São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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Que personagem da literatura brasileira melhor representa o Dom Quixote?

"Acho que, pelo sacrifício dele, o Quixote brasileiro seria em parte o Policarpo Quaresma. Por essa coisa de lutar contra os outros, de se entregar sem maiores considerações. O Policarpo queria fazer uma língua nacional, voltar ao tupi-guarani. Chegou até a escrever para a Câmara dos Deputados propondo isso. Mas o Papa-Rabo também é uma boa opção. E o Quincas Borba, então, é perfeito. Porque é essa mesma loucura incendiária do Dom Quixote. (Autran Dourado, escritor)

"Na modernidade de Jorge Luis Borges e Pierre Menard, o exemplo notável de "versão" do romance é o conto "A Terceira Margem do Rio", de Guimarães Rosa. O contraste enigmático entre o silêncio estóico do Pai na canoa e o cristianismo do Filho, falastrão e provedor às margens do rio da vida. É do mesmo Rosa a "versão" grandiloqüente do romance espanhol em português, "Grande Sertão: Veredas". O cavaleiro andante Riobaldo às voltas com jagunços e Zé Bebelos, que cai na cilada da Diferença que é Diadorim." (Silviano Santiago, crítico literário)

"Vitorino é o mais quixotesco personagem da literatura brasileira, porque também é um "endireitador de tortos". Policarpo Quaresma tem alguns traços, mas Quincas Borba não tem nada do cavaleiro andante. Nossa literatura tem mais malandros do que personagens quixotescos." (Walnice Nogueira Galvão, professora titular de literatura na USP)

"Na medida em que podemos considerar que Dom Quixote, ainda que inaugure o romance moderno, pois a questão do sonho/verdade já vai apontar para a dicotomia do sujeito moderno, vemos que ainda traz características do herói medieval. A busca do Santo Graal, tema das principais obras da literatura medieval, pode ser vista como a tentativa de ultrapassar a realidade em busca de um sonho, de um ideal imaginário. Assim, a literatura brasileira possui personagens de caráter popular, nos quais vêem-se claramente o que vulgarmente chamamos de quixotesco. Quincas Berro D'Água, por exemplo, radicaliza esse processo: cansado da realidade, reinventa uma nova vida que preenche aquilo que imagina como vida. (Cláudia Chaves, doutora em Literaturas de Língua Portuguesa da PUC-Rio)

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