São Paulo, Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2000


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"A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA"

Divulgação
O skinhead Derek (Ed Norton, à esq.) em "A Outra História Americana"


da Redação


Recém-lançado em vídeo no Brasil, "A Outra História Americana" já desponta entre os dez filmes mais alugados (veja tabela ao lado). A razão para essa aceitação muito maior no familiar "home video" do que nas bilheterias talvez esteja no caráter didático do filme.
Ao explorar o neonazismo nos EUA de hoje, o diretor Tony Kaye teve o mérito de evitar o maniqueísmo construindo um protagonista, o skinhead Derek (Edward Norton), que é um herói e um anti-herói, um vencedor e um perdedor -raridade na galeria de super-heróis hollywoodianos.
Se a personagem é hegeliana, dialética, o roteiro é unidimensional e explícito. Derek é o líder de um grupo neonazista de Venice Beach, em Los Angeles, que num rompante de ódio assassina barbaramente três negros que tentavam roubar seu carro. Depois de anos preso e passar pelo ciclo "comer o pão que o diabo amassou" -limpar o chão, ser estuprado pelos colegas brancos, ter de lavar roupa suja tendo como companheiro de diálogo um negro-, entende que o germe da violência são as desigualdades sociais.
Danny (Edward Furlong) é o narrador-testemunha que, tal como o espectador, visualiza as contradições de Derek. Danny tenta seguir os bons e maus conselhos do irmão. Ele põe em desespero o professor Sweeney (Avery Books) quando resolve escrever uma dissertação sobre "Mein Kampf", o "tratado econômico e social sobre o mundo", de Hitler. Ao sair da cadeia, Derek tenta ajudá-lo a se livrar da influência da gangue.
A partir de então, sob o ponto de vista de Danny, entremeiam-se "flashbacks", em preto e branco, para contar o passado da família, a ascensão neonazista e o assassinato do pai em um bairro negro.
Tudo para mostrar como, para Derek, a origem das mazelas norte-americanas são os párias sociais. Com essa crença, ele lidera toda uma trupe de assustadores neonazistas que estão convencidos do Estado de anomia social. Os problemas são de quem os têm e esses devem ser eliminados.
A edição final causou desavenças entre diretor e ator e reside aí a pista para os problemas do filme. Se Derek é um eterno vir a ser, o roteiro é o que poderia ter sido e não foi, tombando por vezes no televisivo, propagandístico ou caricatural (veja-se pela cena do assalto ao mercado dos imigrantes).
Mesmo assim o filme vale por evitar o conto de fadas americano, fazendo uso reflexivo da violência e mostrar, mesmo ao estilo de fábula, que os tolos não aprendem da experiência alheia, preferindo aprender da própria experiência.
O nazismo hoje se reveste com outras tintas, e negros continuam escravizados socialmente. Se isso soa didático demais no filme, nunca é demais lembrar. (SG)

Avaliação:  


Lançamento: A Outra História Americana Título original: American History X Produção: EUA, 1999 Distribuidora: Warner

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