|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"LAMENTAMOS INFORMAR"
O Vietnã e suas viúvas
ADRIANE GRAU
em San Francisco
"Sentimos muito informar...",
começava a burocrática carta recebida por milhares de centenas de
jovens cujos maridos morreram
em combate na Guerra do Vietnã.
Barbara Sonneborn estava às
vésperas de completar 24 anos
quando abriu o envelope informando que seu marido, Jeff Gurvitz, havia morrido em combate.
Ao sentar para lhe escrever uma
carta de despedida, ela sem querer
iniciou um longo processo de
compreensão da guerra e suas consequências. O resultado aparece 30
anos depois em "Lamentamos Informar", documentário exibido
hoje no festival É Tudo Verdade.
Após ter emocionado platéias lotadas, o documentário recebeu o
prêmio máximo em sua categoria
no festival de Sundance e foi indicado ao Oscar deste ano.
O roteiro de "Lamentamos Informar", seu primeiro documentário,
se concretizou em 1992, quando ela
passou sete semanas no Vietnã entrevistando viúvas da guerra.
"Não queria mostrar apenas a
versão das viúvas americanas", diz
ela. "As americanas sofreram, mas
as vietnamitas, além de sofrer, tornam-se responsáveis pelo sustento
da família do marido quando ficam viúvas."
Em sua jornada pelo Vietnã, Sonneborn foi acompanhada por
Xuan Ngoc Evans.
Nascida naquele país, ela tinha 14
anos quando perdeu a família inteira na guerra. Seu marido morreu lutando pelo Vietnã do Sul, três
anos depois, quando ela estava
grávida de dois meses. Forçada a se
prostituir para sustentar o filho,
ela acabou se casando com um soldado americano e hoje vive com
ele e os três filhos em Seattle.
"Sem maconha ou drogas, eu jamais poderia tirar a roupa na frente de um homem que acabei de conhecer", diz ela na entrevista que
se tornou o fio narrativo do documentário. "Eu tinha medo do que
meus filhos iam pensar, mas eles
me entendem melhor agora."
O filme revela detalhes dolorosos
sobre como as viúvas eram informadas sobre os ferimentos dos
maridos. Um diagrama do Exército era enviado pelo correio, determinando a localização de cada tipo
de ferida e mutilação na vítima.
Grace, uma das entrevistadas,
lembra que, ao ligar para seu médico e relatar os ferimentos sofridos
pelo marido, escutou o que não estava preparada para entender:
"Reze para ele morrer logo".
"Eu não queria que Jeff fosse para
o Vietnã, pois eu era contra a guerra", lembra Sonneborn. "Mas ele
ficou muito bravo comigo e me explicou que, se ele não fosse, alguém
teria que ir em seu lugar."
Ela diz ainda que demorou 20
anos para criar coragem e assistir a
um documentário sobre a guerra.
"Meu medo era ver meu marido
ser morto na frente da câmera", diz
ela, que quebrou a barreira ao ver
"Dear America", em 1989.
Avaliação:
Filme: Lamentamos Informar
Direção: Barbara Sonneborn
Quando: hoje, às 19h
Onde: Estação Vitrine
Texto Anterior: Filme esboça três séculos de história Próximo Texto: Debate reúne América e Europa Índice
|