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OPINIÃO
Outra chance contra o "tedium vitae"
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
"As Três Irmãs" é a última
chance. O centenário do Teatro
de Arte de Moscou, em outubro
do ano passado, estimulou montagem atrás de montagem de Anton Tchecov, o dramaturgo que
deu as palavras para a lendária
companhia russa de Stanislávski.
O aficionado tchecoviano pôde
assistir alguns dos maiores textos
escritos para o teatro.
"A Gaivota", que os cortes tornaram "Da Gaivota", com Fernanda Montenegro, Fernanda
Torres e Matheus Nachtergaele.
"Tio Vânia", com Renato Borghi e
Mariana Lima. "As Três Irmãs",
com Maria Padilha, Júlia Lemmertz e Cláudia Abreu. "Ivanov",
com Zecarlos Machado. Sem contar adaptações como "Os Malefícios do Tabaco", com Paschoal da
Conceição, e "Canção de Cisne",
com Gustavo Machado.
Algumas grandes atuações depois, no entanto, e não se consegue esconder a frustração com a
safra de encenações motivada pelo centenário do TAM.
Tchecov tem o poder de reunir
elencos impensáveis no cotidiano
do teatro brasileiro. Além dos citados, outros intérpretes estiveram nas peças, aceitando papéis
de menor destaque.
De Leona Cavalli a Antônio
Abujamra, Celso Frateschi a Luciano Chirolli, Débora Duboc a
Enrique Diaz, todos deixaram sua
marca com o dramaturgo amante
dos atores -que escreve para
eles, distribui papéis com estofo
psicológico para satisfazer até
com meia dúzia de falas.
Talvez por isso, pela diversidade
na construção dos personagens,
com atores trazendo anos de seus
sonhos stanislavskianos, cada um
para um lado, as montagens sejam frustrantes, afinal.
É difícil esquecer Fernanda
Montenegro como Arkádina, jogando-se aos pés do amante, mas
também sujeitando-o, vencendo
sua resistência. Mas as encenações não escaparam do "tedium
vitae", do fastio e inação que se associam costumeira e equivocadamente a Tchecov.
Foram encenações conservadoras e sem arrebatamento, inclusive nos casos de diretores de experimentação. As passagens de encantamento eram descontínuas, e
as peças deixaram impressão distorcida do autor. O fato que simbolizou isso tudo foi o ronco sem
fim de um espectador, diante de
Fernanda Montenegro.
"As Três Irmãs", em nova montagem, vem talvez para tirar a má
impressão daquele espectador sonolento. O elenco é grandioso,
mas a esperança maior está na encenação de Bia Lessa, que não tem
medo de uma boa comédia. Tchecov, ele também, nunca tirou o pé
inteiramente da farsa.
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