São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA RESTAURANTE

Versão paulistana deixa a desejar

Depois de anos em Paraty, o Le Catellet abre em São Paulo com limitações evidentes na cozinha

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

As coisas que ficam fora do seu lugar de origem às vezes perdem algo do seu encanto.
Ou deixam transparecer defeitos que não eram evidentes. Talvez seja parte do que acontece com o Le Castellet.
O restaurante existiu durante anos em Paraty (RJ), e tinha lá seus fãs. Ele levava para a cidade praiana um pouco da cultura também litorânea de seu proprietário francês, que nasceu à beira do Mediterrâneo. Agora nasce em versão paulistana, que deixa a desejar.
Yves Gaston Marie Lepide, 44, é francês de Marselha.
Proprietário e chef do restaurante, conheceu o Brasil aos 20 anos. Quando retornou, anos depois, abriu seu primeiro empreendimento: uma creperia em Jundiaí.
Mudou depois para o Rio de Janeiro, onde há quase oito anos montou, em Paraty, o Le Castellet, também dedicado às crepes mas também aos frutos do mar. Simultaneamente, de 2006 a 2010, também foi sócio do Le Poème, em São Paulo.
Sua nova aposta foi transferir, agora, o Le Castellet para São Paulo. Escolheu como local a "praia" paulistana da Vila Madalena, onde se adaptou bem sua arquitetura despojada, aberta para a rua e com um toque romântico de luz de velas à noite.
Tendo sido criado na região da Côte-d'Azur, foi daí que o chef tirou inspiração para seu cardápio. O principal capítulo, porém, é constituído por crepes, numa enorme paleta de sabores e preparadas num carrinho típico.
São crepes grandes, quadradas, servidas abertas com o "recheio" servindo de cobertura. As mais simples ajudam, pela confecção e sabor descomplicados. Mas são muitas e podem ter coberturas pesadas (mas insossas), como a de camarõezinhos com molho branco.
Ademais, todas as crepes, não importa o sabor, são acompanhadas pelos mesmos dois itens -batatas gratinadas (já amolecidas na crosta), que causam certa redundância de paladar com a massa das crepes, e tomate assado.
Os mesmos acompanhamentos que, sem qualquer imaginação, aparecerão em outros pratos.
A esperança de que os pescados fizessem a redenção do cardápio se esvai como o caldo ralo da cassollete de frutos do mar com espinafre.
Servido graciosamente numa panelinha de ferro (ladeado pelos acompanhamentos de sempre), o prato nem tinha sal nem gosto de peixe ou de mar, embora seus componentes, meio despedaçados na mistura, tivessem sido cozidos até demais. Na mesma seção figura uma bouillabaisse, que deve ser encomendada com antecedência.
Melhor -mas também sem todo o gosto de mar que um bom caldo de peixes poderia ter-lhe conferido- é o risoto de camarões, embora os belos crustáceos também tenham sido cozidos além do necessário.
O despojamento, as toalhinhas provençais, os pãezinhos caseiros do couvert, a presença e o empenho evidente do dono, talvez tenham em Paraty dado uma aura convidativa ao Le Castellet, sobrepondo-se às limitações da cozinha -que aqui, no entanto, ficam evidentes.

josimar@basilico.com.br

LE CASTELLET
  ENDEREÇO r. Delfina 38, Vila Madalena, tel. 0/xx/11/ 3034-3696
FUNCIONAMENTO de ter. a sex., das 19h às 0h; sáb., das 12h à 1h; dom., das 12h às 17h
AMBIENTE despojado, com elementos provençais e luz de velas à noite
SERVIÇO atencioso, embora ainda fraqueje
VINHOS oferta pequena, com pequenos vinhos franceses
CARTÕES D, M e V
ESTACIONAMENTO R$ 15
PREÇOS entradas, de R$ 21 a R$ 31; pratos, de R$ 18 a R$ 120 (para dois); sobremesas, de R$ 10 a R$ 19




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