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Diretora prepara o filme "Brasil"
free-lance para a Folha
A diretora Bia Lessa, 41, estava
afastada do teatro desde 94. Durante esses anos, dedicou-se a outras atividades. Em 96, lançou o
filme "Crede-Mi", baseado em "O
Eleito", de Thomas Mann. Em
março deste ano, foi curadora da
exposição "Brasileiro Que Nem
Eu. Que Nem Quem?", sucesso de
público na Faap.
Há dois anos trabalha em seu
novo longa-metragem, com o título provisório de "Brasil". A
idéia é contar a vida de uma mulher desde o nascimento até a
morte, filmando cenas reais da vida de várias mulheres pelo país.
Entre as peças que Bia Lessa dirigiu estão "Cartas Portuguesas"
(90), "Orlando" (91) e "Viagem ao
Centro da Terra" (93).
(APR)
Folha - Em "As Três Irmãs", você dirige pela primeira vez um
texto escrito originalmente para
o teatro. Como foi?
Bia Lessa - Em termos de raciocínio de trabalho, não mudou nada. O que me surpreendeu foi o
próprio fato de eu ter tido uma
atração por um texto para teatro.
Antes eles me incomodavam, eu
achava que as coisas estavam
sempre muito apontadas. Mas
com Tchecov foi diferente. Ele me
encantou de tal forma que eu voltei ao teatro.
Folha - Por que você se afastou por cinco anos?
Lessa - Eu estava procurando
uma espontaneidade que só está
presente no cotidiano. Tinha uma
vontade de ver a vida. Peguei minha câmera e saí filmando. Daí
veio a idéia do filme, entrando na
casa das pessoas e pedindo licença para filmar o dia-a-dia delas.
Registrei momentos que nem sequer poderia imaginar.
Folha - Você pode contar algum deles?
Lessa - Estive num enterro, de
um senhor de 50 anos. Na hora de
fechar o caixão, os dois filhos ficaram medindo o tamanho do pé
um do outro. Eu esperava aquele
choro, desesperado, mas eles estavam preocupados em saber
quem era o maior, que ficaria no
lugar do pai. Eu buscava esse tipo
de reação, que foge dos padrões
chamados normais.
No Nordeste, filmei um casamento. Acompanhei toda a preparação da noiva, ela, pobrezinha,
dizendo que seu casamento seria
como o da princesa Diana. Na hora em que ela chega à igreja, o padre não está. Fui até a casa dele.
Ele estava vestindo apenas um
calção, assistindo um jogo de futebol pela TV. Mandou dizer que
realizaria a cerimônia assim que a
partida terminasse.
Folha - No novo filme, você vai
contar a história de uma mulher
a partir da colagem de histórias
de várias outras. Como fará a integração, para o público compreender que se trata de uma só
personagem?
Lessa - É o meu maior desafio.
Eu já passei muito tempo pensando: "como é que o público vai
identificar, se uma hora ela é negra, na outra ela é japonesa?". Mas
está dando certo. O filme já está
na fase de montagem, ela está
com sete anos, e eu acho que vai
dar muito certo.
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