PAULO VIEIRA
especial para a Folha

O título em português carnavalesco induz ao erro: "Como Enlouquecer Seu Chefe" não é uma comédia com atores fazendo gags ou com piadas absurdas no roteiro. Escrito pelo mesmo criador de "Beavis & Butt-Head", o equatoriano Mike Judge, o filme é uma comédia cínica, sombria, com atores desajustados ao riso.
É uma produção que só poderia ser ambientada nos EUA, país cerzido na ética protestante do trabalho e, pior, ainda considerado uma Graceland, uma terra de oportunidades.
Assim, não faz qualquer sentido para os americanos que Peter Gibbons (Ron Livingston, de "Swingers"), o protagonista, resolva um dia mandar seu bom emprego como consultor de informática às favas, optando, em dado momento, por tornar-se pedreiro como seu vizinho.
Também é pouco verossímil que ele consiga envolver dois de seus colegas, Michael Bolton (tal qual o cantor, embora "eu exista antes de ele se tornar famoso", diz o personagem) e Samir, num plano para desfalcar o banco para o qual trabalham.
Mas Judge constrói, exclusivamente dentro do espaço uniforme de um escritório, uma situação opressora, que justifica os desenlaces citados.
Da telefonista que atende dezenas de chamadas por minuto repetindo o mesmo texto no mesmo tom monocórdio aos oito superiores que cobram Gibbons por um detalhe burocrático, tudo concorre para a explosão do protagonista -catalisada ainda pela presença de dois consultores de RH, instalados na empresa para promover demissões.
Gibbons tem também um chefe que detesta, daqueles incapazes de dar broncas sem antes procurar um eufemismo, até quem sabe um elogio ao funcionário, um chefe completamente inserido na rotina da empresa.
Mas toda essa ambiência dilbertiana se perde quando Gibbons descobre que seu chefe ficou um dia, no passado, com sua namorada, a garçonete Joanna (Jennifer Aniston, de "Friends"). Nesse momento, Judge parece voltar a falar com o público adolescente da sua dupla de personagens famosos.
Um deslize que não desmancha duas sequências desde já antológicas: a indignação do chefe de Joanna por vê-la usar sempre o número mínimo de bottons, 15, em seu uniforme e a sensacional humanização da máquina de xerox, furtada da empresa pelos três colegas.
Levada para um matagal, e com a câmera deslocada para a máquina, vemos Bolton dar nela com vontade, com um bastão de beisebol, enquanto os outros são contidos com muito esforço para não continuar chutando-lhe os componentes. Só porque sempre emperrava.

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