São Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009

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Na Bahia, obras sofrem 50 anos de descaso

DA REPORTAGEM LOCAL

Lina Bo Bardi acreditava que, na Bahia, o sol transformaria a arquitetura. Acreditava também que o movimento cultural forjado na Universidade Federal da Bahia (UFBA) tornaria possíveis, ali, iniciativas que em outros cantos seriam consideradas despropositadas. Foi com esse espírito que, em 1958, Lina desembarcou em Salvador.
Sua primeira intervenção foi no Solar do Unhão, um casarão do século 16 que seria transformado em museu de arte popular e espaço para oficinas de artesanato. Ao mesmo tempo, idealizava o Museu de Arte Moderna (MAM-BA). Mas não levou muito tempo até que seus planos começassem a encolher.
Em "Lina por Escrito", ela anota: "Tive que enfrentar, desde o começo, a hostilidade duma "classe cultural" constituída em moldes provincianos, a "celebridade nacional" de artistas reunidos em grupos folklorísticos e a imprensa local".
"Ela era mulher, estrangeira, agitadora e provocadora. Imagina o efeito que isso tinha sobre as oligarquias", diz Marcelo Ferraz. Lina ficou na Bahia entre 1958 e 1964. Saiu de lá quando o regime militar chegou.
Voltaria à cidade em 1986 com a missão de recuperar o centro histórico. Até 1990, levou a cabo uma série de projetos-piloto e reformou a Ladeira da Misericórdia. Mas houve mudança de governo e, mais uma vez, Lina teve de partir.
"Durante muito tempo, as pessoas tinham aversão à Lina porque tinham preguiça de pensar aqui na Bahia", diz Solange Farkas, diretora do MAM. "O Unhão nunca teve uma manutenção à altura da sua importância. Existe uma bolha de ar aqui debaixo. Estamos sobre o mar. O prédio pode até sofrer um deslocamento."
Farkas encomendou ao arquiteto André Vainer um projeto de recuperação do espaço, que inclui uma nova reserva técnica. O projeto está na fase final de elaboração e deve custar cerca de R$ 10 milhões.
"Tentamos sensibilizar o Estado para a situação de calamidade do museu." Uma das mudanças pretendidas por Farkas diz respeito à maneira de expor. "Lina achava que não tinha sentido reproduzirmos aqui, de frente para o mar, com essa luz, o conceito expográfico da Europa", diz. Pensou um museu sem paredes, com janelas abertas. Mas, mal deixou Salvador, foram erguidas paredes e tapadas as janelas. "O mínimo que podemos fazer é voltar à ideia original, que é revolucionária."
Uma promessa já cumprida pela nova administração foi a criação do Museu de Arte Popular. Após 50 anos trancafiados, os cerca de 800 objetos utilitários, cerâmicas e esculturas voltaram a ver a luz no Solar do Ferrão, no Pelourinho. (APS)


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