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Loach proporciona o melhor momento
do enviado a Cannes
O roubo por um time de várzea de uma coleção de uniformes da seleção brasileira campeã do mundo de 1970 funciona
como a grande pausa cômica do
tocante "My Name Is Joe"
(Meu Nome É Joe), que Ken
Loach apresentou ontem na
competição de Cannes-98.
As camisas amarelas de Pelé e
cia. substituem o surrado conjunto branco e preto da Alemanha campeã de 1974 no medíocre time do ex-alcoólatra Joe
Kavanagh (Peter Mullan).
Joe junta-se à galeria de humilhados e ofendidos da Grã-Bretanha contemporânea celebrada
pela engajada obra de Loach. A
partir de uma história de amor
em Glasgow, Loach revela as
raízes do desajuste social no
Reino Unido pós-Thatcher.
A assistente social Sarah
(Louise Goodall) conhece Joe
num dos subúrbios mais carentes da capital escocesa. Um casal
de jovens toxicômanos faz a
ponte entre eles. Acabará também por separá-los.
Endividados com o chefe do
tráfico local, levam o bondoso
Joe a aceitar a tarefa de transportar duas encomendas de
drogas. Cansada de confrontar-se cotidianamente com as
consequências do vício, Sarah
descobre o que Joe dela ocultava. Ao romper com ele, catalisa
o capítulo final da tragédia.
Na obra de Loach, menos
(produção) é mais (cinema).
Seu forte é revelar a intimidade
dos deserdados e os detalhes
concretos da falência do Estado
de bem-estar social.
"My Name Is Joe" dá conta
de ambos com uma fluência
narrativa e com uma delicadeza
de registro que fazem parecer
fácil. Tanto não o é que nada
chega nem sequer perto de
"Joe" em termos de excelência
cinematográfica até aqui neste
festival. Pode não ser a Palma
-mas já é um clássico.
Das drogas que destroem vidas na Escócia atual para as que
pautavam arte nos EUA da era
hippie. Sai "Joe", entra "Fear
and Loathing in Las Vegas".
Num piscar de olhos, do melhor
ao pior de Cannes-98.
"Fear and Loathing" adapta
um marco do jornalismo literário americano, de Hunter S.
Thompson. Em 1971, ele fez
uma reportagem sobre uma
corrida de carros próxima a Las
Vegas. Thompson transformou-a num misto de ensaio e
novela sobre como o sonho
americano fez-se pesadelo. A
missão jornalística virou uma
odisséia lisérgica para Thompson e seu advogado, dr. Gonzo.
Gilliam optou por um tratamento cartunesco. Tudo é berrante, exagerado. A letra do texto está lá, mas o filme acaba sendo fiel não a Thompson, mas
sim às ilustrações surreais de
Ralph Steadman para o livro.
Johnny Depp estrela. É outro
fracasso para sua coleção.
(AL)
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