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TEATRO
O tema da finitude é tratado em "White Cabin", espetáculo da companhia de São Petersburgo que vai a Londrina e Brasília
Grupo russo Akhe extrai fantasia da morte
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A LONDRINA
Para um país de tradição secular
no teatro, como a Rússia de Tchekhov, onde a dramaturgia é tão
respeitada quanto a literatura de
um Dostoiévski, surpreendem os
grupos contemporâneos que dispensam o uso da palavra em cena.
É o caso do Akhe Group, de São
Petersburgo, que passou pelo Festival Internacional de Teatro de
Belo Horizonte, no ano passado, e
está de volta ao país para se apresentar de hoje a sábado no Festival Internacional de Londrina, o
Filo 2005 (teatro Ouro Verde,
20h30), e depois vai para a Mostra
Internacional de Teatro em Brasília (25 e 26/6).
Em "White Cabin" (cabine
branca), três atores projetam episódios do cotidiano que dizem
respeito à morte para além do
corpo: a morte de uma cultura, de
um país, de uma alma. Como
conciliar a questão da finitude
com o universo da fantasia, que se
anuncia recheado pelo humor e
tons surrealistas? Depende do que
cada um entende por morte, segundo o produtor e iluminador
do Akhe, Vadim Gololobov: "Para alguns, a morte não significa
uma realidade dura. Tampouco
significa que vamos falar de violência, de guerra. Tentamos mostrar que o tema não precisa ser
abordado de forma extravagante,
mas de maneira mais sofisticada".
A encenação concebida por Maxim Isaev e Pavel Semtchenko,
ambos no elenco, faz uso de imagens de pinturas, fotografias e vídeos. O espaço cênico é projetado
como um protagonista que pede a
contracenação do espectador a
ser capturado não por uma história linear, mas por "sensações visuais". O Ackhe bebe na mesma
fonte da indústria do entretenimento, cujo poder da imagem é
conhecido, mas as intenções não
são predatórias; antes, quer alimentar sua "engenharia teatral".
"Somos parte do mesmo mundo e, naturalmente, sentimos esses reflexos. Usamos o entretenimento para "falar" uma língua
universal por meio da música, da
imagem, dos relacionamentos
humanos", diz Gololobov.
Há espaço também para a ação
física em meio ao forte apelo visual. "Os atores apresentam uma
série de episódios que expõem os
vícios humanos por meio da expressão facial. É como se o mundo
exterior não existisse. O espetáculo faz um exame das atividades do
cotidiano criadas com o sentimento explícito e poético da alienação, expondo os absurdos da
vida, simultaneamente melancólico e alto-astral."
A aproximação com as artes visuais e o cinema está na origem do
Akhe na cidade de São Petersburgo. A formação remete a 1989,
quando Isaev, Semtchenko e Vadim Vasilev passaram a integrar o
teatro Yes-No, de Boris Ponizovski, fundindo performance e cinema. O braço teatral ganhou força
a partir de 1996, quando o trio batizou o grupo Akhe -nome sem
significado especial, adotado mais
pela sua sonoridade- e estreou o
espetáculo "Catálogo do Herói".
Sobre a força do teatro da palavra na Rússia, Gololobov diz que a
cena atual de seu país abriga vários projetos que instauram certa
ruptura em favor da diversidade
de linguagens. "Não lutamos propriamente com aquela tradição,
nem somos o único grupo de teatro visual na Rússia. Existem núcleos de dança e de performance
em outros circuitos."
Formada na Rússia e hoje radicada na Alemanha, a cia. Derevo
(árvore) é um exemplo desse segmento. Ela já passou por Londrina, São José do Rio Preto e São
Paulo -a última vez, em 2002,
com o espetáculo tragicômico
"Once... Amor, Lágrimas e Corações Partidos", encenado pelo
ator Anton Adassinski.
Nos dias 25 e 26/6, o Akhe leva
"White Cabin" para o encerramento da Mostra Internacional
de Teatro em Brasília, no Centro
Cultural Banco do Brasil (sáb., às
21h, e dom., às 20h; R$ 15, tel. 0/
xx/61/310-7087).
O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do festival
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