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Na Bahia, obras sofrem 50 anos de descaso
DA REPORTAGEM LOCAL
Lina Bo Bardi acreditava que,
na Bahia, o sol transformaria a
arquitetura. Acreditava também que o movimento cultural
forjado na Universidade Federal da Bahia (UFBA) tornaria
possíveis, ali, iniciativas que em
outros cantos seriam consideradas despropositadas. Foi com
esse espírito que, em 1958, Lina
desembarcou em Salvador.
Sua primeira intervenção foi
no Solar do Unhão, um casarão
do século 16 que seria transformado em museu de arte popular e espaço para oficinas de artesanato. Ao mesmo tempo,
idealizava o Museu de Arte Moderna (MAM-BA). Mas não levou muito tempo até que seus
planos começassem a encolher.
Em "Lina por Escrito", ela
anota: "Tive que enfrentar, desde o começo, a hostilidade duma "classe cultural" constituída
em moldes provincianos, a "celebridade nacional" de artistas
reunidos em grupos folklorísticos e a imprensa local".
"Ela era mulher, estrangeira,
agitadora e provocadora. Imagina o efeito que isso tinha sobre as oligarquias", diz Marcelo
Ferraz. Lina ficou na Bahia entre 1958 e 1964. Saiu de lá quando o regime militar chegou.
Voltaria à cidade em 1986 com
a missão de recuperar o centro
histórico. Até 1990, levou a cabo uma série de projetos-piloto
e reformou a Ladeira da Misericórdia. Mas houve mudança de
governo e, mais uma vez, Lina
teve de partir.
"Durante muito tempo, as
pessoas tinham aversão à Lina
porque tinham preguiça de
pensar aqui na Bahia", diz Solange Farkas, diretora do
MAM. "O Unhão nunca teve
uma manutenção à altura da
sua importância. Existe uma
bolha de ar aqui debaixo. Estamos sobre o mar. O prédio pode
até sofrer um deslocamento."
Farkas encomendou ao arquiteto André Vainer um projeto de recuperação do espaço,
que inclui uma nova reserva
técnica. O projeto está na fase
final de elaboração e deve custar cerca de R$ 10 milhões.
"Tentamos sensibilizar o Estado para a situação de calamidade do museu." Uma das mudanças pretendidas por Farkas
diz respeito à maneira de expor. "Lina achava que não tinha
sentido reproduzirmos aqui, de
frente para o mar, com essa luz,
o conceito expográfico da Europa", diz. Pensou um museu
sem paredes, com janelas abertas. Mas, mal deixou Salvador,
foram erguidas paredes e tapadas as janelas. "O mínimo que
podemos fazer é voltar à ideia
original, que é revolucionária."
Uma promessa já cumprida
pela nova administração foi a
criação do Museu de Arte Popular. Após 50 anos trancafiados, os cerca de 800 objetos utilitários, cerâmicas e esculturas
voltaram a ver a luz no Solar do
Ferrão, no Pelourinho.
(APS)
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