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TRILHA SONORA
Único defeito é não estar à venda
CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha
Já de cara, o CD que traz a
trilha sonora do filme "Hans
Staden", do diretor Luiz Alberto Pereira, apresenta seu
maior e único defeito: não
será comercializado. Quem
tem, tem.
Quem não tem, jamais terá, a não ser que o surrupie
ou que o receba, ofertado
por algum desatento proprietário dessa preciosidade,
parcamente distribuída como parte do material de divulgação do filme.
A cantora Marlui Miranda
e o músico Lelo Nazário são
os responsáveis pelas 26 faixas, que mostram algumas
formas vocais e sonoras relacionadas ao universo indígena.
Seu ineditismo, que começa pela música tema baseada
num motivo de um canto de
antropofagia, fez, provavelmente, com que este trabalho tenha abocanhado o prêmio de melhor trilha sonora
do Festival de Brasília, no
ano passado.
Há no CD, entre outras
coisas, uma tentativa de reconstituir o que o alemão
Staden talvez tivesse escutado, quando foi capturado
pelos índios tupinambás.
Para isso, Marlui se baseou
em músicas que funcionam
em rituais semelhantes aos
descritos pelo viajante europeu, além de composições
que mesclam elementos
musicais atuais e letras em
tupi meridional, com um caráter inspirado nos fragmentos deixados por Jean de
Léry.
No entanto, o CD não é
apenas uma reconstituição
de uma época longínqua.
Em sua sonoridade percebe-se o confronto das duas culturas, a européia e a indígena, de maneira melódica,
delicada e extremamente
encantadora, sem nunca
deixar de ser funcional.
Apesar dos muitos elementos indígenas serem
maciçamente preponderantes aos europeus, Miranda
atinge um equilíbrio sonoro
característico de quem sabe
o que, e para que, está compondo.
Suas vinhetas convencem
e satisfazem a quem assiste
ou não ao filme: funcionam
mesmo desvencilhadas da
película.
As flautas de Teco Cardoso, o oboé de João Cuca, as
vozes do elenco e do Coral
Vrap, embalados pelos bem
escolhidos timbres dos teclados de Nazário, lembram
a qualidade peculiar que
sempre acompanha os trabalhos do compositor japonês Ryuichi Sakamoto.
Quanto à voz de Marlui,
são outros quinhentos. Não
500 anos, mas 500 milênios,
pois ela consegue a projeção
e a autenticidade de quem
sempre consegue encontrar
nos índios seus verdadeiros
ancestrais. Trilha sonora assim, sim.
Avaliação:
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