São Paulo, Sexta-feira, 16 de Abril de 1999
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DICAS DO ED
Retiro tudo o que já disse sobre vinhos italianos

ED MOTTA
Colunista da Folha

Mudar de opinião é uma coisa sadia, mas de início me dá uma espécie de vergonha/raiva da anterior. Arrependo-me de ter dito que não era grande fã de vinho italiano, exceto os "grandes". Recentemente tive uma surpresa de chorar (de emoção, prazer e... vergonha): o Umbria Montiano da safra 96, um merlot do produtor Falesco.
Uma obra de arte! Aromas explosivos e um paladar em que falar de perfeição seria pouco.Quando tomei não consegui esperar a comida ficar pronta -bem antes disso a vontade era estar na Umbria ou em São Paulo para beber uma caixa.
O Rubino, outro desse produtor, também não fica atrás, com estrutura no mesmo nível dos melhores da Toscana. Depois dessas duas jóias foi atrás de outras curiosidades da região e do sul da Itália. Ainda na Umbria degustei vinhos de dois dos maiores produtores.
O Montefalco (sangiovese e sagrantino) do Arnaldo Caprai 95 tem aromas que lembram cereja, com notas de pimenta-do-reino e, na boca, um pouco tânico. O da Azienda Adanti, safra 91, um blend de barbera, cabernet e merlot, é cheio de personalidade. É uma beleza descobrir que, apesar das pressões que as regiões sofrem para atender a enxurrada de gente que quer ver cabernet sauvignon até em Marte, consegue-se manter um sotaque totalmente local.
Se eu tiver que falar dos dez melhores vinhos italianos que já tomei, dois deles estão neste texto: o Montiano e o Patriglione. Blend das uvas negroamaro (90%) e malvasia nera (10%), o Patriglione de 90 assusta de tão bom e complexo, com nariz de chocolate, passas e frutas secas, que vai ficando cada vez melhor no copo e boca.
A caminho do sul, deparo-me com um dos maiores prazeres do vinho: qualidade por bom preço. Esse é o caso do Primitivo de Manduria, do produtor Di Marco. A uva primitivo é uma ancestral da zinfandel da Califórnia. O vinho parece um Amarone, um dos meus favoritos, com misto de aromas de frutos secos e maduros e excepcional capacidade de envelhecimento.
O segundo vinho desse produtor é o Malvanera, um malvasia honestíssimo para uma boa pizza (com massa alta). Para finalizar, degustei um delicioso Sardegna, o Dule, de 96, um cannonau (versão italiana da uva grenache) com pequenas quantidades de sangiovese, montepultiano e a onipresente cabernet. Boa concentração e aromas exóticos de cravo e pimenta.


Vinhos: Montiano e Rubino (Mistral, tel. 011/ 283-0006), Montefalco e Caprai (Cellar, tel. 011/ 531-2419), Patriglione, Dule e Adanti (Vino Divino, tel. 011/829-0338), Primitivo e Malvanera, Di Marco (Vinishop, tel. 021/263-9581)


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