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DISCO/CRÍTICA
Temas quentes do pop atual norteiam "Coleção Nacional"
DA REPORTAGEM LOCAL
Não se deixe enganar pelo título. Apesar do jeitão de coletânea, "Coleção Nacional" é um
trabalho autoral de quilate, em
que algumas das questões mais
candentes da música pop atual
ganham corpo brasileiro.
Se a autoria permanece bem demarcada no trabalho do Instituto,
mesmo com a propalada ameaça
de extinção da espécie, ela já não
tem a feição de antes. Os autores
fogem das câmeras fotográficas e
se escondem por trás de um elenco diversificado de coadjuvantes.
O trabalho coletivo é outra
questão premente. Após décadas
de individualismo pop no Brasil,
o Instituto faz-se cimento agregador de pop sólido, forte, grupal.
Exemplares disso são faixas como "Na Ladeira" (belíssimos vocais de Roger Man, do Bonsucesso Samba Clube, pandeiro de Pupilo, da Nação Zumbi, flauta de
Alexandre Basa, do Mamelo
Sound System) e "O Dia Seguinte" (vocais contidos de Otto, sample do "Tim Maia Racional",
scratches de Zé Gonzales).
Outro elemento de frente é a circulação de conhecimento. Ideologicamente, o Instituto expõe seus
convidados ao confronto musical,
à ameaça ao já sabido e sedimentado. Rappin" Hood, dizem os
produtores, se assustou e de cara
desgostou do resultado de "Dia de
Desfile". Não se reconheceu em
sua criação -era a ameaça dando
asas desconhecidas ao rapper.
O intercâmbio de conhecimento tem seu ápice na participação
do fortíssimo Sabotage. O Instituto queria extrair samba do jovem
rapper. Rica e Tejo o ajudaram
em "Cabeça de Nego", compondo
perspicaz sonoridade de samba
enquanto ele fazia a letra ferina.
Sabotage aprendeu e fez, solitária e brilhantemente, o samba-rap
"Dama Tereza", possível marco
de um novo momento do pop daqui -isso se for ouvido, tanto nas
periferias do hip hop quanto nos
bunkers da classe média.
O Instituto está, em suma, catalisando e fazendo circular todo esse aparato. A indústria, que tem
em garotos como eles faca e queijo para empurrar a música brasileira ao século 21, prefere cair nas
arapucas que ela própria armou.
De volta ao autor, se ele é espécie em extinção? Pode até ser, mas
quem desgosta do mico-leão, da
baleia, do golfinho, do Instituto?
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Coleção Nacional
Grupo: Instituto
Lançamento: Instituto/YB Music
Quanto: R$ 25, em média
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