" Barcelona, como define Almodóvar.
"Todo Sobre Mi Madre", que será exibido fora de competição no
próximo festival de Cannes, ainda
não tem data prevista para estréia
no Brasil.
(CYNARA MENEZES)
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