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RELÂMPAGOS
Canícula
JOÃO GILBERTO NOLL
Fiquei horas lá no alto, na
sacada. Calado, sim, bem calado, no estupor dos 40
graus. Quando pendurei
uma perna e a sacudi lentamente, como se imaginasse
o desgarrado no ar, a turma
da calçada gritou, gesticulou. Resolvi entrar. Eva dormia. Acho que ela nunca
veio a saber dessa ocorrência
suspensa. Pensei em dormir.
O sono não daria um certo
arremate numa situação assim? Eva acordou. "Vamos...?", sondei. Ela vestiu-se. Tomei um banho. Ficamos logo prontos. O céu
preparava-se, cada vez mais
chumbo. No trovão, estremecemos juntos. Já despidos que estávamos, de novo.
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