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"DICIONÁRIO CRÍTICO DAS ESCRITORAS..."
Nelly Novaes Coelho organiza obra com 1.401 verbetes, trabalho de 20 anos
Professora coleciona autoras brasileiras
FRANCESCA ANGIOLILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Na próxima quinta, a professora
Nelly Novaes Coelho, 80, põe o
ponto final num trabalho de duas
décadas, ao lançar o "Dicionário
Crítico de Escritoras Brasileiras".
Se não é o primeiro a enfocar a
literatura feminina no Brasil, o dicionário da professora Nelly tem
o mérito da extensão (são 1.401
autoras) e de ser o mais novo volume do gênero -do que supõe-se ser o mais atualizado.
A gênese do levantamento agora apresentado está em outro: foi
elaborando o "Dicionário Crítico
de Literatura Infantil/Juvenil Brasileira" (Edusp) que Novaes Coelho deparou com uma "plêiade de
novas escritoras de grande força,
mas sem circulação entre o grande público". Além de buscar aumentar esse público, o novo dicionário pretende servir de fonte a
pesquisas na área universitária.
O critério para mergulhar num
universo tão amplo foi limitar a
seleção a "ficcionistas, poetas,
cronistas e dramaturgas" que tivessem pelo menos um livro publicado, uma peça representada.
"Foi um critério de natureza
quantitativa, para dar limites materiais à pesquisa. Isso porque as
ensaístas ou as escritoras que só
publicaram em antologias, revistas etc. são às centenas", diz.
Como toda regra, deixa passar
exceções: são autoras dos séculos
18 e 19 que não puderam editar livros e "mulheres notáveis" a "homenagear" -caso, por exemplo,
de Chiquinha Gonzaga.
A autora frisa que não conseguiria ter compilado os verbetes se,
além de usar outras obras de referência, não tivesse armado uma
rede composta de colegas, que enviaram informações de todo o
país, e de autoras, que manifestaram interesse em estar presentes.
Ao mesmo tempo que possibilitou o trabalho de fôlego, porém, o
método, ao buscar primordialmente abrangência, fez com que o
resultado se ressentisse da ausência de um crivo mais rígido a ditar
a extensão ou mesmo a presença
dos verbetes. Surgem, assim, discrepâncias.
Por exemplo, pode até ser que, à
sombra vultosa de Clarice, a menos famosa Elisa tenha acabado
esquecida e deva ser defendida
como vítima de idiossincrasias
mercadológicas. Mas soa ligeiramente estranho que as irmãs Lispector mereçam o mesmo peso
no volume. Do mesmo modo, parece esquisito que Márcia Peltier,
notadamente uma jornalista, seja
contemplada de forma semelhante a Ana Maria Machado, escritora reconhecida inclusive com prêmios internacionais.
Por outro lado, fica impossível
saber se foi um efeito do método
ou a vontade corajosa da professora a deixar de fora uma escritora badalada como Fernanda
Young e privilegiar uma discreta,
como Claudia Roquette-Pinto
-da mesma geração que a algo
punk Young, Roquette-Pinto é
dona de uma poética sólida e ganha um verbete caprichado.
A suposta objetividade, vale dizer, se resume ao aspecto macro
do volume; no nível dos verbetes,
a autora se coloca muito pessoalmente, alguns comentários ficando no plano da opinião, talvez respaldada pelos longos anos de carreira acadêmica.
Faltaria somar aos índices (alfabético e por origem) um que listasse as autoras por época -o
que facilitaria a identificação de
seu lugar na literatura brasileira.
Por fim, é preciso dizer que, críticas à parte, o trabalho é bem-vindo e se afirmará como o útil
instrumento que ambiciona ser.
DICIONÁRIO CRÍTICO DAS ESCRITORAS BRASILEIRAS (1711-2001). De: Nelly Novaes Coelho. Editora:
Escrituras (0/xx/11/5082-4190). R$ 89,50
(752 págs.). Lançamento: quinta, às 18h,
no Memorial da América Latina (av. Auro
Soares de Moura Andrade, 664, portões
4 e 5, SP; tel. 0/xx/11/3823-4600).
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