São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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"Garrincha" aborda vida amorosa do jogador e mostra pouco futebol

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

O filme é sobre uma figura antológica do futebol brasileiro, mas em "Garrincha - Estrela Solitária" pouco se vê a bola em campo.
"Não é um filme sobre o futebol brasileiro, mas sobre um personagem do futebol", afirma o diretor Milton Alencar Jr.
Portanto, o espectador que for ao cinema com a expectativa de quem vai assistir a uma bela partida certamente vai se decepcionar.
As cenas de Mané Garrincha em campo são parcas -as originais foram emprestadas do clássico "Alegria do Povo", de Joaquim Pedro de Andrade.
É o próprio protagonista, André Gonçalves, que reconstitui algumas jogadas, como o treino de admissão no Botafogo, em 1953, quando Garrincha passou a bola no meio das pernas de Nílton Santos (estrela da defesa do time e que se tornaria amigo do jogador) e a Copa do Chile, em 1962.
"Já foram bastante divulgadas as imagens do jogador fantástico que ele era, por isso nos preocupamos mais com o ser humano", argumenta Alencar.
O que substitui o jogador em "Estrela Solitária" é o Garrincha amante, com direito a muito sexo.
O filme mostra os casos dele em Pau Grande (cidadezinha no interior do Rio onde ele nasceu), o casamento prematuro com Nair, sua amante Iraci (com quem ele viveu no Rio), até o célebre e controverso romance com a cantora Elza Soares.
De acordo com o diretor, além de resgatar a imagem do ídolo, o filme pretende fazer uma reparação à cantora, que esteve ao lado de Garrincha entre 1962 e 1976 e que, na época, foi considerada a razão da desgraça dele.
"Elza não é a vilã da história. Os vilões somos nós, o povo brasileiro, que não demos valor a ele", afirma o diretor. "No filme, a gente vê que não é isso, que havia muito preconceito."
Taís Araújo interpreta a cantora. "Antes do filme, tudo o que eu sabia sobre o Garrincha e a Elza era que eles tinham sido amantes. E que ela tinha acabado com a vida dele, aquela visão bastante deturpada", conta Araújo.
A cantora ajudou na construção do personagem e faz uma participação no final do longa.
A biografia homônima de Ruy Castro é a base do roteiro, há apenas duas cenas que não estão no livro. Os problemas que Castro teve com a família do jogador não se repetiram na produção cinematográfica, segundo o diretor; ele não sabe ao certo se Elza já assistiu ao filme.
O entrecho trata da juventude na década de 50, em Pau Grande, até 1980, três anos antes de sua morte, quando ele foi homenageado pela Mangueira.
É o desfile carnavalesco que conduz a história, narrada por Garrincha em flashback.
O enredo da Mangueira fazia uma homenagem a Garrincha, já bastante debilitado pelo alcoolismo. Outros jogadores participaram do desfile, mas apenas Nílton Santos é retratado.
"O Pelé estava nesse Carnaval, mas preferimos deixá-lo de lado", conta Alencar. Pelé não aparece em nenhum momento do filme.
"Particularmente, tenho um grilo com o Pelé. Acho que ele poderia ter dado uma força para o Garrincha", diz o diretor.


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