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SHOW TEATRO JOÃO CAETANO, RIO, 14/9
"Sinal Aberto" preserva "Sinal Fechado"
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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Os músicos Toquinho (esq.) e Paulinho da Viola em show no Rio de Janeiro |
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial ao Rio
Havia uma passagem temerária
em "Sinal Aberto", show de Paulinho da Viola e Toquinho que foi
gravado no Rio, terça e ontem, e
se transformará em CD duplo a
ser consumido ainda neste ano.
Era a reinterpretação da canção
"Sinal Fechado", que deu mote
invertido ao título do projeto e é,
afinal, um dos cumes da carreira
de Paulinho da Viola desde 1969,
quando foi lançada.
O show era de dupla, e era natural a tentação de que dois cantores
decompusessem o diálogo da letra e interpretassem, cada um, um
dos personagens da história de
trânsito e solidão -como, aliás,
fizeram equivocadamente Chico
Buarque e Maria Bethânia também num show de dupla que gerou disco em 1975.
Pois não. Toquinho se ateve a
seu dedicado violão enquanto
Paulinho cantava, só, o diálogo
que é monólogo e que foi criado
para ser cantado solo, no limbo da
solidão. A sutileza foi preservada
e, até, exponenciada pelo arranjo
tenso, marcial. Hino de desespero
em 69, "Sinal Fechado" está pronto para se consumar momento luminoso -ou melhor, nebuloso- de encerramento dos anos
1900. Nada mudou.
Bem, aí está o ápice do show que
vai virar CD (todos os shows vão
virar CDs em 99?). Pena que, de
estonteante, pouco mais haja no
que poderia ter sido mais um encontro antológico da MPB.
Não é que algo esteja fora de lugar; ambos se desincumbem da
tarefa com valentia. Toquinho
quase sussurra, embelezando seu
canto; Paulinho ainda sabe acrescentar nuances a "Dança da Solidão" (72) a cada vez que a relê,
sem nunca esgotá-la.
Trocam canções (Paulinho canta "Que Maravilha", mais de Jorge
Ben que de Toquinho -e ele fazê-lo, pela primeira vez, é outro
encontro inesquecível), inauguram uma parceria (no sambinha
de separação "Caso Encerrado"),
prestam homenagens (a Baden
Powell, presente na platéia do primeiro dia, a Canhoto da Paraíba,
a outros vários), até iluminam um
tema inédito -e fofíssimo- de
Dorival Caymmi ("Samba da
Cancela").
Toquinho apela a chavões (a
triste "Aquarela", em triste versão), Paulinho vasculha armários
("Cantando", de 76, "Duvide-o-dó", a primeira parceria de sua
carreira, com Hermínio Bello de
Carvalho).
Encontram-se pouco os dois,
entretanto, num show que parece
pouco ensaiado (especialmente
por vários erros de Paulinho). É o
que dá pano para manga à reflexão: enquanto Paulinho esfola o
samba, Toquinho contorna a bossa-jazz, postados em linhas paralelas que nunca se cruzam.
Vai daí que Paulinho declara-se
tributário da bossa, mas não
acompanha Toquinho nas reverências a Tom Jobim -Paulinho
nunca cantou Jobim, veja que significativo. Por outra, Toquinho
faz mesuras ao samba, mas se
desloca quando "Argumento"
(de Paulinho, 75) pede para que
não se altere o samba tanto assim.
Mais amigos que parceiros,
mais divergentes que consensuais, dão aula de convivência pacífica e de solidariedade, em espetáculo mais humano que musical.
Quando a música anda exilada do
humanismo, até é meio caminho
andado. Mas só meio, dados os
quilates de que se trata.
O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora BMG
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