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"Garrincha" aborda vida amorosa do jogador e mostra pouco futebol
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
O filme é sobre uma figura antológica do futebol brasileiro, mas
em "Garrincha - Estrela Solitária"
pouco se vê a bola em campo.
"Não é um filme sobre o futebol
brasileiro, mas sobre um personagem do futebol", afirma o diretor Milton Alencar Jr.
Portanto, o espectador que for
ao cinema com a expectativa de
quem vai assistir a uma bela partida certamente vai se decepcionar.
As cenas de Mané Garrincha em
campo são parcas -as originais
foram emprestadas do clássico
"Alegria do Povo", de Joaquim
Pedro de Andrade.
É o próprio protagonista, André
Gonçalves, que reconstitui algumas jogadas, como o treino de admissão no Botafogo, em 1953,
quando Garrincha passou a bola
no meio das pernas de Nílton
Santos (estrela da defesa do time e
que se tornaria amigo do jogador)
e a Copa do Chile, em 1962.
"Já foram bastante divulgadas
as imagens do jogador fantástico
que ele era, por isso nos preocupamos mais com o ser humano",
argumenta Alencar.
O que substitui o jogador em
"Estrela Solitária" é o Garrincha
amante, com direito a muito sexo.
O filme mostra os casos dele em
Pau Grande (cidadezinha no interior do Rio onde ele nasceu), o casamento prematuro com Nair,
sua amante Iraci (com quem ele
viveu no Rio), até o célebre e controverso romance com a cantora
Elza Soares.
De acordo com o diretor, além
de resgatar a imagem do ídolo, o
filme pretende fazer uma reparação à cantora, que esteve ao lado
de Garrincha entre 1962 e 1976 e
que, na época, foi considerada a
razão da desgraça dele.
"Elza não é a vilã da história. Os
vilões somos nós, o povo brasileiro, que não demos valor a ele",
afirma o diretor. "No filme, a gente vê que não é isso, que havia
muito preconceito."
Taís Araújo interpreta a cantora. "Antes do filme, tudo o que eu
sabia sobre o Garrincha e a Elza
era que eles tinham sido amantes.
E que ela tinha acabado com a vida dele, aquela visão bastante deturpada", conta Araújo.
A cantora ajudou na construção
do personagem e faz uma participação no final do longa.
A biografia homônima de Ruy
Castro é a base do roteiro, há apenas duas cenas que não estão no
livro. Os problemas que Castro teve com a família do jogador não
se repetiram na produção cinematográfica, segundo o diretor;
ele não sabe ao certo se Elza já assistiu ao filme.
O entrecho trata da juventude
na década de 50, em Pau Grande,
até 1980, três anos antes de sua
morte, quando ele foi homenageado pela Mangueira.
É o desfile carnavalesco que
conduz a história, narrada por
Garrincha em flashback.
O enredo da Mangueira fazia
uma homenagem a Garrincha, já
bastante debilitado pelo alcoolismo. Outros jogadores participaram do desfile, mas apenas Nílton
Santos é retratado.
"O Pelé estava nesse Carnaval,
mas preferimos deixá-lo de lado",
conta Alencar. Pelé não aparece
em nenhum momento do filme.
"Particularmente, tenho um
grilo com o Pelé. Acho que ele poderia ter dado uma força para o
Garrincha", diz o diretor.
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