|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ruiz investiga incertezas que vêm do Chile
DA ENVIADA ESPECIAL A CANNES
"Um filme suíço de Raoul
Ruiz" é como o diretor registrou seu crédito em "Ce Jour-Là" (Este Dia), primeiro competidor à Palma de Ouro do
Festival de Cannes.
Mas o cineasta chileno radicado na França desde o golpe
militar de 1972 disse que, na
terceira semana de filmagens,
percebeu que seu longa-metragem ambientado na Suíça dizia
respeito ao Chile.
A "revelação" surgiu da própria trama de "Ce Jour-Là", em
que uma série de assassinatos
envolve todos os membros de
uma família e uma disputa entre dois grandes empresários.
Narrado num tom fantasioso, o filme nunca dá ao espectador a certeza sobre quem morreu e quem matou. Mas ficam
claras as indicações de que um
substrato de patriotismo mistura-se aos interesses financeiros, formando o pano de fundo para os homicídios.
"Esbarrar na morte; saber da
existência de crimes que não
estão nunca onde pensamos
que estão, tudo isso é o meu
país", afirma Ruiz.
Com "Ce Jour-Là", o cineasta
compete pela 12ª vez em Cannes. Na entrevista coletiva que
concedeu ontem, Ruiz disse
que "este é um filme de atores".
No elenco estão Bernard Giraudeau, Elsa Zylberstein,
Jean-Luc Bideau, Jean-François Balmer, Rufus. O mediador da entrevista escalado pelo festival observa que são todos
nomes conhecidos do teatro
europeu, esperando arrancar
do cineasta um elogio à formação dramatúrgica do elenco.
O comentário do diretor foi:
"Particularmente, não gosto de
assistir a peças. Só vou ao teatro
quando as temporadas estão se
esgotando, e, de tanto repetir o
texto, os atores parecem esqueletos em cena. Minha tradição
hispânica me força a respeitar
os esqueletos".
Raoul Ruiz continua sendo
um cineasta que surpreende.
Nem sempre agradavelmente.
Texto Anterior: Cinema: Cannes aplaude pessimismo argentino Próximo Texto: Mondo Cannes Índice
|