São Paulo, Sexta-feira, 16 de Abril de 1999
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"LAMENTAMOS INFORMAR"
O Vietnã e suas viúvas

ADRIANE GRAU
em San Francisco

"Sentimos muito informar...", começava a burocrática carta recebida por milhares de centenas de jovens cujos maridos morreram em combate na Guerra do Vietnã.
Barbara Sonneborn estava às vésperas de completar 24 anos quando abriu o envelope informando que seu marido, Jeff Gurvitz, havia morrido em combate. Ao sentar para lhe escrever uma carta de despedida, ela sem querer iniciou um longo processo de compreensão da guerra e suas consequências. O resultado aparece 30 anos depois em "Lamentamos Informar", documentário exibido hoje no festival É Tudo Verdade.
Após ter emocionado platéias lotadas, o documentário recebeu o prêmio máximo em sua categoria no festival de Sundance e foi indicado ao Oscar deste ano.
O roteiro de "Lamentamos Informar", seu primeiro documentário, se concretizou em 1992, quando ela passou sete semanas no Vietnã entrevistando viúvas da guerra.
"Não queria mostrar apenas a versão das viúvas americanas", diz ela. "As americanas sofreram, mas as vietnamitas, além de sofrer, tornam-se responsáveis pelo sustento da família do marido quando ficam viúvas."
Em sua jornada pelo Vietnã, Sonneborn foi acompanhada por Xuan Ngoc Evans.
Nascida naquele país, ela tinha 14 anos quando perdeu a família inteira na guerra. Seu marido morreu lutando pelo Vietnã do Sul, três anos depois, quando ela estava grávida de dois meses. Forçada a se prostituir para sustentar o filho, ela acabou se casando com um soldado americano e hoje vive com ele e os três filhos em Seattle.
"Sem maconha ou drogas, eu jamais poderia tirar a roupa na frente de um homem que acabei de conhecer", diz ela na entrevista que se tornou o fio narrativo do documentário. "Eu tinha medo do que meus filhos iam pensar, mas eles me entendem melhor agora."
O filme revela detalhes dolorosos sobre como as viúvas eram informadas sobre os ferimentos dos maridos. Um diagrama do Exército era enviado pelo correio, determinando a localização de cada tipo de ferida e mutilação na vítima.
Grace, uma das entrevistadas, lembra que, ao ligar para seu médico e relatar os ferimentos sofridos pelo marido, escutou o que não estava preparada para entender: "Reze para ele morrer logo".
"Eu não queria que Jeff fosse para o Vietnã, pois eu era contra a guerra", lembra Sonneborn. "Mas ele ficou muito bravo comigo e me explicou que, se ele não fosse, alguém teria que ir em seu lugar."
Ela diz ainda que demorou 20 anos para criar coragem e assistir a um documentário sobre a guerra. "Meu medo era ver meu marido ser morto na frente da câmera", diz ela, que quebrou a barreira ao ver "Dear America", em 1989.


Avaliação:


Filme: Lamentamos Informar Direção: Barbara Sonneborn Quando: hoje, às 19h Onde: Estação Vitrine


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