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ARTES PLÁSTICAS
Veneza celebra feminismo multicultura
France Presse
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Visitantes da Bienal de Veneza observam instalação do artista japonês Tatsuo Miyajima |
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Veneza
A premiação da Bienal de Veneza, no último sábado, foi recebida
com simpatia pelo público de sua
48ª edição. Com exceção da premiação do pavilhão da Itália, selecionado como a melhor representação nacional (leia texto nesta página), que foi recebido com vaias,
Veneza desenvolveu uma conveniente empatia com o espectador
em geral e com a crítica ao selecionar trabalhos que, embora experimentais, possuíam apelo formal,
principalmente na área de vídeo.
É o caso da iraniana Shirin Neshat, que recebeu um prêmio Bienal
de Veneza por seu vídeo "Turbulent", já exibido no final do ano
passado em Nova York. "Turbulent" apresenta de forma concisa,
lúdica e impactante as divisões entre o universo masculino e feminino na cultura islâmica por meio da
performance de dois cantores e do
relacionamento com suas platéias:
a do homem é formada apenas por
homens, e a da mulher está vazia.
As projeções são em telas opostas,
frente a frente.
Katarzyna Koryza, representante
do pavilhão da Polônia, recebeu
uma menção honrosa também pela maneira como questiona o domínio autoritário masculino em
dois vídeos: um realizado com
uma espécie de câmera oculta em
saunas masculinas na Polônia (curiosamente, saunas também de
origem muçulmana, consequência
da presença otomana em países eslavos, como Hungria, Polônia, Iugoslávia e outros). No segundo vídeo, Koryza protagoniza uma sessão de maquiagem em que transforma sua identidade ao implantar
cavanhaque, bigode, pelos no peito e na virilha e um pênis.
O confronto entre o universo
masculino e o feminino também é
o tema do aborrecido vídeo da finlandesa Eija-Liisa Ahtila, vencedora de uma menção honrosa, que
consiste na gravação das sessões de
terapia de uma psicóloga com um
casal à beira da separação.
A temática feminista também é o
argumento da egípcia Ghada
Amer, que recebeu um prêmio
não-oficial da Unesco por uma série de bordados com imagens de
mulheres sobre telas e sobre travesseiros. Suas mulheres, porém,
apesar de protagonizarem cenas libidinosas, aparecem desfiadas e
repetitivas, como que em um constante processo de perda da identidade.
O vídeo é ainda o meio usado pelo californiano Doug Aitken, outro
premiado na Bienal de Veneza, para recuperar uma pesquisa narrativa cinematográfica mais experimental -ponto este destacado pelo júri do evento, composto por
Okwui Enwezor (Nigéria/EUA),
Zdenka Badovinac (Eslovênia),
Ida Gianelli (Itália), Yuko Hasegawa (Japão) e Rosa Martinez (Espanha/EUA).
O terceiro prêmio da Bienal de
Veneza foi para a impactante instalação de esculturas em argila e
pequenas luminárias em papel vegetal em que o chinês Cai Guo-Qiang narra com incrível realismo
a história e o desenvolvimento social dos chineses. Guo-Qiang, que
já esteve em uma Bienal de São
Paulo, voltará ao país em julho para participar de um projeto com
crianças em Salvador. Ficará seis
semanas no Brasil.
Outras duas menções honrosas
foram concedidas à instalação de
Georges Adéagbo, de Benin, que
esteve na Bienal de São Paulo no
ano passado, e à coreana Lee Bul,
que tinha instalações em seu pavilhão nacional e esculturas na mostra "dAPERTutto". Louise Bourgeois e Bruce Nauman foram premiados com o Leão de Ouro pelo
conjunto de sua obra.
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