São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999
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Diretora prepara o filme "Brasil"

free-lance para a Folha

A diretora Bia Lessa, 41, estava afastada do teatro desde 94. Durante esses anos, dedicou-se a outras atividades. Em 96, lançou o filme "Crede-Mi", baseado em "O Eleito", de Thomas Mann. Em março deste ano, foi curadora da exposição "Brasileiro Que Nem Eu. Que Nem Quem?", sucesso de público na Faap.
Há dois anos trabalha em seu novo longa-metragem, com o título provisório de "Brasil". A idéia é contar a vida de uma mulher desde o nascimento até a morte, filmando cenas reais da vida de várias mulheres pelo país. Entre as peças que Bia Lessa dirigiu estão "Cartas Portuguesas" (90), "Orlando" (91) e "Viagem ao Centro da Terra" (93). (APR)



Folha - Em "As Três Irmãs", você dirige pela primeira vez um texto escrito originalmente para o teatro. Como foi?
Bia Lessa -
Em termos de raciocínio de trabalho, não mudou nada. O que me surpreendeu foi o próprio fato de eu ter tido uma atração por um texto para teatro. Antes eles me incomodavam, eu achava que as coisas estavam sempre muito apontadas. Mas com Tchecov foi diferente. Ele me encantou de tal forma que eu voltei ao teatro.

Folha - Por que você se afastou por cinco anos?
Lessa -
Eu estava procurando uma espontaneidade que só está presente no cotidiano. Tinha uma vontade de ver a vida. Peguei minha câmera e saí filmando. Daí veio a idéia do filme, entrando na casa das pessoas e pedindo licença para filmar o dia-a-dia delas. Registrei momentos que nem sequer poderia imaginar.

Folha - Você pode contar algum deles?
Lessa -
Estive num enterro, de um senhor de 50 anos. Na hora de fechar o caixão, os dois filhos ficaram medindo o tamanho do pé um do outro. Eu esperava aquele choro, desesperado, mas eles estavam preocupados em saber quem era o maior, que ficaria no lugar do pai. Eu buscava esse tipo de reação, que foge dos padrões chamados normais.
No Nordeste, filmei um casamento. Acompanhei toda a preparação da noiva, ela, pobrezinha, dizendo que seu casamento seria como o da princesa Diana. Na hora em que ela chega à igreja, o padre não está. Fui até a casa dele. Ele estava vestindo apenas um calção, assistindo um jogo de futebol pela TV. Mandou dizer que realizaria a cerimônia assim que a partida terminasse.

Folha - No novo filme, você vai contar a história de uma mulher a partir da colagem de histórias de várias outras. Como fará a integração, para o público compreender que se trata de uma só personagem?
Lessa -
É o meu maior desafio. Eu já passei muito tempo pensando: "como é que o público vai identificar, se uma hora ela é negra, na outra ela é japonesa?". Mas está dando certo. O filme já está na fase de montagem, ela está com sete anos, e eu acho que vai dar muito certo.


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