São Paulo, sábado, 16 de novembro de 2002

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Editora aposta em títulos bizarros, como "A Vida Sexual dos Papas" e "O Mundo das Múmias"

Acredite, se quiser

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O slogan da editora pode ser "literatura de prestígio", mas seus livros estão mais para o gênero de "Acredite, se Quiser", o antigo programa apresentado por Jack Palance. Basta uma olhada nos títulos lançados para entender a linha editorial da casa: "Mentes Criminosas e Crimes Assustadores", "O Mundo das Múmias", "As Nove Idéias Mais Malucas da Ciência", "A Assustadora História da Maldade", "A Assustadora História do Sexo" e "A Assustadora História da Medicina".
Esse é o novo mote da Prestígio Editorial, que começou como um selo paralelo da gigante Ediouro, mas agora se especializa em obras, digamos, diferenciadas.
Nas palavras do gerente-editorial da Prestígio e da Ediouro, Jiro Takahashi, 54, trata-se de literatura com aspectos "bizarros, curiosos, impressionantes, assustadores". Com ênfase para esse último, a julgar pelos títulos das obras.
O sexo também é um carro-chefe na Prestígio. Seu próximo livro, "A Vida Sexual dos Papas", é o primeiro de uma longa série temática escrita pelo autor inglês Nigel Cawthorne. A coleção inclui "A Vida Sexual dos Ditadores", dos presidentes americanos e das estrelas de Hollywood.
A Prestígio, então, quer livros polêmicos? "Sim, mas polêmica não quer dizer sensacionalismo. Buscamos autores que não precisam ser uma unanimidade, mas que sejam pesquisadores, cientistas ou historiadores que questionem as verdades eternas", diz Takahashi.
No caso de "Mentes Criminosas e Crimes Assustadores", por exemplo, o autor é um ex-investigador do FBI que analisa crimes antigos, como o de Jack, o Estripador, à luz das técnicas criminalísticas atuais.

Sucesso
Já o jornalista inglês Nigel Cawthorne -acredite, se quiser-, especializou-se na vida sexual dos outros por ser republicano. "Quis ridicularizar a monarquia e escrevi "A Vida Sexual dos Reis e Rainhas da Inglaterra". Aí não parei mais", conta Cawthorne.
"A Vida Sexual dos Papas", que sai agora no Brasil, é seu livro mais popular. "Já foi traduzido para 23 línguas, mas os lugares onde faz mais sucesso são os países católicos", afirmou à Folha.
"O livro é para ser divertido", diz o bem-humorado jornalista, que apresenta assim sua obra: "Papas não deveriam ter vida sexual. Então, esse deveria ser o menor livro do mundo. Mas não é". O catatau tem 350 páginas.
Quanto à coleção "A Assustadora História", o médico inglês Richard Gordon pode ser considerado seu criador involuntário. Em 1993, a Ediouro já havia feito sucesso no país com sua "A Assustadora História da Medicina", que teve várias edições.
Este ano, a Prestígio aproveitou o título chamativo e incluiu outros: "A Assustadora História do Sexo", do mesmo Gordon, e "A Assustadora História da Maldade", do historiador Oliver Thomson. O próximo lançamento será "Lições do Terror", de Caleb Carr. Mas, para se adequar à coleção, o título nacional será "A Assustadora História do Terrorismo".

Vendagens
Uma das características dos livros da Prestígio é a farta iconografia. Todos os livros são ilustrados com fotos, pinturas e desenhos de época. As vendagens, segundo Takahashi, estão bem acima do esperado: entre 3.000 e 5.000 cópias cada livro. "Para o Brasil, isso é bastante", diz.
É curioso o fato de que a Prestígio Editorial nem sempre foi especializada nessa literatura diferente. O selo começou no ano passado, como um braço da Ediouro para os lançamentos feitos pela equipe de São Paulo.
"O que a gente editava no Rio, saía como Ediouro. O que vinha de São Paulo, saía como Prestígio", explica Takahashi, que responde como gerente-editorial pelas duas casas.
Assim, no ano passado, a Prestígio começou com livros como "Guerra e Paz", de Tolstoi, e está lançando este mês "O Príncipe", de Maquiavel. "Faz parte do amadurecimento do selo. A partir das próximas edições, esses livros voltam para a Ediouro. E "O Mundo das Múmias", por exemplo, que começou saindo pela Ediouro, vai para a Prestígio."
Agora só falta mudar o slogan do selo. "Estamos pensando", diz Takahashi. "Em vez de "literatura de prestígio", talvez algo como "um novo olhar"." Faz sentido.



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