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TEATRO
Estréia hoje, no Sérgio Cardoso, espetáculo dirigido por Ulysses Cruz que traz Marco Ricca no papel central
'Hamlet' chega em versão popular grandiosa
DANIELA ROCHA
Da Reportagem Local
O "Hamlet" que estréia hoje em
São Paulo é definido pelo diretor
Ulysses Cruz como a história de
uma família com problemas.
"Só que se trata de uma família
poderosa, que tem uma mãe com
um filho esquisitíssimo que se relaciona com uma menina ainda
mais esquisita."
Um marco da montagem de
Ulysses Cruz é o refinamento no
trabalho dos atores, o cuidado nos
figurinos e a grandiosidade nos cenários. Nada de simplicidade.
A idéia de Cruz é conseguir, com
"Hamlet", o que ele alcançou
com a montagem de "Péricles - O
Príncipe de Tiro", que levou cem
mil pessoas ao Teatro Popular do
Sesi. Cruz pretende fazer de
"Hamlet" um Shakespeare popular e levar o público ao teatro para
conhecer esses personagens ricos e
problemáticos.
"Quero tirar o peso dessa história. Teatro é um ato de comunicação, e pretendo, com essa montagem, compartilhar com o público
o sonho que foi escrito por Shakespeare", disse o diretor.
Sonho porque se trata de uma
história com rei, rainha e súditos
dinamarqueses que, à primeira
vista, nada têm a ver com o público
brasileiro.
"Mas a história é também uma
alegoria, uma metáfora, porque,
além de tudo, tem o irmão do rei
que é um bandido que mata o soberano, usurpa o trono e fica com
a rainha, uma mulher muito bonita. Para complicar a vida do jovem
príncipe, o espírito do rei pai aparece para ele, esclarecendo a trama. Não há como contar essa história instigante sem teatralidade."
Assim, Cruz monta Shakespeare
deixando de lado o peso que o rótulo clássico carrega.
"Teatro é o prazer de contar
uma história unido ao prazer que o
público tem em ouvi-la. Se vamos
compartilhar a trama de forma ritualística ou didática, não importa", completou o assistente de direção Alfredo de Aguiar.
O protagonista
Quem centraliza o foco da história é Hamlet, jovem atormentado
pelo espírito do pai morto e que,
em seu grande discernimento (que
beira a insanidade), deflagra o fim
da família. O personagem é interpretado pelo ator Marco Ricca.
"Sou a locomotiva do espetáculo. Sinto-me com uma responsabilidade absurda", afirmou o ator.
Para ele, a complexidade de
Hamlet torna o personagem impossível. "É vasto demais. É um
personagem de leitura pessoal, só
que inspirado no Ulysses, no elenco, no cenário."
A encenação de Ulysses Cruz, segundo ele, é inteligente e inteligível. "Ulysses tentou impor um
método. Ele mostrou que não
adianta ter talento, precisa ter certo grau de organização. Sou um
ator muito anárquico e tive que
compreender que o trabalho de
ator que o Ulysses busca é quase
científico e matemático, porque o
gráfico do personagem Hamlet é
muito complicado."
Tão complicado que, às vezes,
Ricca se perde: "Perdi a noção do
que estou fazendo no palco. Toda
vez que paro para pensar se faço
isso ou aquilo, se a informação não
chega à nuca, não sei como executar o personagem da melhor maneira possível."
Para ele, Hamlet pensa muito, e
pensa muito bem. "Shakespeare
elaborou o texto com primor. Pensar é tudo o que o personagem
Hamlet sabe fazer bem. No resto,
ele é catastrófico. Por isso, não poderia assumir o trono. Se se tornasse rei, seria um péssimo monarca", disse Cruz.
A vantagem de estar montando
Shakespeare, segundo Cruz, é que
não há necessidade de fazer novas
leituras do autor.
"Fazemos a única leitura porque
simplesmente não sabemos como
era na época de Shakespeare. Assim, procuro não fazer uma interpretação sociológica, política ou
psicológica do texto. Apenas quero contar uma história envolvente
que há muito não é contada no
Brasil", disse Cruz.
Segundo ele, a última grande
montagem de "Hamlet" aconteceu em 1983, com direção de Márcio Aurélio.
Ricca, o idealizador -que, além
de atuar, produz o projeto-, afirmou que sente uma emergência
em dizer o que Shakespeare escreveu há séculos porque chegou à
conclusão de que era importante
que se discutisse o Brasil como está
hoje, "entregue ao limbo dos jovens, meros observadores".
"'Hamlet' nos faz retomar a discussão. Não podemos mais adiar
as grandes decisões porque as injustiças estão em toda parte", afirmou o ator.
Peça: Hamlet
Autor: William Shakespeare
Direção: Ulysses Cruz
Elenco: Marco Ricca, Mariana Muniz,
Ernani Moraes, Julia Feldens, Rubens
Caribé, Hélio Cicero e outros
Quando: Estréia hoje, às 21h. De qui. a
sáb., às 20h, dom., às 18h. Até 18 de out.
Onde: Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui
Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 011/288-0136)
Quanto: R$ 15 (qui. e sex.) e R$ 20 (sáb. e
dom.)
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