São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2005

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TEATRO

O tema da finitude é tratado em "White Cabin", espetáculo da companhia de São Petersburgo que vai a Londrina e Brasília

Grupo russo Akhe extrai fantasia da morte

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A LONDRINA

Para um país de tradição secular no teatro, como a Rússia de Tchekhov, onde a dramaturgia é tão respeitada quanto a literatura de um Dostoiévski, surpreendem os grupos contemporâneos que dispensam o uso da palavra em cena.
É o caso do Akhe Group, de São Petersburgo, que passou pelo Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte, no ano passado, e está de volta ao país para se apresentar de hoje a sábado no Festival Internacional de Londrina, o Filo 2005 (teatro Ouro Verde, 20h30), e depois vai para a Mostra Internacional de Teatro em Brasília (25 e 26/6).
Em "White Cabin" (cabine branca), três atores projetam episódios do cotidiano que dizem respeito à morte para além do corpo: a morte de uma cultura, de um país, de uma alma. Como conciliar a questão da finitude com o universo da fantasia, que se anuncia recheado pelo humor e tons surrealistas? Depende do que cada um entende por morte, segundo o produtor e iluminador do Akhe, Vadim Gololobov: "Para alguns, a morte não significa uma realidade dura. Tampouco significa que vamos falar de violência, de guerra. Tentamos mostrar que o tema não precisa ser abordado de forma extravagante, mas de maneira mais sofisticada".
A encenação concebida por Maxim Isaev e Pavel Semtchenko, ambos no elenco, faz uso de imagens de pinturas, fotografias e vídeos. O espaço cênico é projetado como um protagonista que pede a contracenação do espectador a ser capturado não por uma história linear, mas por "sensações visuais". O Ackhe bebe na mesma fonte da indústria do entretenimento, cujo poder da imagem é conhecido, mas as intenções não são predatórias; antes, quer alimentar sua "engenharia teatral".
"Somos parte do mesmo mundo e, naturalmente, sentimos esses reflexos. Usamos o entretenimento para "falar" uma língua universal por meio da música, da imagem, dos relacionamentos humanos", diz Gololobov.
Há espaço também para a ação física em meio ao forte apelo visual. "Os atores apresentam uma série de episódios que expõem os vícios humanos por meio da expressão facial. É como se o mundo exterior não existisse. O espetáculo faz um exame das atividades do cotidiano criadas com o sentimento explícito e poético da alienação, expondo os absurdos da vida, simultaneamente melancólico e alto-astral."
A aproximação com as artes visuais e o cinema está na origem do Akhe na cidade de São Petersburgo. A formação remete a 1989, quando Isaev, Semtchenko e Vadim Vasilev passaram a integrar o teatro Yes-No, de Boris Ponizovski, fundindo performance e cinema. O braço teatral ganhou força a partir de 1996, quando o trio batizou o grupo Akhe -nome sem significado especial, adotado mais pela sua sonoridade- e estreou o espetáculo "Catálogo do Herói".
Sobre a força do teatro da palavra na Rússia, Gololobov diz que a cena atual de seu país abriga vários projetos que instauram certa ruptura em favor da diversidade de linguagens. "Não lutamos propriamente com aquela tradição, nem somos o único grupo de teatro visual na Rússia. Existem núcleos de dança e de performance em outros circuitos."
Formada na Rússia e hoje radicada na Alemanha, a cia. Derevo (árvore) é um exemplo desse segmento. Ela já passou por Londrina, São José do Rio Preto e São Paulo -a última vez, em 2002, com o espetáculo tragicômico "Once... Amor, Lágrimas e Corações Partidos", encenado pelo ator Anton Adassinski.
Nos dias 25 e 26/6, o Akhe leva "White Cabin" para o encerramento da Mostra Internacional de Teatro em Brasília, no Centro Cultural Banco do Brasil (sáb., às 21h, e dom., às 20h; R$ 15, tel. 0/ xx/61/310-7087).


O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do festival

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