São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS
Veneza celebra feminismo multicultura

France Presse
Visitantes da Bienal de Veneza observam instalação do artista japonês Tatsuo Miyajima


CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Veneza


A premiação da Bienal de Veneza, no último sábado, foi recebida com simpatia pelo público de sua 48ª edição. Com exceção da premiação do pavilhão da Itália, selecionado como a melhor representação nacional (leia texto nesta página), que foi recebido com vaias, Veneza desenvolveu uma conveniente empatia com o espectador em geral e com a crítica ao selecionar trabalhos que, embora experimentais, possuíam apelo formal, principalmente na área de vídeo.
É o caso da iraniana Shirin Neshat, que recebeu um prêmio Bienal de Veneza por seu vídeo "Turbulent", já exibido no final do ano passado em Nova York. "Turbulent" apresenta de forma concisa, lúdica e impactante as divisões entre o universo masculino e feminino na cultura islâmica por meio da performance de dois cantores e do relacionamento com suas platéias: a do homem é formada apenas por homens, e a da mulher está vazia. As projeções são em telas opostas, frente a frente.
Katarzyna Koryza, representante do pavilhão da Polônia, recebeu uma menção honrosa também pela maneira como questiona o domínio autoritário masculino em dois vídeos: um realizado com uma espécie de câmera oculta em saunas masculinas na Polônia (curiosamente, saunas também de origem muçulmana, consequência da presença otomana em países eslavos, como Hungria, Polônia, Iugoslávia e outros). No segundo vídeo, Koryza protagoniza uma sessão de maquiagem em que transforma sua identidade ao implantar cavanhaque, bigode, pelos no peito e na virilha e um pênis.
O confronto entre o universo masculino e o feminino também é o tema do aborrecido vídeo da finlandesa Eija-Liisa Ahtila, vencedora de uma menção honrosa, que consiste na gravação das sessões de terapia de uma psicóloga com um casal à beira da separação.
A temática feminista também é o argumento da egípcia Ghada Amer, que recebeu um prêmio não-oficial da Unesco por uma série de bordados com imagens de mulheres sobre telas e sobre travesseiros. Suas mulheres, porém, apesar de protagonizarem cenas libidinosas, aparecem desfiadas e repetitivas, como que em um constante processo de perda da identidade.
O vídeo é ainda o meio usado pelo californiano Doug Aitken, outro premiado na Bienal de Veneza, para recuperar uma pesquisa narrativa cinematográfica mais experimental -ponto este destacado pelo júri do evento, composto por Okwui Enwezor (Nigéria/EUA), Zdenka Badovinac (Eslovênia), Ida Gianelli (Itália), Yuko Hasegawa (Japão) e Rosa Martinez (Espanha/EUA).
O terceiro prêmio da Bienal de Veneza foi para a impactante instalação de esculturas em argila e pequenas luminárias em papel vegetal em que o chinês Cai Guo-Qiang narra com incrível realismo a história e o desenvolvimento social dos chineses. Guo-Qiang, que já esteve em uma Bienal de São Paulo, voltará ao país em julho para participar de um projeto com crianças em Salvador. Ficará seis semanas no Brasil.
Outras duas menções honrosas foram concedidas à instalação de Georges Adéagbo, de Benin, que esteve na Bienal de São Paulo no ano passado, e à coreana Lee Bul, que tinha instalações em seu pavilhão nacional e esculturas na mostra "dAPERTutto". Louise Bourgeois e Bruce Nauman foram premiados com o Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra.


Texto Anterior: Marcelo Coelho: Morte é tratada como apertar o "delete" no teclado
Próximo Texto: "Aspecto mundano" ainda impressiona
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.