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9º FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA
Inspirada em Shakespeare, a montagem é a única atração internacional que estréia hoje
"Caesar" é realidade dos Bálcãs
VALMIR SANTOS
enviado especial a Curitiba
Em 1991, quando o Teatro Nacional de Craiova, dirigido por
Silviu Purcarete, encenou "Titus
Andronicus" em São Paulo, a tragédia de Shakespeare sangrava
igualmente com o momento histórico: havia dois anos, a Romênia assistia à execução do general
Nicolau Ceausescu, ponto final do
seu governo totalitário.
Do mesmo Leste Europeu, palco imemoriável de ódio, vingança
e genocídio, como registra a história desde o século 14, chega agora a montagem de "Caesar", criação do diretor croata Branko Brezovec -única atração internacional que estréia hoje no 9º Festival
de Teatro de Curitiba- inspirada
em duas tragédias do bardo inglês, "Júlio César" e "Rei Lear".
"São peças bem próximas da
realidade que estamos vivendo
nos Bálcãs", acredita Brezovec,
45. Ele dá um exemplo: a oscilação de Júlio César entre os regimes democrático e autocrático espelha o poder na nova/velha ordem mundial. "Com a diferença
de que os Júlio César que estão no
poder hoje não chegam aos pés da
força moral que o personagem de
Shakespeare emana."
O mosaico emerge do próprio
elenco. São quatro atores da Macedônia, dois da Eslovênia e outros dois da Croácia. Ou seja, as
três repúblicas que cortaram o
cordão umbilical com a ex-Iugoslávia, em 1991, são representadas
em "Caesar" sem resquícios de intolerância religiosa ou tensões nacionalistas.
Apesar da impregnação histórica, Brezovec dispensa o discurso
político e recusa-se a professar
mensagens. Interessa-lhe, antes, a
disponibilidade dos atores para
entreter e criar em cena. transitando com naturalidade entre a
tragédia, a comédia e a ironia.
Essa fluência na interpretação,
segundo o encenador croata, foi
uma das características que teria
despertado a atenção de Gerald
Thomas no ano passado, quando
encontraram-se em um festival
em Zagreb, capital da Croácia.
Outra preocupação de Brezovec
é ressalvar o que ele chama de
"multiculturalismo vertical",
oposição à massificação horizontal que nivela a cultura pela média
(de medíocre). "Há pelo menos
20 anos tenho trabalhado com artistas de várias minorias étnicas,
como os ciganos, os albaneses, os
turcos", explica.
O encenador não se conforma
com o desaparecimento, sobretudo na Europa, de pequenos rituais. Por isso, tenta balizar os
sentimentos arcaicos e modernos.
Além de Shakespeare, a peça incorpora textos do dramaturgo
alemão Bertolt Brecht, do esloveno Slavko Grum e de dois jovens
macedônios, Ognjen Georgievski
e Biljana Garvanlieva.
O jornalista Valmir Santos viaja a convite da
organização do festival
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