São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999
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OPINIÃO
Outra chance contra o "tedium vitae"

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

"As Três Irmãs" é a última chance. O centenário do Teatro de Arte de Moscou, em outubro do ano passado, estimulou montagem atrás de montagem de Anton Tchecov, o dramaturgo que deu as palavras para a lendária companhia russa de Stanislávski. O aficionado tchecoviano pôde assistir alguns dos maiores textos escritos para o teatro.
"A Gaivota", que os cortes tornaram "Da Gaivota", com Fernanda Montenegro, Fernanda Torres e Matheus Nachtergaele. "Tio Vânia", com Renato Borghi e Mariana Lima. "As Três Irmãs", com Maria Padilha, Júlia Lemmertz e Cláudia Abreu. "Ivanov", com Zecarlos Machado. Sem contar adaptações como "Os Malefícios do Tabaco", com Paschoal da Conceição, e "Canção de Cisne", com Gustavo Machado.
Algumas grandes atuações depois, no entanto, e não se consegue esconder a frustração com a safra de encenações motivada pelo centenário do TAM.
Tchecov tem o poder de reunir elencos impensáveis no cotidiano do teatro brasileiro. Além dos citados, outros intérpretes estiveram nas peças, aceitando papéis de menor destaque.
De Leona Cavalli a Antônio Abujamra, Celso Frateschi a Luciano Chirolli, Débora Duboc a Enrique Diaz, todos deixaram sua marca com o dramaturgo amante dos atores -que escreve para eles, distribui papéis com estofo psicológico para satisfazer até com meia dúzia de falas.
Talvez por isso, pela diversidade na construção dos personagens, com atores trazendo anos de seus sonhos stanislavskianos, cada um para um lado, as montagens sejam frustrantes, afinal.
É difícil esquecer Fernanda Montenegro como Arkádina, jogando-se aos pés do amante, mas também sujeitando-o, vencendo sua resistência. Mas as encenações não escaparam do "tedium vitae", do fastio e inação que se associam costumeira e equivocadamente a Tchecov.
Foram encenações conservadoras e sem arrebatamento, inclusive nos casos de diretores de experimentação. As passagens de encantamento eram descontínuas, e as peças deixaram impressão distorcida do autor. O fato que simbolizou isso tudo foi o ronco sem fim de um espectador, diante de Fernanda Montenegro.
"As Três Irmãs", em nova montagem, vem talvez para tirar a má impressão daquele espectador sonolento. O elenco é grandioso, mas a esperança maior está na encenação de Bia Lessa, que não tem medo de uma boa comédia. Tchecov, ele também, nunca tirou o pé inteiramente da farsa.


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