São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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TRECHOS

"No instante em que o general Dyer dá uma ordem, o espirro atinge meu avô no rosto com toda a força. "Aaaaaatchimmm!", ele espirra e cai para a frente, perdendo o equilíbrio, seguindo seu nariz e com isso salvando a própria vida. Sua "valise de médico" abre; vidros, ungüentos e seringas espalham-se na poeira. Ele engatinha furiosamente por entre os pés das pessoas, tentando salvar o equipamento antes que o esmaguem. Há um barulho como o de dentes batendo de frio e alguém cai em cima dele. Uma coisa vermelha mancha sua camisa. Agora há gritos e soluços, enquanto o estranho tiritar prossegue [...] os cinqüenta homens do general Dyer recolhem suas metralhadoras e vão embora. Dispararam um total de mil seiscentos e cinqüenta tiros contra a multidão desarmada. Desses, mil quinhentos e dezesseis atingiram o alvo, matando ou ferindo pessoas. - Boa pontaria -diz Dyer a seus homens. - Fizeram um belo trabalho".
"Devia ser de manhã, embora a escuridão da meia-noite infinda caísse sobre o gueto como um nevoeiro... Através da luz sombria da Emergência, vi crianças brincando e Retrato Singh, com o guarda-chuva dobrado sob a axila esquerda, urinando nas paredes da Mesquita da Meia-Noite".


OS FILHOS DA MEIA-NOITE, de Salman Rushdie

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