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Livro "Noturno" mostra vampiros longe de clichês
Escritor Chuck Hogan, que assina trilogia com o cineasta Guillermo del Toro, diz que não quis "fazer parte de uma moda"
Romance, idealizado antes da febre de sanguessugas, foge do glamour do gênero ao "devolver os seres ao seu lugar de quem é sujo"
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
"Pense num homem de capa
preta. Com caninos grandes. E
um sotaque engraçado", diz,
numa cela de Nova York, em
2010, um velho que durante a
Segunda Guerra teve a mão esmigalhada por um vampiro.
"Agora esqueça a capa, os caninos e o sotaque engraçado. Esqueça tudo o que é engraçado."
Dadas as variações de tramas
vampirescas que têm rondado
telas e livrarias, a sugestão soa
promissora. Ela é feita por um
personagem de "Noturno", primeiro romance em parceria do
cineasta Guillermo del Toro e
do autor de thrillers Chuck Hogan, e dá pista de que não haverá ali nada do que livros do gênero costumam mostrar.
Primeira parte de uma trilogia imaginada em 2005 por Del
Toro, "Noturno" saiu há dois
meses nos EUA, onde frequentou listas de mais vendidos, e
chega agora ao Brasil em meio a
uma "epidemia" indesejada.
"Posso dizer que não seria a
minha escolha fazer parte de
uma moda", desdenha Hogan,
42, falando por telefone à Folha, de Nova York, sobre "True
Blood" e "Crepúsculo" -que a
mulher dele, aliás, adora. O autor, best-seller nos EUA e premiado por "Prince of Thieves"
(que será levado ao cinema por
Ben Affleck), iniciou conversas
com Del Toro em 2006, quando
essa febre não era tão evidente.
"Nosso livro fica longe desses
outros, como você notou, como
qualquer um nota, e me sinto
ótimo com isso", ele diz. "Devolvemos os seres ao seu lugar
de quem dorme na poeira, é sujo e muito, muito perigoso".
Em texto para o "New York
Times", Del Toro e Hogan explicam sua versão da história.
Contam que, quando John William Polidori juntou "folclore,
ressentimento e ansiedades
eróticas" em "O Vampiro", no
século 19, criou a base de todas
as tramas do gênero. Mas o mito no qual ele se baseou, escrevem, era "tão velho quanto a
Babilônia". E "tratava de bestas
primitivas que se alimentavam
do sangue dos vivos".
A trilogia introduz as criaturas como uma espécie de vírus
que infecta os ocupantes de um
Boeing 777 assim que ele aterrissa, para, em seguida, alastrar-se por Nova York. São como parasitas que, aos poucos,
tomam o corpo dos humanos.
A trama segue vários personagens e envolve descrições
minuciosas de astronomia, biologia, anatomia. A certa altura,
explica-se por que vampiros
devem ser quentes, e não gelados. E como se desenvolvem,
na garganta, as glândulas que
serão misto de aparelho circulatório e digestivo nesses seres.
O preciosismo resultou num
processo de criação -com textos enviados e reescritos por e-mail- muito extenso. O que,
além de levar os vampiros de
Del Toro e Hogan a chegarem
com atraso em relação à mania
mundial, os fez perder a vez para "Fringe", série de TV, de J.J.
Abrams, de início muito similar
-com um avião que aterrissa
"morto" em Nova York.
Questionado sobre a coincidência, Hogan diz que a intenção de Del Toro era fazer de
"Noturno" uma série de TV, e
que o cineasta chegou a sugeri-la a um canal, com a cena do
avião. "Só que queriam algo
meio humorístico, e não era a
vontade dele", diz o autor. "Não
dá para dizer que foi dali que
"Fringe" veio, mas ... Ah, você sabe. Ideias. Elas estão por aí."
A dupla agora finaliza a segunda parte da trilogia, a sair
em 2010. "É uma nova experiência escrever sabendo que
há tanta expectativa. Talvez isso faça eu me empenhar para
não decepcionar ninguém", diz,
e em seguida se corrige: "Mas,
ok, o segundo livro vai ainda
mais fundo que o primeiro. Não
tenho com que me preocupar".
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